Com Boas Intenções O Inferno Está Sem Vagas ou Como Matar Uma Relação




Minhas senhoras, donzelas (isto ainda existe??), cavalheiros e mancebos... isto é sério; embora o tom possa vir a descambar um bocado... no fundo, no fundo, há uma grande verdade: temos que conhecer e reconhecer tanto as nossas falhas como a necessidade enfrentar o assunto. Deambulando por este mundinho e ouvindo trinta por uma linha, decidi escrever um pouquinho sobre o tema... a verdade é que as relações entre homens e mulheres é uma complicação do catano. E não deveria ser.

Cometem-se verdadeiros assassinatos nas relações por uma série de motivos, que mais uma vez esclareço que se baseiam em opiniões muito pessoais, mas motivos esses evidentes no dia a dia.

Por exemplo, outro dia passando na rua com a minha colega aqui do blog (ela esta viva e de saúde, sem tempo como sempre) ouvimos um casalito saindo da mesa da esplanada, já dando as mãos romanticamente, quando ela solta um " Amor... estás tão calado!!" com aquela vozinha preocupada e já a magicar mil e uma coisas. Minhas senhoras, isto não sou eu que vos digo, mas sim um homem com muita piada a explicar a diferença dos cérebros masculinos e femininos, os homens tem uma caixinha do nada. Na caixinha do nada cerebral existe apenas... nada mesmo. É aquele refúgio temporário, mais ou menos como aquela epilepsia de ausência, onde a pessoa se refugia por minutos do mundo circundante e não pensa em absolutamente nada. Mas é nada mesmo.



Desgraçado do homem que diga que estava calado por nada ou que não estava a pensar em nada; há mulheres que tomam isso a peito e já produzem, dirigem e cortam um filme com roteiro feito por elas mesmas onde o homem está a pensar em besteirada ou a pensar em fazer besteirada. E na verdade, este pobre está mesmo em hiato mental, dentro da caixinha do nada. Embora não hajam muitos estudos a respeito do assunto, há também mulheres que se refugiam na caixinha do nada, são aqueles minutos em que ela está tão somente alheia da louça por lavar, o lixo por despejar, a roupa pra tirar da corda e a magicar o que há de ser o jantar. Toda gente sabe que mulher arranja sempre algum assunto pra falar e podem surgir sérias dúvidas na mente masculina quando se deparam com uma mulher que gosta de visitar a sua caixinha mental do nada.

Outro exemplo muito interessante, e aqui abro um parêntesis, é que as esplanadas são um bom local de estudo da fauna e flora humana... continuando, ontem na esplanada, sentadinha num puff e a beber uma cervejinha, vi uma miúda de uns dezoito anos apropriar-se do telemóvel do namorado. Ele, distraído a tirar o dinheiro da carteira pra pagar a conta nem deu pelo sucedido... até ela perguntar: "Quem é esta Sónia que encheu a tua caixa de mensagens???!!" isto num tom pra lá de ameaçador e de testa enrugada. O rapaz, na maior das calmas respondeu que era a prima dele e que ela conhecia muito bem...a menina não se deu por satisfeita e saíram ambos de cara amarrada.

Os dois casos acima citados fazem parte do grave defeito da Desconfiança ou melhor ainda, a falta de confiança com quem está relacionado. A falta de confiança no parceiro para já leva à uma extrema falta de respeito e de dignidade. Para ambos os casos, porque Los Há entre a prole masculina, os que fazem filmes por dá cá uma palha. Falta de confiança no parceiro como em si mesmos. Há um notar de longe da insegurança do par que nos leva a tomar decisões parvas, como por exemplo, cedências. A cedência para agradar ao próximo não só é algo artificial (uma pessoa cede a maior parte das vezes para manter o ambiente calmo) embora não faça parte da sua natureza mudar o seu comportamento. Muito menos obrigatoriamente para aliviar o ambiente. Porque quem não tem confiança em si mesmo não consegue aceitar de todo, completamente, o seu par.

