A Lei do Mais Forte? O Desengano da Superioridade




Muitas vezes me pergunto no que se passa na cabeça de muitas pessoas, as suas motivações e as formas que encontram de enquadramento na vida. De facto, quanto mais o tempo passa, quanto mais vejo as diversas formas de auto- destruição que, veladamente mas firmemente singram por aí, mais vontade me dá de ver o meu sonho de consumo realizado. Pois, aquela coisa que muita gente diz ser uma parvoíce, de ter uma casinha lá no Alentejo profundo, no meio de nenhures, com espaço para as minhas actividades agrícolas e para a bicharada. Cães, gatos, passarada e mais que houver. Ok, ligação à Internet para não morrer na ignorância, mas tudo alimentado a energia eólica e solar.

Cansa-me as meninges, tortura-me o pensamento a quantidade de cavalices e anormalidades que são capazes de fazer em nome de... sei lá, qual desculpa se dá para violência? Uma retribuição do que já se recebeu? Essa é pelo menos a desculpa de quem a sofreu na pele, e justifica actos que como hábitos adquiridos. Violência em nome de ideologias, lutando com o que tem a mão em nome da justiça de poder ser o que quer. Violência religiosa... que impõe usos, costumes e condutas, mas esquecendo a palavra misericórdia, perdão e acima de tudo, o "não matarás. A humanidade é violenta, desde o berço, desde o tempo do porrete, da caverna e quando mal ainda andava erecto, ou na versão mais folclórica, desde que Caim matou Abel, a humanidade tem um lado podre enorme.

Acho que não há viv'alma que não conheça a história do Sparky, o cão que foi acorrentado a um carro e arrastado pelas ruas. Que nome se dá à um ser desde calibre, que encontra diversão de uma maneira tão... abjecta?? Doente? Desocupado mental?? É verdade que, para cada cretino que tortura animais existe no mundo uma alma boa que vê nos animais a forma mais perfeita de existência. Tenho uma colega que anda com um saco de ração dentro do carro e alimenta, até chegar a casa, uma data de animais na rua. A casa dela é um verdadeiro zoológico, tudo recolhido das ruas.
Mas dá o que pensar nas motivações que levam uma pessoa torturar de forma obscena uma animal. Cada vez que penso nisso, agarro no meu gato mimalhado e cubro-o de mimos... e ele nãos e faz de rogado, claro... mas, dá-me impressão. Mas felizmente, agora o Sparky encontrou uma família que o trata como merece... e a qualquer outro animal.



Violência doméstica subiu em flecha nos últimos 10 anos, mortes por dia são gritantes, e bem podem culpar a crise, a bebida e a droga, no âmago disto tudo há sempre a mesma ambivalência: um covarde anormal, que não aceita a realidade tal como é e descarrega naquela que deveria ser a sua companheira de uma vida e a irrealidade dos meios. Porque muitas vezes, só mesmo nas últimas e depois de várias idas à uma esquadra apresentando queixa, é que as coisas andam. Medo de mais violência, medo de perder o emprego (as casas de acolhimento ficam fora da zona de residencia por óbvios motivos), medo de não saber o que fazer com a vida levam à que muitas vezes, todos os esforços da APAV não sejam suficientes, apesar do meritório trabalho que desenvolvem.
Não pensem que isso isola apenas as mulheres, não, há as crianças, sujeitas à todo tipo de violências, de arbitrariedades não só dos pais, mas também do sistema. Alunos que desmaiam nas aulas por falta de alimentação já não é novidade, pais desempregados e sem subsídios é o que mais se vê. Culpa? Do Estado? Da falta de espinha dorsal de todos os que mandam? De banqueiros celerados que dizem que o povo aguenta mais crise? Ou será de nós mesmo que aceitamos o papel de vítima sem fazer mais nada senão cartazes e palavras de ordem? De uma falta que fazer enorme e uma frustração pessoal gigantesca?


Religião, o ponto forte da violência, desde os tempos dos sacrifícios de humanos e animais até à palavra de deus, seja ela de que vertente for. Israel e Palestina é assunto com barba e bengala, usar ou não véu, expulsar da igreja pelo gosto estético do padre (ou da sua mente perversa e frustrada), ter ou não ter símbolos religiosos nas salas de aula, agora a pressão de grupos religiosos intensificam-se às escolhas sexuais. Se esta nova lei do Uganda passar, se entrar em vigor a pena de morte para os homossexuais,  então realmente a religião é uma latrina. Esqueçam o perdão, o amai o próximo, a ver a pessoa honesta, íntegra e bom cidadão. Aquilo que realmente pesa na balança é a sua linha de conduta sexual. Portanto, sem problemas nenhuns em sado-maso e todas as vertentes hardcore do sexo (se é que isto é errado). O que é mesmo condenável é ser gay. Hitler, lá do outro lado, deve andar partido de tanto rir ao ver que ele, mesmo com as suas alarvidades, até foi um anjinho perante esta humanidade do novo século.

Abazurdidos estão os portugueses com esta mania que agora deu ao tempo... de fazer tornados neste pacato canto do mundo. Estarão muito mais ainda todos aqueles que vêem a cada ano, a maneira como a qual a natureza revida as agressões que sofre. Esquecem-se que o planeta é um imenso organismo vivo, que quanto mais o atacam, mais cedo ou mais tarde ele há de rebelar. São as leis imutáveis do universo de acção e reacção. Da mesma forma esquecem as múltiplas maneiras que a vida tem de dar aquelas coisinhas menos boas aos que, descuidadamente semeiam patifarias... ainda perguntam porquê de tamanha desdita aos azares...

Entre tantas opções possíveis para a humanidade, ainda me pergunto porque raios tanta gente deixe que a escolha recaia, na maior parte dos casos, pelo lado podre e absurdo da vida. E custa-me mais ainda, para o meu lado espiritual, entender o motivo pelo qual tanta gente escolha somente a parte abusiva e covarde da vida. Porque mesmo que haja um fundo, uma missão maior, custa-me imensamente entender isto tudo. E espero bem que todas as razões sejam mesmo muito boas.

Porque ser superior não fica limitado ao facto de ser mais forte em arrear porrada no mais fraco, nem na diversão nojenta de torturar animais, mas no facto sim, de saber respeitar a vida no seu todo. E muito me deixa desgostosa o facto de que o perdão e a misericórdia tenham sido excluídos da vida religiosa, moral e social da mesma forma que a vaca e o burro foram despejados do presépio pelo Papa...


Apareçam

Rakel.

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