Sei Lá...




Eu até poderia começar a tecer uns comentários jocosos sobre o Euro 2012 e as bolas na trave do CR e dos nervos e gritaria que pululam as esplanadas e qualquer nicho onde esteja uma tela, com uns copos e salgadinhos. Até desencantaram o raio das vuvuzelas, ecoando na noite como se adivinhasse uma guerra tribal qualquer.

Até poderia começar a falar deste Verão meio impostor, que hora dá o ar da sua graça como depois faz-nos procurar onde raios estão os casacos, os sapatos fechados. Recuso-me a usar sandálias e depois sentir os pés a congelar, não há vaidade que encaixe em calendário sazonal e que me convença. Se tiver que usar botas, uso e tou-me nas tintas.

Poderia falar desse inferno televisivo de novelas recicladas made in Globo, que há uns bons 30 anos atrás fizeram sucesso e que agora se estendem até depois da meia noite. Quer ver um filme? recorra a net ou ao acervo que consiga juntar.

Poderia falar do preço proibitivo das sardinhas e dos festejos dos santos populares, onde hoje, por exemplo, lá no Porto, andar na rua só com capacete, porque todo infeliz que se presa anda com um martelinho na mão pra dar na tola de qualquer cidadão que desavisado lembre de tomar um café a beira rio.
E de festejos que se fazem sabe-se lá como e com que dinheiro, mas lá se espreme o porta-moedas e arranja-se pelo menos um a cerveja pra andar de um lado pra outro na festarola.

Ou até poderia falar de uma das muitas conversas meio surrealistas em que se falou de espécies que merecem ser protegidas a escolha de um pretendente a salvador deste país e, quem sabe, do mundo todo.
Já sei que as moscas estão destinadas a extinção, ao insecticida e, quem sabe, as ervilhas e os cogumelos farão parte dessa razia de seres vivos a abater impiedosamente.

Mas aí eu fiquei a pensar... então, depois do Euro 2012, das novelas que mostram uma realidade que só acontece na cabeça de um roteirista, que o tempo se canse da fase bipolar e dê lugar de vez ao Outono, que os santos populares vão descansar nas sacristias...

... e muita malta que trabalha e não vai de férias, por falta de subsídio, muita malta cheia de vontade de mesmo na época mais alta de turismo teime em fazer greve com mais zelo do que aquele que presta ao trabalhar, das cada vez mais escassas bolsas estudantis pra fazer frente a mais um ano escolar e de faculdade, de se fecharem tribunais e hospitais, dando assim menos justiça e saúde ao país, que a nova lei laboral dificilmente irá travar uma subida bem mais perto do 20% de desemprego...

...digam-me lá:

Há novelas, jogos de futebol, santos de altar e arraiais que cheguem pra este país sair do buraco???


Apareçam

Rakel

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