Caiu na mãos por assim dizer, um pequeno apontamento sobre os usos e costumes da nossa sociedade evoluída e mais concretamente do papel masculino. Antes de mais nada, e antes que comecem vozes graves a dizer que as mulheres são maledicentes, o estudo que li foi um apanhado de Freud e de Jacques Lacan, dois homens. Não tenho nada contra os homens, muito pelo contrario,mas vocês são estranhos e a vossa simplicidade é complexa e intrincada.
Logo de caras fiquei ciente do papel relevante das figuras do pai e mãe dentro da construção do ser humano. Coisa que já sabemos de ginjeira mas que irritantemente vamos esquecendo conforme a nossa memoria nos constrange. O saber milernarmente passado de pai pra filho de que a mulher com quem se casa é para respeitar,o alicerce máximo do lar e da família dista de longe do papel das amantes que um homem se permite ter.
Segundo Lacan, a maneira como o homem situa os sentimentos e a sensualidade, de maneira compartimentadas e distintas permite amar "até que a morte nos separe" a legítima esposa, mas deseje a mulher que facilmente lhe aquece as turbinas e que tem por amante. O facto de transgredir as regras, de entrar numa relação baseada apenas no prazer e descompromissada de qualquer sentimento ou vínculo, é por assim dizer, o pilar da vida onde se sustentam muitos homens. Por assim dizer, a grande parte do desejo e da atracção ficam fora do alcance da vida dum casal que resolvem levar uma vida a dois e com todos os preceitos sociais.
A Santa com quem estão casados, é aquela mulher respeitada, a mãe dos filhos, a dona da casa e a imagem central da família. Mas ela não preenche o lado sensual por completo,pelo que parece, as fantasias, os desejos e as necessidades ficam a cargo de outras mulheres: as que tal como eles são casadas mas resolvidas na sua sexualidade (e daí pergunto quantas delas não são vistas pelos seus legítimos como as Santas) ou as sem compromissos quaisquer, mas que tem confiança na sua sexualidade e não querem cá complicações de sentimentos.
Segundo o psicanalista Lacan, os homens procuram A Mulher que afinal... nunca vão encontrar, pois nem sabem ao certo que tipo de mulher procuram. O que explica muita coisa...
São corriqueiros e mais que conhecidos os homens que assumem o facto de terem a mulher em casa, a legítima e umas quantas por fora. Aliás, até aos finais do século XIX era de bom tom na alta sociedade um homem casar mas ter uma chusma de amantes. O papel da mulher poderia ser dois nesse caso: a mulher compreensiva e que fazia de conta que nada sabia, como podia também fazer de conta que era compreensiva mas fazia das suas com maior discrição.
Hoje em dia passa-se o mesmo, já que o papel da mulher dista do passivo e tomou de bom grado a chance de descobrir em outros aquilo que o seu legítimo relegou para a obrigação do Sábado. Porque o homem pensa mesmo que a trancada de Sábado colmata as necessidades mais prementes da legitima, esquecendo que a mulher é um todo. Emocional e físico, e não há coisa que mais detone uma relação do que o mecanismo que muitos colocam na cama.
Para os homens, por outro lado, o lado fálico é tão forte e tão único que apenas isso é o centro do seu universo. A necessidade de serem únicos nesse campo leva-os a tomarem de ponta (se me permitem a expressão) de cada vez que são questionados na pergunta incontornável: afinal... o que querem? A Santa ou a Pecadora? 2 em 1 não existe??
Isto tudo vem a propósito de muitas mulheres terem me dito que o homem com quem tinham casado eram os seus príncipes encantados, mas que agora tinham passado de fogosos à apaticos e que tudo era muito sem graça.
Depois de ter lido os psicanalistas entretidos no assunto e depois de ouvir estórias e muita tanga por aí a conclusão que chego é esta:
Para o universo masculino encontram-se milhentas justificações para procurar a mulher ideal, já tendo assegurada em casa a Santa intocável (e insatisfeita e a procura de um que lhe proporcione o que lhe é negado). E como diz Lacan numa frase que explica tudo: "Procuram objectos que não precisem amar, de modo a manter afastada a sensualidade dos objectos que amam." Ora, como não amam quem lhes proporciona o prazer e por outro lado não tem prazer com quem amam... os homens são uns coitados. A sério... vendo bem por este prisma, olhando com pragmatismo, os homens são seres incompletos e longe da perfeição. Bem podem dar como razão de tudo isso a necessidade de viver a vida em golfadas, ou que sua natureza lhe permite amar várias mulheres. A verdade... é que são seres incompletos e desprovidos da maior arma feminina: ser multi tarefas...
... e acreditem... não existem Príncipes...
...e me desculpem os senhores, mas por muito distante que uma mulher se coloque há sempre um fundo emocional adicionado ao lado físico. Isso é inegável.
Apareçam
Rakel.
"Cum catano", século XIX...
ResponderEliminarE quando, "sem querer", procuram o objecto que precisam de amar de modo a manterem aproximada a sensualidade do objecto que amam e amam quem lhe proporciona o prazer e têm prazer com quem amam!
É aqui que se transformam em Principes...reais, não é? E o Amor acontece e ficam com o mundo ao contrário, porque reconditas exigências fálicas...olha afinal, também são emotivas! (Até que um sábado ameaçador de pontuais trancadas não se instale...:)
Pois é, todos diferentes, às vezes alguns parecidos;
outros nem tanto e navegam pelos tempos, dos seus pirilaus...tão somente!
Gosto de principes...reais!
Século XIX ou XXI... tanto faz que era e motivação: aquilo que se sabe é aquilo que se conhece. Como bem sublinhei no começo do post o estudo é de Freud, o pai da psicanálise e de outro grande no assunto, Jacques Lacan. O estudo todo é só por si soberbo em análise, e foca um determinado tipo de homem ou de vivência masculina.
ResponderEliminarE se queres que te diga com franqueza cada mulher vê o seu príncipe a sua maneira... e já se mostrou na fábula que um Shrek consegue ser mais príncipe do que muita carinha laroca que anda prai apaixonado por si mesmo.
:)
Rakel
Boa noite,
ResponderEliminarInteressante e flagrante estudo, e independentemente de cada um e do seu tipo,
talvez sejamos, no geral, menos emocionais sim... mas háverá maior prazer na vida que amar quem se ama?
Miocárdio... permite-me discordar. Não acho que os homens sejam menos emotivos, acho que aprenderam a camuflar melhor e esconder melhor aquilo que sentem... como forma de proteção. Acho que o saber não deixar transparecer o que sentem dá uma certo auto-controle da situação e permite sair de cabeça erguida de muitas situações. Por outro lado, concordo contigo...acho que não há prazer maior do que amar quem se ama e saber-se amado da mesma forma... aí ainda maior se torna o prazer. :)
ResponderEliminarBjo e te cuida
Rakel...concordo com a discordância...porque, claro que o sentido da minha observação para "menos emotivos", era só mesmo nas demonstrações e até nisso, nem sempre ...ou não me chamasse eu ... Miocárdio :)
ResponderEliminarA tua última frase é ainda mais completa que a minha..."amar quem se ama e saber-se amado da mesma forma".
Boa Noite Rakel
:)
ResponderEliminarMiocárdio, embora as atitudes falem mais do que as demonstrações....há gestos que fazem falta e que se perdem no meio de tantas defesas e imagens a seguir.E a sempre o meio termo entre a lapa que não desgruda e a atitude muçulmana que faz o homem andar a frente da mulher e nem olhar para trás.
...e perde-se imensas coisas pelo meio com tanta contenção...
um bom fim de semana pra ti