Mães



Graças aos céus e a uma boa dose de coragem , o papel da mulher deixou de ser apenas cumulativo do núcleo familiar e passou a ser mais activo. Embora socialmente há coisas que ainda estão por melhorar, as mulheres pegaram no seu papel de agentes e fazem o que podem.

Desde o tempo das guerras gregas, em que as mulheres fizeram greve de sexo contra esse exercício de poder masculino, descobriram que  podem muito. Desde que queiram fazer uso disso mesmo. A história do sexo fraco caiu por terra faz tempo, a mulher espartilhada que desmaiava por dá cá aquela palha também, assim  como a parideira incessante ou o saco de pancada. A pouco e pouco, mesmo em países do 3º mundo e com tradições fortemente agarradas ao credo religioso, as barreiras tem sido ultrapassadas... embora continue a existir arbitrariedades.

Variam de uma paciência infinita ao pavio mais curto, mas para a maior parte delas, os filhos e filhas são o seu maior bem. Amores e homens na vida, entram e saem, mas o papel de mãe é algo visceral e pra toda vida. Não há maneira de contornar: olhamos pra eles, altos e espadaúdos, de barba rija na cara ou mulheres feitas e independentes... mas são sempre aos nossos olhos os nossos bebés. E não coisa que irrite mais um adolescente em plena fase de pelo na cara do que a beijocação e os nomes carinhosos com que presenteamos os nossos rebentos... somos umas chatas inconvenientes, é verdade.

Mas mãe é mãe e tou-me nas tintas do dia estipulado pra comemorar e fazer ode às mulheres e mães... nós somos o máximo!! E d ecada vez que vejo, leio ou ouço uma reacção de uma ou várias mulheres contra os abusos e as lambanças nojentas de quem manda, levanto-me e aplaudo.
Os nossos filhos merecem o melhor, e dentro das nossas possibilidades, fazemos o que podemos por eles e elas. Tem dias que pensamos que ainda não fizemos o bastante por eles, que os esforços não chegam para que eles sejam felizes e com uma boa bagagem para levar em frente uma vida digna de cidadãos. E lá está, no momento que alguém pensa em tirar o bem estar das nossas crias, rosnas-se e atira-se com aquilo que tiver a mão.

Por isso achei interessante a última "guerra" que surgiu em Espanha e chamada de "Guerra dos Tupperwares" já que o objecto em questão, uma caixa dessas, foi arremessada por uma mãe indignada ao saber que, mesmo que os filhos levem o almoço de casa, será cobrada uma taxa de 4 euros diários pelo uso do refeitório... proposta que faz saltar a tampa de qualquer pessoa, passe a expressão. Façam lá as contas e vejam o absurdo que é...

Uma mãe passa-se dos carretos quando sabe que, pra dar aos filhos e filhas aquilo que é básico que todo ser humano merece, exigem mais do que a dignidade permite. Com uma taxa de desemprego ultrapassa os 24,5% , praí uns 5,6 milhões de pessoas sem trabalho, pedir essa quantia para que os filhos não comam na rua é no mínimo abjeta. De um impulso feito de revolta começou a aparecer um movimento a favor das reais necessidades de uma sociedade em crise económica.

Mas, um bocado mais longe não só no espaço físico como também da memória colectiva, estão as mães que lá na Argentina pediram explicações ao Governo de onde estavam os seus filhos desaparecidos durante as sucessivas Ditaduras. Mãe é mãe, aceita as escolhas dos filhos, mesmo que muitas vezes não concorde com essas mesmas escolhas. Mas toda e cada uma guarda dentro de si um orgulho imenso de todas as coisas que seus filhos fazem. E mesmo aqueles que, por escolhas menos acertadas ou... sabe-se lá porque, escolheram caminhos tortuosos e se perderam como pessoas não perderam o seu lugar. Até essas conseguem, mesmo com a tristeza encafuada lá dentro, vê-lo como sempre foram:  filhos.
As Mães da Praça de Maio foi um acto corajoso e frontal de mães que saíram à rua e pedirem explicações... virou uma associação que ainda se debate com os problemas do pós ditadura. Há bem pouco tempo o povo saiu às ruas na Argentina do mesmo modo que essas mães saíram anos antes: batendo panelas e pedindo justiça ao Estado. Serviram de exemplo como toda figura materna ou materna deveria fazer... dando exemplo de coragem contra as violações dos seus direitos, mas lembrando também que há deveres a cumprir.

Pode não ser uma maneira muito glamourosa de se fazer protesto, se máscaras ou atirando pedras. Mas garra não falta as mães que exigem condições dignas, justiça e igualdade. E por muito piroso que venha a ser, os nossos filhos são o futuro e para eles fazemos o que estiver ao nosso alcance.

Das mulheres gregas às sufragistas, sem esquecer as que lutaram por direitos iguais no trabalho e morreram por isso, as que se notabilizaram nas ciências e voaram no espaço. As que de tachos na mão e de uma simplicidade de mulher, pedem os seus filhos de volta. As que todos os dias são mães dos filhos que outras não quiseram...

... nós somos fantásticas não é?  :)

Apareçam

Rakel.

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