Não são raros os casos de pessoas que deixam de falar com os amigos por imposição (e de uma brutal falta de confiança em si mesmos) do homem ou mulher com quem vive um pseudo idílio amoroso. Ele ou ela exigem que deixem de falar com "certos" amigos, com as/os ex, cercam de forma brutal os movimentos e sufocam tudo com aquela frase batida do "Se me amas mesmo... tu fazes isso por mim" ou melhor ainda "Em nome do nosso amor". Já dizia a minha avó, que quem não confia não é de se confiar, portanto há uma data de patas metidas nas poças em nome do amor. Um porque exige (e acho, cá com os meus botões, que no amor não se exige) e o outro porque cede em nome... de uma paz aparente.  E pior... imaginem como fica a cabeça de uma pessoa, quando de uma hora hora pra outra um amigo/a deixa de falar com elas... e nem sabe o motivo disso. É tão estúpido ceder nisso como exigir... mas enfim, chamam isso de "investimento na relação". Ok, enganem-se até aonde conseguirem. Isso tem outro nome.

Não há de ficar longe a fase do interrogatório: onde esteve, com quem esteve, o que falaram, o que comeram, quantas bebidas tomaram, aonde vai amanhã, com quem vai, que roupa vai levar, quanto tempo vai demorar, porque não respondeu as sms que mandou de 5 em 5 minutos... e se pensou nele ou nela. Eu só de escrever isto já me irritaram as neurónias. Fazer um interrogatório exaustivo do dia de uma pessoa não é interesse no seu bem estar, mas sim uma fome absurda de controle. Aquela coisinha besta de: se eu controlar tudo ao milimetro... ele ou ela não faz besteira. Há quem se veja obrigado (e nem sei porque) a atender todas as chamadas e sms que o telemóvel trina toda hora. Escravizado pela necessidade de se fazer perceber vivo e de saúde, não dá margem de explicação dizer que não atendeu porque estava no duche. Mesmo que realmente estivesse no duche provavelmente iriam perguntar por que raio estava no duche nessa hora. Porque tem hora pro duche estipulado por não sei quem.. e desgraçado daquele/a que não se rege pelas normas certificadas. A falta de confiança em si mesmo e no par levam à isso tudo aí. Em cada passo e decisão que se toma há sempre um segunda intenção velada, algo de mirabolante e pra lá de infantil.

É cansativo, desmoralizante e altamente castrador viver nessa constante pertubação do mundinho particular. Há praí uma amnésia militante, onde apenas se sente que é dever do par esquecer por completo as suas vivências e relações anteriores. É absurdo fazer de conta que antes de ele ou ela aparecerem, o seu par vivia num ovo a espera que ele e ela surgisse, fazendo desvalorizar o papel de todas as pessoas que passaram pela vida de ambos. As ex namoradas, os ex maridos e amantes... tudo fica a zero com o surgimento desta engalada criatura (cheia de medos, com tara por controle) que nem sabe se passado um par de meses se tornará num/a próximo/a EX.

É que não há quem aguente tamanha marcação, regulação e controle. De cada exigência que redunda em cedência é uma facada a mais no relacionamento. Saber-se indigno de confiança do par é como se não fossemos bastantes, suficientes para sermos amados. E denota uma tremenda falta de respeito.

....e depois ainda se sentem perdidos e tristes quando levam um pé nos fundilhos ou um par de chavelhos...quando investiram taaaanto nesse relacionamento...


Apareçam

Rakel.

TO BE CONTINUE...


Comentários

  1. ..."As pessoas não se precisam, elas se completam... não por serem metades, mas por serem inteiras..."
    .....................................
    ..."O segredo é não correr atrás das borboletas...
    É cuidar do jardim para que elas venham até você."
    .....................................
    ..."No final das contas, você vai achar
    não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!"...(M Quintana)

    E assim...é maturo...é forte...é bom.

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  2. Absolutamente genial, esta cínica dissertação.






