Não há nada como uma Segunda Feira para afundar o ânimo de uma mortal; nada de mais desalentador do que saber que a semana começa com dia cinzento, chuvoso e frio. Sem sol, não funciono bem, o tempo arrasta-se pior que um caracol. Tem dias como hoje, que quando acordo me vejo na pele de um descabelado Bob Geldof. Geralmente isso acontece quando estou diante do espelho da casa de banho, ainda com a cara amarrotada de sono, o cabelo naquela selvajaria insana. E até posso jurar que enquanto eu mentalmente canto o refrão: "I don't like Mondays" o coro que canta em contra ponto : "Tell me why?" está acomodado dentro da banheira e colocam a cabeça de fora da cortina plástica cor de rosa na sua justa parte da canção.
Alucinações a parte, descartada a hipótese de a idade e o passar do tempo terem me dado melhor acordar que o costume, lá me preparo para sair de casa. Com a pasta, chapéu de chuva, mais a lancheira (que isto da economia não permite comer fora de casa sem ser assim). E lá vou resmungando pelo caminho, adicionando novos palavrões aos anormais que andam de carro e passam pelas poças de água sem o mínimo respeito por quem quer chegar ao trabalho com aprumo. Semana passada, cheguei ao trabalho com os pés dentro das botas a fazer aquele horroroso "choff, choff" e não me vi sem outra alternativa senão escorrer as botas e torcer as meias...
Enfim, menos mal que pelo menos hoje saí ilesa dos banhos de rua, e o dia passou-se sem grande alarde...até a hora do almoço.
Acredito que tenha em mim um lado particularmente masoquista, só assim se traduz que eu ache imensa piada conversar com alguns fundamentalistas.
Os Evangélicos são interessantes: tudo é obra do capeta, tudo é tentação do demo e não temos nunca a nossa alma a salvo. Claramente, do meu ponto de vista, o lado do bem, deus anda claramente a perder não só pontos na tabela classificativa, como perdeu a fé dos seus filhos crentes nos Evangelhos. Porque não é possível que a visão desse povo altamente fervoroso tenha em tão pouca monta o poder do senhor lá de cima. E nós, não passamos de uns venais rastejantes indignos de olhar para a sola da sandália do filho dele.
Comunistas, essa tribo em vias de extinção, com a sua cassete do "povo unido, jamais será vencido", do discurso do proletariado oprimido pelo patronato abusivo e sem consciência. Não há miúdo que se ache intelectual, que não passe pela fase Guevara, use boina e um bigodinho e barba rala e insipiente, o discurso reformador que já tem tantos anos como aquele que o Noé fez depois de sair da Arca. Certamente leu o Capital, discute as possibilidades de uma sociedade justa. Depois é vê-lo a crescer e tornar-se um militante emergente do PSD com o pullover pelas costas e com ares de grande senhor; e quem sabe, chegar ao Parlamento Europeu??
Tenho birra com os Escuteiros, mas isso é um caso meu. Há algo que me perturba imenso ao ver um marmanjo de calções e meia pelos joelhos...
Defensores da vida animal, povo estranho este... Eu adoro a bicharada. Não toda como devem de imaginar: ratos são coisitas que me dão asco, morcegos (ratos com asas) idem aspas. De resto, com mais respeito por uns e paixonite por outros, não me vejo como uma torturadora dos animais. Adoro o meu bichaneco, mimado até ao tutano (culpa minha, aceito) , que não atende pelo nome pelo qual foi baptizado, mas sim pelo nome carinhoso que lhe dei: Bebé. E todo defensor da vida animal, geralmente se cola na personagem perigosa do vegan, o fundamentalista alimentar. E foi uma vegan que me telefonou na hora do almoço pra falar do meu post anterior... pelo detalhe do porco no espeto. A heresia das heresias na visão dela.
"Então, além do porco no espeto, o que mais tinha para comer"?
"Olha F. eu não andei a provar tudo, nem fui à todas as tasquinhas e restaurantes, mas tinha pão com chouriço, tinha bola de carne, kebab, sopa, queijos, crepes..."
"Humpffff.... imagino que não havia mais nada além de coisas assim com carne" dito isto com voz de repugnância...
"Haviam maçãs caramelizadas, frutos secos torrados com açúcar, broas de café e de mel, doces e compotas..."
"Mas isso são sobremesas e aposto que eram feitas com açúcar processado! E para nós, que gostamos de comida mais natural e saudável? Não tinham opções vegan?"
"Olha miga... haviam fardos de palha com fartura! Era só abancar e comer!" pronto, saiu, infelizmente tinha dado conta que o telefonema não era inocente. Como é óbvio, não gostou e me mandou...pois, à merda.
Não soubesse ela então dos cavalos e camelos, dos gansos e carneiros, das aves de rapina e teríamos assim assunto pro resto do dia... e bocas foleiras minhas.
Um único detalhe que passa ao lado de muita gente:
No momento que se tira uma fruta da árvore, que se colhe um legume, esses representantes do reino vegetal morrem, e começam a decompor-se na sua fruteira e frigorífico. O facto de mata-los sem ouvir um guincho ou não notar sofrimento por aí além, não quer dizer que não sofram. Se as plantas tem sensibilidade para reagir ao Mozart ou AC/DC de diferentes maneiras, digamos que, por enquanto, nos passa ao lado o que são as plantas. Pense nisso de cada vez que arrancam a pele de uma banana (não sei porque isto soa um bocado... estranho) ou quando ralam sem dó nem piedade uma maçã. Pensem no belo tomate despelado, na uva esmagada na prensa aos gritos e a sangrar vinho... e deixem-se de merdas.
E tanto vale a vida de um touro como uma pulga, de um tomate e até de um nojento rato. Vida é vida e sem mais elitismo do que aquele que já fazemos entre a nossa sociedade subdividida em categorias mil.
...e digam lá, esta Segunda Feira promete né???
Apareçam
Rakel
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