Sabem quando no momento menos oportuno acontece uma situação que nos faz cair a ficha cá dentro da caixa dos pirolitos?? Algo de inusitado do nosso ponto de vista mundano e pouco coerente, embora a gente saiba de ginjeira que a vida caminha sempre pro mesmo lado: o fim inevitável.
O X do assunto é a nossa tendência habitual para o adiamento, isso só vai acontecer daqui uns tempos, quando eu for muito/a velho/a, que ainda há tempo. Não pensamos nessas coisitas chatas como será o nosso sair de cena, até porque a gente pensa que tudo será com uma certa graciosidade, mas naquele futuro bem distante...
E aí, num dia como qualquer outro, morre uma pessoa de uma maneira inesperada, jovem demais, com imensas coisas ainda por fazer e nos deixa assim pro lado do abestado.
Cai a ficha de que somos mortais, que nada é garantido e que viver deve ser levado a sério (no sentido de dar valor) e tentar ter em mente das poucas garantias que temos do futuro. Não é que eu seja fatalista, mas dá-se pouco valor ao hoje. Acho que já gastei o meu latim aqui a falar disso mesmo. Adia-se tudo, dão-se prazos aos nossos planos como se tudo fosse assim tão simples. E não é.
Daí que, depois do falecimento de uma jovem aqui na cidade, usando a caminhada como forma não só de ir perdendo umas calorias ( com o mesmo afinco que a gente come algum pecadilho calórico, depois suamos as estopinhas em abate-las) e fazendo gerencia deste assunto bicudo do que é largar o corpo físico e morrer fisicamente, deu-se pra se falar no que se desejava como o "fechar o livro".
A Stela, pragmática como sempre se pontuou, disse-nos que "não quero padres, missas e essas coisas, quero tudo simples. O que puder ser doado em órgãos que aproveitem, o que sobrar é pra cremar."
A Fátima, que mais de perto acompanhou a situação, disse logo que queria o mesmo, e em jeito de aliviar o ambiente, disse que também queria ser cremada. "Porque se é pra ser comida, que fosse em vida e não depois de morta!" :)
Eu... já deixei aqui publicamente e pra quem quiser ler, o que quero no meu adeus aqui deste mundo, o que pra muita gente se traduziu num momento tétrico e de mau gosto. Mas a D. Morte não é conveniente como todas as outras realidades que fazem parte da vida.
Mas isto tudo só reforça mais ainda uma forma de vida que adoptei depois de discorrer bastante sobre a brevidade da vida. Dar valor ao tempo e principalmente ter em conta a minha mortalidade. Parece algo pra lá de cinzento e chato, mas não é.
Vendo bem, porque hei de perder tempo discutindo com uma pessoa que claramente não sabe do que fala e que mais tarde, sem que sejam precisos milagres, acabe por ver que errou? Os braços de ferro e discussões acaloradas são pura perda de tempo. Porque vou perder 5 preciosos minutos com alguém que não vale a ponta de um corno?
Da mesma forma, porque terei eu de me deixar escravizar por "coisas" que não me acrescentam nada na vida, que não me fazem rir e nem me dão qualquer benefício? A crise ensinou-me demais, esta que ainda vamos a meio mesmo contrariando todas as espectativas de retoma. Ensinou-me que vivo bem e feliz com menos do que tinha, que o meu engenho floresceu ainda mais e que não perdi o sentido de humor. Meus filhos aprenderam a tomar mais opções de vida, enxergaram que a vida não é fácil e que todos temos que fazer alguns sacrifícios para alcançar algo. E dá-lhes gosto a luta. E me sinto com aquele orgulho bom de ver que eles já pensam melhor antes de tomar uma decisão.
Tomei as minhas escolhas em benefício próprio e não pra agradar ninguém, as caminhadas, a alimentação mais regrada (e a mea culpa de ontem por meia barra de chocolate vai passar), largar os medicamentos que me diziam que me dariam bem estar pro RESTO DA VIDA e que me estava a dar cabo do fígado. Durmo como uma pedra, divirto-me, aprecio cada vez mais as conversas com os meus filhotes (e logo, logo hão de deixar o ninho) e valorizo cada vez mais os amigos. Aqueles que marcam presença de forma constante e sem interesses dúbios. O resto passou pra categoria dos "conhecidos" sem alarde nem dramas.
Até porque não posso perder tempo, esses minutos preciosos, com pessoas e situações que não valem a pena. Nisso, tomei como regra: só me dedico as coisas e pessoas que valem mesmo a pena.
Porque tudo é uma questão de tempo, o que se faz volta, o que se deseja acontece (e nem sempre é exactamente aquilo que se espera) e nada é permanente... um dia acaba. E se for pra acabar, que seja bem e em beleza e graça.
... e o resto é resto e não se fala mais nisso.
Apareçam
Rakel.
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