Pão, Vinho e...Tu... e Já Agora... uma Mansarda


Pão e vinho fazem parte da nossa vida desde o tempo em que o mundo estava começando a se tornar mais ou menos civilizado e a ganhar contornos mais sedentáristas. Ninguém sabe ao certo onde e quem começou com tudo, discutem entre 5.000 ou 6.000 a.C, o que pra mim tanto se me dá  mais milénio, menos milénio...

Mas a verdade é que o simbolismo implícito fez com que o pão e vinho fizesse parte dos diversos rituais religiosos por toda a humanidade. O vinho por exemplo fez parte das famosas festas em honra de Dionísio, conhecidíssimas pelas monumentais bebedeiras e excessos cometidos pelos vapores etílicos. Os romanos, copiadosres natos das culturas alheias, fizeram o seu próprio festim igual ao grego, mas desta vez em honra a Baco, a mesma bebedeira, as mesmas figuras tristes e depois a ressaca atómica igualzinha ao dos gregos em tudo. Tais cultos do pileque diziam ser uma manifestação da vida e morte. Que o vinho dá vida à quem o bebe e festeja isso não nego, nem sequer a vontade de morrer depois, no dia seguinte, quando se sente a cabeça a pesar mais do que o rabo de um rinoceronte obeso.

O pão, fruto da terra, das sementes douradas presas às espigas bambaleantes, era um culto de Céres, a mãe de todas as coisas cultivadas. O pão, na falta de mais qualquer coisita, sempre aconchegava um estômago roncador. Fácil de fazer, fácil de carregar um bocado no bolso, também fazia parte de muitos rituais como forma de agradecimento às dádivas da terra. Durante a passagem do tempo, o pão e o vinho fizeram sempre parte das mesas de muitas culturas.

Corriqueiros, fossem frescos ou meio bolorentos, branco ou escuro, ter pão era não ter fome, do bom, meio avinagrado ou muito aguado, o vinho era a bebida de eleição. Tão corriqueiros e comuns, que Jesus pegou nos dois e fez dele o seu símbolo de carne e sangue, que para comemorar a sua Páscoa, essa dupla simplicidade estaria a mão de qualquer cristão por mais pobretanas que fosse.

Passados mais ou menos mil e tal anos depois da morte de Jesus, Omar Khayyam, um poeta da Pérsia, fez um poema muito interessante que resume um bocado o efeito desta dupla simpática e simples, que é quase um tanto quanto baste e que tenho aqui falado:

"Um pedaço de pão, um jarro de vinho e tu
ao meu lado cantando no deserto
E o Deserto é o nosso Paraíso".

Bebida de eleição dos amantes, luz de velas... conversas em voz baixa e um bocadinho de pão para não ficar a cabeça zonza demais. Pronto...vá, um bocadinho de patê ou queijo Brie, até mesmo um da Ilha dos Açores fica bem...estamos mais exigentes...humpfff...
Mas é verdade, mesmo sendo parca a dupla, pão e vinho, na companhia certa mesmo o mais estranho lugar toma-se de magia e acalenta a alma.

O vinho relaxa e faz com que as tensões iniciais de uma conversa prometedora fique mais simples (não exagerem na dose pelo amor de todos os deuses), que se gagueje menos e a palidez que acompanha sempre a emoção embargadora de olhar olhos nos olhos para o alvo dos nossos afectos, se tornem em rubores.

Geralmente são as coisas mais simples que fazem a diferença, e nem por sombras fica fora de contexto, mesmo com as loiras geladas (tou a falar de cerveja) e da moda do rum e vodka....um bom decano vinho e um bocadinho de pão....sempre fizeram brilharete.

...e se puderem ver a Lua e as estrelas através dos vidros de uma mansarda.... é o jackpot!

Apareçam

Rakel.

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