Quanto mais o tempo avança, quanto mais perto estamos naquilo que muitos chamam de "consciência global" , mais regredimos ao tempo das matronas de perucas altas e empoadas a talco e o abanar indolente dos leques. Essas matronas que viam a sociedade feita do Jet Set composto por uma nobreza mais ou menos decrépita, falida e com a moral com muito a desejar. Apontavam sempre o mal daquilo que desconhecia como sendo imoral ou impróprio, mesmo que por debaixo dos panos fizesse as mesmas coisas ou pior.
Enquanto isso tudo se limitava aos salões e à própria nobreza carcomida, íamos aguentando bem o barco, agora essa mesma moral bacoca espalhou-se por todos os mortais que vagueiam meio a dormir pelo mundo. :)
Agora são as aquelas tipas, que por força mais da vontade delas do que nossa se intitulam nossas amigas, que muito sorrateiramente nos dão conselhos (e conselho é coisa que ninguém aceita sem pedir), que tentam nos guiar naquilo que consideram certo. Começam sempre com a mesma frase: "não leves a mal o que vou te dizer, mas eu cá acho que..." No momento que dizem o "não leves a mal" já significa que de certeza a gente vai levar a mal... mesmo muito a mal. E lá diz o ditado, que quem diz o que não deve, escuta o que não gosta. E quando a pessoa em questão é uma bisonta gorda e descorada, que vê nos lucros (fictícios) o seu status social, aí a coisa pia fino. Portanto, escutar aquilo que ela menos quer fica por um fio, seguro apenas... pela nossa benevolência. Ou não.
Tirando as "Bobones" da vida, que tentam a viva força mostrar o que é o correcto social, etiqueta e protocolo, há uma data de de pessoas que julgam dominar os saberes de ser e estar na vida, mediante a colagem de opiniões alheias. Todo mundo sabe tudo, menos nós, tudo o que sai do normal é errado, até ao momento de passar pelo mesmo problema. Embora a máxima de "cada um sabe de si" deveria ser respeitada, ainda há quem se sinta em cima de um palanque com força moral pra discutir as escolhas dos outros. Mas... tudo bem.
Parece que gerou-se uma certa polemica, e digo isso com algum desdém, já que nos dias que correm, ver um Duarte Lima ou um Isaltino Morais saírem ilesos e bem na vida, depois de tantas merdas que fizeram, indignar-me com um spot publicitário... é deveras inútil.
Mas até não me sinto lesada na minha dignidade por causa da tal publicidade, sinto é pena.
O Spot em questão, é sobre o congelamento das células estaminais por meio da criogenia. Nela, um menino vestido com uma bata hospitalar, sentado numa marquesa a balançar as pernitas, olha para trás e pergunta aos pais se guardaram as suas células estaminais. Depreende-se que o menino está doente com algum tipo de câncer e precisa de transplante. Agora pergunto:
Quantos miúdos que não são filhos de pai que jogam futebol e tem doenças oncológicas sem nome sonante e precisam de tratamentos caros e sem ajudas existem por aí??E os pais, esses meros e comuns mortais, que se desesperam em filas de espera de dadores compatíveis, que passam dias e dias metidos em alas pediátricas de um serviço oncológico, não dariam um braço direito pra ter tido a oportunidade única de assegurar a saúde futura dos seus filhos? Olha, eu sou uma delas, apesar dos meus filhos nunca terem tido que passar por isso. Aliás, o meu filho mais novo me perguntou se no tempo dele não tinha disso. A campanha tem sido chamada de abjecta, nojenta e mercenária, por algumas galinhas emproadas e cacarejantes.
Talvez as mesmas matronas com o cérebro desse galináceo, criaram polemica por uma foto de uma mãe a amamentar o filho com o seio. Mas que porra!!! Hoje em dia ver peito de mulher é quase tão comum como ver o nariz. Das coisas mais bonitas, dos momentos mais únicos de criar laços, foi sempre a amamentação, e tal como as cacarejantes moralistas do leque roto, veio a público esse indecoroso caso com notas de "ultraje" pelo meio.
Não entendo as pessoas, cada vez entendo menos e mais confusão me fazem. Contra ou a favor do casamento entre iguais do mesmo sexo, a verdade é que essas uniões sempre existiram e existirão, com ou sem o consentimento da dita boa sociedade. Daí que quando começaram as campanhas de uso de preservativos (finais dos anos 80 começo dos 90) no combate contra a SIDA, achava eu, na minha inocentona maneira de ver, que apenas focar os casalitos normais e fortuitos que oferecem uns aos outros nas propagandas os ditos preservativos... era um bocado como enfiar a cabeça na areia.
Entra-se no século XXI e vem uma propaganda (que só apareceu durante.. sei lá, uma semana) onde se pressupõe que um casal homossexual esteve a embaciar os vidros do carro mas usando preservativo, pra sumir de circulação. A tal propaganda foi feita com uma estética tal, que não fere visualmente nada, mas que deixa muito à imaginação. E foi retirado pela indignação de umas tantas matronas e pedantes nobres da causa da moral e bons costumes... que diga-se de passagem, de moral não tem nada.
Um casal hetero, daqueles muito respeitável (ele até era bancário) que tinham um filho comum decidiram adoptar uma menina. Sem espinhas conseguiram o intento, logo depois para descobrir que esse senhor, que deveria ser pai, guardião do bem estar não só do filho natural como também de uma menina fragilizada pela orfandade, abusava dos dois. Mas por outro lado, se um casal homo quiser adoptar é-lhe negado isso de caras...por fundo moral. Moral não está na escolha sexual, mas no caráter, honestidade, amor e compreensão. O resto são cabeças na areia.
E numa terra onde o Big Brother faz sucesso, ganhando cada vez mais subidas nas escaladas da T.V, indignar-se pela falta questionável de moral de uma propaganda... é no mínimo a coisa mais imunda e hipócrita que já vi na minha vida.
Apareçam
Rakel.
Comentários
Enviar um comentário
Estamos ouvindo