...Só Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores...



Ando de novo embrenhada os livros, música e filmes; sinceramente torra-me a molécula o constante falar que está tudo de mal a pior, que o cenário está mesmo negro e que não se vê perspectiva de melhoras. É um facto contra o qual não há argumento que valha. Estamos na tanga, na verdadeira contagem decrescente para ficarmos todos sem casa, vendidos aos países que podem nos comprar e sem outro recurso senão deixar o país entregue aos idosos, aos políticos e aos mortos. Por muito macabra que seja esta visão do possível futuro do país, não nos deixa outra opção senão ver que as coisas estão mesmo mal. Eu sei, você que me lê também sabe...e fica-se por aí mesmo.

Portanto cansei, cansei de ver aquela cena tipo briga de bate boca "me segura senão vou-me à ele e eu fico todo negro" que fica só nisso mesmo. Arreganha-se a dentuça, rosna-se, mostramos que somos muitos e que viramos fotos ao contrário, colocamos bandeiras com laços negros...e os políticos estão nas tintas e continuam a nos carregar. Riem-se uns dos outros, na cara dura, cagando-se nas coligações e na solidariedade partidária.

Hoje sabemos que as forças de segurança estão na penúria, estão a viver mal, cheios de dívidas e com o espectro da fome rondando as suas vidas....como a de milhares de portugueses comuns. Ter pena deles é como ter pena de qualquer outra pessoa que respira e vive, apenas o emprego é diferente, mas as necessidades são iguais a de qualquer mortal.

Dizem as notícias, que a economia paralela cresceu mais do que o esperado.... e não me admira nada. Dada a crescente exigência para qualquer negócio, com um IVA escandalosamente alto, com um custo de vida absurdamente alto... como não cresceria o mercado paralelo?

Sei que muita gente se indignou ao saber que os downloads P2P estão liberados aqui na terra de Camões. Já aqui falei antes dessa história triste que é ser músico ou escritor, que não é esse mar de rosas glamouroso que se julga. As editoras discográficas ou as editoras ficam com a fatia maior, perto de 80% do que se arrecada com as vendas, e já nessa altura eu dizia que os artistas ganhavam algum mais era nos concertos, porque nas vendas não dá. E foi preciso que o melhor guitarrista português dissesse isso, numa entrevista sem papas na língua no Blitz. Quem realmente reclama dos downloads na net são as grandes empresas, aquelas que ficam com a fatia maior no bolo. Elas, editoras e produtoras, estão-se nas tintas para o poder de compra.

Olha, sinceramente não me pesa a consciência copiar um filme que, na primeira semana de exibição, a bilheteira arrecadada não só cobre as despesas TODAS como ainda por cima faz lucro. Deveria ser o mote para que as editoras fossem menos gananciosas e baixassem o preço dos DVDs. Mas não, e o que justamente não percebo é quando passado um ano, o DVD passa para 1,99€ em qualquer quiosque de jornais e revistas.  Expliquem-me isso se faz favor.

Que o meu poder de compra foi pras urtigas, não há dúvida nenhuma. Longe vão os tempos que eu saía da FNAC com o saco carregadinho de CDs, e sem compreender porque os Cds do preço verde (mais baratos em perto de 10€) eram iguais aos do escaparate normal e com os preços de mercado... mistérios do catano.  De cada vez que saía de lá carregada de livros e CDs havia sempre na saída um solícito segurança que perdia imenso tempo a conferir tudo. Bons tempos que julgo nunca mais vê-los. A actual economia nem sequer me permite ir à um concerto de algum músico que admire... não dá, é impossível.

Economia paralela, contrabando, venda de material roubado, roubos e insegurança faz do povo o que se vê agora: um mistura explosiva de descontentamento e sem saída. Da parte dos que nos governam um medo controlado a portões fechados, de alguma bravata e falta de vergonha na cara.
E tenho que explicar aos meus filhos, que este é um mundo de adultos, daqueles que deveriam tomar a responsabilidade que assumem a sério. Aquela que exijo deles e que me esforço para dar o exemplo, mesmo na maior dificuldade. Mas não me pesa mesmo nada na consciência puxar um filme ou uma música nova... pelo menos da minha parte contribuo com menos uma linha de cocaína nas ventas de um destravado mental, de um pobre menino ou menina que ganhou fama e se sente infeliz por ter sucesso e fortuna. Haja saco...

Apareçam

Rakel.

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