Blue or Red




"You take the blue pill - the story ends, you wake up in your bed and you believe whatever you want belive. You take the red pill - you stay in Wonderland and I show you how deep the rabbit-hole goes" 


Morpheus




A alegoria de todo o filme Matrix (não estive a rever o filme, apenas me lembrei dessa benção da escolha) é bastante apelativa. Fala de escolhas e das consequências que se geram perante elas. Até que ponto nós, livres de qualquer pressão, estaremos dispostos a pegar na pílula azul, engoli-la e fazer de conta que o mundo é aquilo que nós quisermos acreditar, vivendo na mais completa e santa ignorância??

A ignorância é um tapa buracos oportuno nas nossas escorregadelas diárias na vida social, associa-se facilmente a omissão  e da desculpa fácil. Só que muitas vezes ignorar supõe-se que, apesar de conhecer a relação causa-efeito, faz de conta que nada se passa em favor de uma vida mais calma e fácil. É verdade, tem dias que preferia ficar uma bocado na ignorância, naquela inocência rara de quem não sabe ponta d'um corno do que se passa ao meu redor.

Mas o X da questão é que viver assim não passa de um sonho interminável de esperanças, e a esperança era mais um daqueles docinhos que viviam na caixa de Pandora. A tal cenoura à frente do burro que nunca se alcança por mais que ande em frente.

Daí que prefira tomar a pílula vermelha, sem água pra empurrar, sem um pedacinho de pão pra ajudar a descida pela goela. Mais vale ver e saber os buracos por onde se vai meter, de olhos bem abertos, com as espectativas no mínimo dos mínimos e torcendo pra que aquilo que somos seja suficientemente bastante para aguentar os trancos da vida, do que andar completamente iludida de que com muita esperança e fé a vida há de mudar. Até poderia ter fé que um penico cantasse a Traviata pra mim, mas certamente não cantará...

Durante muito tempo neste país, a pílula azul foi o prato forte da auto-medicação da população. Acreditaram que o mundo é belo, que os Bancos emprestavam tudo aquilo que fosse preciso para preencher os vazios emocionais com coisas. Que a morosidade dos tribunais levariam tempo para reclamar de volta aquilo pelo qual não tinham possibilidades de pagar a tempo e horas. Em cada eleição, mais de metade da população votante fez-se de rogada e preferiu isentar-se da sua justa escolha.

Mas como toda gente sabe, não há medicamento que se tome continuamente que não acabe por deixar de fazer efeito. E foi o caso das pílulas azuis. Anos e anos de puro alheamento da vida real, das obrigações e de uma infantil gerencia financeira, não só dos Governos, mas de cada cidadão que pensava que, o que valia, era viver cada dia como se fosse o último. E deu nisto.

O mesmo aconteceu nas próprias vidas pessoais, em que a responsabilidade de cada um ficou penhorada pela facilidade de colocar de descartar relações. Até no desapego com o qual os pais jogam os filhos nas escolas, esperando que sejam elas a fazer o papel da família: a de formadoras do caráter e conduta social. Na falta de melhor, jogam-se os miúdos então nas abarrotados e mal dimensionados Centros de Acolhimento Infantil ou Juvenil. São poucos, abarrotados, e ainda por cima com recursos pra lá do mínimo, já sem contar com o pessoal, que apesar de dedicado, carece de formação específica.

Experimente ver o site do IEFP, se for como há uns dias atrás, irão reparar que só tem a última actualização com data de 2010, a partir daí, pelo jeito, não houve mais quem se dedicasse a fazer por informar os mais de 1 MILHÃO  de desempregados deste país.

Quis o anterior Governo, a custa de muitos Magalhães, fazer deste país um oásis de informação virtual. Embora os serviços não tenham qualquer ligação entre si. Segurança Social, IEFP e Direcção Geral de Finanças, são daquelas vizinhas que se conhecem por viver no mesmo prédio, mas que nunca falam umas com as outras. Se precisam de cruzar dados, somos nós os utentes, que saltamos de um lado para outro, sempre com informações contraditórias de cada lado.

Agora, acabaram-se a pílulas azuis de vez...e mesmo quem tenha algumas guardadas debaixo do colchão, ou que tenha encafuado num cantinho qualquer, já sabe que, mesmo com o efeito desejado, a realidade continua correndo solta, quer queira ou não. E o Buraco do Coelho.... vigi... não tem fim.

Apareçam

Rakel.




Comentários