Assim por alto, falando sobre as divisões da problemática dos universos masculinos e femininos, sabemos que do ponto de vista interior as mulheres são complexas (para não dizer complicadinhas) e os homens são práticos (para não dizer básicos). E desde o berçário, na divisão solene das botinhas de lã cor de rosa e azul claro, definem logo que não há cá misturas.
Homem não chora, brinca com carrinhos e pistolas, faz de conta que faz a barba e fuma rolinhos de papel a imitar os mais velhos. A menina brinca com as bonecas, arriscam-se nos saltos altos da mãe, esborrata o batom na boquinha e bochechas adjacentes e consegue tudo com um olhar pestanudo e vozinha tremilicante. Isso pelo menos era o que se passava há uns anos atrás.
Não, não tenho problema algum com as actuais famílias, as que tem dois pais e duas mães, embora as questões dos saltos altos e de outras imitações terem o seu final anunciado. Até porque já não estereótipos, e se calhar por isso mesmo, o mundo tem mudado de dinâmica com tanta facilidade. Senão vejamos:
Toda mulher tem alguma pendenga com o próprio corpo; quem tem "bases" para afinar ou ajustar na ponta do bisturi as falhas inequívocas (nem que seja aos olhos de lince da própria) sorte delas, mas o resto das mortais tem que conviver com tudo. Há a amiga pegajosa e agarradinha à nós chamada celulite, ancas largas, que por mais dieta, fome e exercício está lá de pedra e cal, o pneu indelével na divisão diplomática do corpo, as estrias, as malditas, marcas de guerra entre uma e outra gravidez e marca geral do sucesso e insucesso nas dietas. Mas não fica por aí não, peito, pernas, pele, sardas, cor de cabelo, se a pele escama ou não... a tortura da depilação a cera. Porque raios a humanidade consegue levar uma sonda à Marte e não consegue fazer com que a depilação a cera não seja comparável a esfolar uma pessoa ainda em vida?? Mistérios...
Enfim, todo mundo encarava isso como a problemática do universo feminino, ficando então o homem apenas e tão somente com a escolha do tamanho do cabelo, o uso ou não da barba (mas não aquela de todo militante de esquerda ou do recém chegado ao mundo do metal que parecem barbas de milho flutuantes). A vida do homem era tão simples quanto que, andasse limpo, cheiroso e sem grandes exigências em termos de roupa. Tanto ficam bem com um fato e gravata quanto ficam com uma T-Shirt preta e umas calças de ganga... malvados.
Mas parece que isso era antes, dado que algumas pesquisas mostram que agora os senhores se debatem perante as suas insatisfações estéticas tal e qual as femininas. Segundo li, os homens de hoje estão com a mesma problemática que durante anos as mulheres passaram, do engorda/emagrece exigente pela estética da época. Não me parece nada do outro mundo que os homens sintam essa pressão brutal. Se as pessoas passam mais tempo em frente da T.V a verem os modelos estipulados pelas marcas do que é o corpo ideal ou a maneira ideal de viver a vida... está tudo tramado. Dos iogurtes ao creme de barbear, da roupa do carro ao perfume, o universo é feito de gente com corpos definidos e impecáveis.
Do tempo em que um António Fagundes era galã por charme, ou de um bigodudo Tom Selleck ou até um careca Telle Savalas... o universo masculino agora rodopia nos meninos imberbes cheirando a leite e com corpinho de iogurte. Botox em homem já não é novidade, e um Mickey Rouker que era um rapaz tão jeitoso no tempo do filme 9 semanas e meia... agora tem um rosto indefinido e assustador por conta das plásticas. Vocês, meus senhores, se não tem um pinguinha de coragem e amor próprio podem sentir-se intimidados pelos putos dos morangos ou o tipo jeitoso e canastrão da novela das 8 (seja de canal for) . E pelo que li na reportagem, o assunto começa cedo nas questões estéticas. Tirando o facto das modas e cortes de cabelos, a pressão da beleza saltou das revistas de moda, entrou de rompante pelo mundo da música e do cinema.
Antes, quando a gente ia ao cinema e dizia que aquele ou este actor era giro, ouvíamos o nosso acompanhante com ar desprezo dizer que esse tal actor era maricas ou drogado. Hoje, quando escutam a mesma coisa começam a fazer comparações e a pensar no ginásio e umas flexões. E só por aí é que vemos até que ponto as pessoas estão sendo pressionadas pelos meios de comunicação a mudarem de acordo com o que pede a economia ou as necessidades comerciais. Agora os homens contam calorias, medem abdominais e se pesam. E pior que tudo... cobram o mesmo de nós que adoramos gelados e estamos nas tintas para as calorias. Por motivos que só a genética explica e a falta de vontade de ir às consultas, não são bem contabilizados os casos de anorexia e bulimia no universo masculino, mas há. Eles, mesmo que não sejam atletas rapam o corpo todo, indo contra todas as antigas expectativas, dos tempos em que contabilizavam cada pelinho corporal surgido como uma prova de idade adulta... ou quase.
... e só para ajudar mais o assunto, agora até aquilo que devem ler e cultivar a mente é ditada pela TV, já que os grandes escritores são agora os que escrevem sobre as sombras cinzentas e agora este, que mal de mim, nunca ouvi falar mas que dizem ser o melhor. E estas alminhas depiladas, com cabelo a maneira, abdominais impecáveis, nunca leram um Umberto Eco, um Milan Kundera ou até um Jorge Amado... mas todos babam por uma Gabriela... o que a TV dita é o que prevalece.
... e muita razão tem o Jeremy Irons quando diz que o cinema de hoje é feito para adolescentes, mas me parece que o mundo só nos vê como crianças facilmente manipuláveis...
Apareçam
Rakel.
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