    Fazes-me lembrar alguém :)

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  3. Olá Corvo.... hummmm, cínica não direi, mas um tantinho sarcástica não nego. Há coisa que me fazem cócegas às meninges...

    ...e quem gosta de observar estes cotidianos pode sempre cair um bocado pra cada lado, entre o cinismo ou o sarcasmo... :)

    bjo

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  4. Miocárdio...há quanto tempo né???

    Acho que muita gente complica mais do que deve as coisas, sejam nos sentimentos quanto na vida prática. E sem querer aqui acabar por plagiar o Corvo.... muita gente deveria primeiro conhecer-se a si mesmo antes de tentar decifrar os outros. É que muitas vezes preferimos nos iludir do que encarar as nossas próprias falhas, fraquezas e forças. E como ninguém se completa a si mesmo dessa forma, desconhecendo-se, procura alguém que preencha essa vaga. E acaba dando mal né??

    Bjo

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  5. Considero o ser humano um ser tão perfeito também do imperfeito, e juntar a isto...amar...tão imenso e nobre sentimento...é complexo...
    (digo-o de dentro do meu sentir ou não me chamasse eu "miocárdio"...)

    Por isso independentemente de cada particulariedade em cada um, uns mais desconfiados (com ou sem razão), outros inseguros, outros....outros, etc...sabemos com o tempo, que só a nós vem e fica, o que é de nós, e assim ou somos muito felizes com quem quer ficar...ou nos dói horrores quem nos foge ao nosso querer...

    E não adianta mais nada...é na liberdade do querer...que quero quem me queira! E nunca por controle!

    Então é isso Rakel..."temos de nos bastar"...e sempre amar sem medo!!O resto revela-se.

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  6. Miocárdio... o quero quem me queira não é algo aceitável. Se for na óptica que me alcança... significa que, limito-me a deixar que alguém que me ame entre na minha vida e se estabeleça....mesmo que eu não sinta outra coisa que não seja amizade? Isso é conformismo. Bem dizes que amar não é fácil e os temperamentos são sempre um quebra cabeça bicudo. Mas o mais importante ao meu ver, se me permites, é não construir modelos, idealizações e aceitar que aquele ou aquela é como é. Aceitar isso ou não é escolha nossa. Feita a escolha há que aceitar que nem sempre será fácil e que embora os alicerces cardíacos balancem.... que valha a pena. Lucidamente e sem fantasias... porque revelações temos nós todos os dias... até de nós mesmos. Não é??

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  7. Claro que sim Rakel.
    ...dito conforme o escrevi ...este "quero quem me queira" talvez seja interpretado conforme disseste, mas o sentido que lhe quis dar não era esse, jamais!
    Queria dizer que não é por todos aqueles controles, e interrogações, que descreveste e bem no post, que "temos" quem queremos..só "temos", realmente, quem nos quer também, por isso eu disse, "quero quem me queira" na liberdade de querer, não por imposições.

    Amar sem medo é amar exactamente como se é... como o outro é...com a verdade de nós mesmos...na liberdade de sermos no nosso todo.
    Boa noite

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  8. Miocárdio...tal tipo de amor é tão raro e muitas vezes tão efêmero, que parece o ideal só no papel. Sabe que o ser humano nunca se dá por satisfeito, nunca se sente bem e completo com aquilo que tem. Justamente, quando tudo está bem e completo, nessa aceitação mútua sem exigências e tal... dá-se que começam a surgir o inicio da necessidade de fazer do bom ainda melhor. E vou ser franca, É mais incomum alguém que seja 100% honesto na sua postura quando apaixonado... que só por isso vou fazer um post, dedicado à ti e aos rituais de enamoramento, que vais ter que me dar o desconto da liberdade de expressão...ok?

    bjo

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  9. "desconto da liberdade de expressão"?!...
    Ora, se é com "essa" e outras "tais liberdades" que mais nos revelamos, venha daí o post..."solto" (vou ler agora atentamente).

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