O Meu Inferno é Feito de Ponto Alto e Laçada



Para mim a casa, o lar, é aquele local acolhedor que nos dá conforto e segurança. Um lugar feito ao nosso gosto e possibilidades e que serve para nos sentirmos bem. No meu conceito de casa, é o local que me serve e não sou eu que sirvo ou me escravizo por ela. Por isso o conceito das casas japonesas me são tão atraentes: o minimalismo é a palavra de ordem e o cacareco e bibelô não faz parte do conceito. Simplicidade e conforto não significa atulhar uma casa de coisas.

Digamos então que em matéria de decoração não sou exigente e como eu e o meu filho mais novo não nos damos lá muito bem com os ácaros, quanto menos tralha para acumular pó, melhor. Talvez por isso mesmo tenho uma certa aversão (para não dizer raiva contida) pelo naperon e folhinhos nas estantes da despensa. Ou os 204 imãs colados no frigorífico, mais o famigerado galinho de Barcelos na cozinha, com aquele olho arregalado de zombi e com cara que vai para algum despacho na Sexta Feira.

Mas o naperon bate aos pontos em tudo que na decoração bacoca se diz respeito: é vê-lo em cima de móveis bonitos e com estilo, é vê-lo a fazer desenhos e arabescos de pó e cotão. Sem esquecer a jarrinha com flores de papel ou secas em cima desse paninho rendado. Obviamente não tiro o valor ao trabalho, porque sei que dá trabalho, porque já me obrigaram a fazer (lembram daquela merda chamada enxoval???) e ai de mim que desse uma laçada em falso num ponto alto!!!

Minha irmã preferida (e única de sangue) remodelou um móvel antigo e foi mostrando o passo a passo em fotos e achei o máximo. No resultado final e já no lugar destinado... vi a foto do móvel recém restaurado e um filho da mãe de um naperon por cima a tapar a beleza do móvel. Fiquei passada, mas justificável o argumento da minha irmã: ela é fadinha do lar, daquelas que limpa o que já está limpo e se deixar ela limpa até por dentro das lâmpadas... eu sai ao lado mais prático do assunto. E gostos são gostos e nada mais há a fazer.

Por uma certa tendencia ao kitsch e ao burlesco, ou com uma grande dose de masoquismo, fui ver aquilo que o mundo se dá ao trabalho de fazer com agulha e linhas de crochê. E o resultado foi deveras assustador... porque há quem faça da sua casa uma verdadeira colonia de ácaros e de um gosto pouco prático e duvidoso...


Que façam tapetes... ainda vá, mas capa pra tampa de sanita é no mínimo algo que escapa de todo ao meu conceito de casa... e vi foto com vaso com violetas em cima da tampa da sanita com a tal capinha e tudo. Imagine alguém na terrível aflição de usar a sanita e ter que tirar planta colocar em local que não caia e levantar tampa, escorregar no tapete nessa pressa...credo!

...mas não fica por aí não... Há quem se dê ao trabalho de fazer capas aos rolos de papel higiênico porque... sei lá, tem falta do que fazer. Só pode...



...isto supondo que há um móvel onde colocar tanto esta coisa como tal vasinho de violetas...

Mas a malta não fica satisfeita não, mas quem pensou isso...? Até se faz capas para as chávenas ficarem sempre quentinhas (sem contar que é mais uma coisa para lavar e sem outra utilidade que sujar) porque isto do frio é uma gaita...


A bem dizer, uma manta feita de restos de lã cumpre a sua utilidade, aquece e tapa, algumas são bem bonitas, mas pelo amor da santa... tampa de sanita e rolo de papel higiênico tem frio???

Embirro solenemente com estas coisas, embora respeite o facto de que cada qual gosta do que gosta, e aprecio os meus amigos que me percebem e não me presenteiam com coisas assim. Mas o mundo...

... ahhhh este mundinho filho da mãe e tão irónico...

Sabendo da minha aversão visceral pelo naperon e pela arte decorativa inútil resolveu trocar-me as voltas. Neste momento, e por uma questão de logística e desenrasque, estou a fazer meio tempo numa loja.... de artes decorativas e artesanato. Portanto, quando dei por mim estava a viver no meu próprio inferno.
Estou rodeada de naperons de cores berrantes, horríveis, muito cacareco sem jeito, saídas de praia feitas em lã (saída de praia e lã... há qualquer coisa que não combina) cor de laranja berrante, toalhinhas de chá, imãs de frigorífico e mais umas quantas coisas que me encaracolam o fígado.

Acreditando que forças universais superiores à mim queiram ensinar-me alguma coisa ou, em último caso, pretendem curar-me do mal da asma por meio de tratamento de choque (já que mais de 80% da minha asma é emocional), espero com impaciência o final desta minha prova de fogo para conhecer o resultado.

E se assim for, vou começar a detestar uma data de coisas para ver se a vida me coloca justamente isso na frente... um tipo de psicologia inversa. Hoje mesmo vou começar a odiar o Jonhnny Depp...   :)

Mas eu juro... no dia que adentrar pela loja uma reprodução do Menino da Lágrima feito em ponto cruz e um galo de Barcelo em crochê .... eu fecho o estaminé e entrego a chave!!!!

Apareçam

Rakel.

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