Calma... Este Não é Um Post Delicodoce!



Há coisas mesmo giras de se ver que pelos lados da Internet, o facto de que qualquer pessoa pode criar um espaço onde possa jogar as suas abobrinhas e dizer o que pensa do mundo é mesmo interessante. O mundo blogueiro não será o único que permite fazer dos nossos pensamentos e opiniões algo que só gravite dentro da cabeça. Expõe-se de quase um tudo. E tal como diz o Sr. Pipoco, isto dos blogs é mesmo giro. Embora fique na minha a pensar que isso de as mulheres poderem fazer do espaço bloguista o seu Querido Diário, onde contam a falta que lhe faz o ex, as contagens exaustivas os mililitros cúbicos de lágrimas vertidas pelo infame que lhes deu um chute nos fundilhos, não é bem assim. Há Sr.s Gaijos a fazer o mesmo. Muitos mesmos.

Há de ambas as partes uma tendência clara em dividir a vida como o A.A (antes da/o amada/o) D.A (durante da/o amada/o) e o mundo era absolutamente árido e sem significado. Ficam de fora todas as experiências que outros amados e amadas ajudaram a moldar o caráter de quem escreve. Pior, as coisas que se tornaram irritantes nos anteriores protagonistas, ganham cunho de divino com a actual fonte de emoções. Até os puns de pantufas (os mais mortais) tem uma fragrância única, desde que seja no amado/a a fonte desse nauseabundo odor. As cedências que se fazem por amor, o falar constantemente em tudo que gravite a volta desse ser que antes nem sabia da sua existência ou que durantes anos também teve vida e experiências próprias. E descrevem de forma delicodoce cada experiência vivida no complexo e único do mundo da convivência com esse amor. Até o simples passar da margarina na torrada torna-se uma epopeia de amor acrisolado. Cansa, perde-se a vontade de continuar a seguir os posts e pergunta-se quando tal pessoa volta aos seus rasgos brilhantes de escrita.

Assim, faço minhas as palavras do professor Agostinho da Silva:

"Quem fala de amor não ama verdadeiramente: talvez deseje, talvez possua, talvez está a realizar uma óptima obra literária, mas realmente não ama; só a conquista do vulgar é pelo vulgar apregoado aos quatro ventos; quando se ama, em silencio se ama."

E longe vá o agouro de um dia me dar uma lerdeza mental e que me ponha pra aqui a desfiar abobrinhas do mortal que me revolucione aqui o T-Zero. Cruzes canhoto!!! Ahhhh pois, a vida é irónica....

Mas isso não se passa apenas no mundo da blogosfera não...tem as redes sociais que se tornam nesses dizeres e posts enjoativos, em forma de cartões postais do Século XIX, onde se vêem amantes de carinhas coladas, bochecha, contra bochecha, mãos unidas a segurar o poético raminho de violetas, com olhar apalermado com algumas frases de amor beeeeem brega. Há aos molhos, milhentos destes postais gotejantes de melaço e poesia barata. Ou então o tom de dor de corno de quem levou o tal pé nos fundilhos e que meio em jeito de vingança declaram que o mundo é bem melhor sem ele ou ela; e nunca estiveram tão bem como agora. Se estivessem realmente bem, estariam a pensar em coisa melhores, ou estariam a fazer coisas melhores do que estar constantemente a falar no estilo "I will survive".
 Meu doce Krishna... não há pachorra...

Mas aí, se alguém decide fazer alguma coisa mais séria ou sarcástica, a coisa pia mais fino. Porque certamente, sabe-se lá como, enquanto passa-se ao lado de todas estas manifestações de sentimentos obsessivos, sejam eles de amor ou dor de corno, não incomoda ninguém e podem durar anos nisso. Mas o facto é que, quando se decide abordar temas mais delicados da sociedade, como a política e toda a colorida corja que se arrasta nessa cena, corre-se o risco de muitas vezes o administrador do blog ou da rede social não achar muita gracinha e pura e simplesmente bloquear tudo. Não é caso inédito de que, quando alguém diz algo que pensa, que pisa alguns calos indeléveis, veja-se inevitavelmente passado a pente fino pelas opiniões opostas.  O tal direito de livre expressão de ideias vai pras urtigas, o que torna ainda mais interessante quando sai das mãos de um/a perfeito/ desconhecido/a e que incomoda tanta gente.

Há medo de pensar, de dizer ou escrever o que se pensa, mesmo longe dos tempos da Polícia Política, as pessoas tem medo de tudo. Do que os outros acham, do que isso pode acarretar ou não. E isto não é assim tão longe da verdade, temos aí o Caso Relvas, vergonha das vergonhas num país democrático, em que o controle dos meios de comunicação raia a imoralidade. Não são poucos os jornalistas ou ex-jornalistas que usam os meios bloguistas, debaixo de um pseudónimo, largando as suas opiniões e pensamentos. São muitos. Da mesma forma que um blog que eu seguia com alguma regularidade, mais não seja pra saber como ia o lodaçal político lá da minha terra....sumiu de vez. Fechou e não deixou endereço pra seguir.

Esperar que cada qual que sobe nos meios de divulgação dos factos faça a sua ascensão de forma limpa e escorreita, sem prestar favores ou usando as costas largas dos seus actuais "mais que tudo", já não espero. E nem me admira o facto que muitas pessoas que compraram briga, seja ela justa ou não, e que viram as pernas cortadas, virem-se agora para os blogs e redes sociais. Lado a lado, ambas são formas de poder dizer o que pensa e sente, da indignação ao amor entesourado de romance do começo do século XX. Dá pra tudo, até mesmo pra sentir algum medo, o medo de ser julgado pelo que se pensa, pelo o que os outros vão pensar... ou então, na cara dura de saber-se que a indignidade que é viver com governantes, que nos acham piegas, que vêem oportunidades onde elas não exitem e dizer que não gostam.

E enquanto se enchem páginas e páginas de : "O teu amor é o que me faz mais forte" com um par de mãos dadas e florzinhas e toda essa breguice, dar uma opinião pessoal e frontal pode significar que apaguem tudo e metam o rabo entre as pernas...

... a escolha é sempre pessoal. Respeito sinceramente cada postura, mesmo que não concorde com elas, senão estaria eu a ser inflexível e ditatorial como qualquer outro ser venal e rastejante que não gosta de se ver apontado. Mas prefiro que seja o administrador fazer isso, apagar um post ou não me deixar publicar algo, do que eu mesma ter essa acção. Porque o pior tipo de censura... é e auto censura não é? Esse medinho que encolhe o coração e nos tira a voz e a vontade.

E aqui deixo o meu respeito ao Diabo Verde, que soube durante uns anos detonar com a política brasileira no seu blog...de uma frontalidade e um assumir de posição que já se torna raro de ver.

Apareçam

Rakel

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