Quando temos a capacidade de escolher por nós mesmos aquilo que queremos, de cabeça sã (mais ou menos) e com a certeza absoluta do que queremos, nem assim sabemos se isso é o melhor para nós ou não ou se vamos ter sucesso.
É uma questão puramente pessoal, as escolhas são feitas com base naquilo que achamos melhor e mais acertado, e não ficam longe as críticas sobre isso. Acham sempre melhor do que nós aquilo que é certo e que nos vai fazer feliz. E francamente, não achamos piada nenhuma quando nos fazem isso. Não aceitamos bem essa jurisprudência não solicitada, esse guiar os nossos passos com o bordão de : "Não sabes o que é melhor pra ti"
Mas as maiores vítimas destes assuntos são os filhos. Passado o dia do Pai e chegando como quem não quer nada o dia da Mãe, deu-me pra discorrer sobre o assunto: ser filho.
Desengane-se quem me lê que isso de ser filho passa, podemos ter 20, 40 ou 60 anos, os pais ainda se sente pais e mães, ainda acham que não sabemos o que fazemos e que eles sabem melhor o que é bom para nós. Filho é uma situação que continua pelo resto da vida. Podemos desmanchar uma ligação amorosa, divorciar, separarmos de alguém, mas nunca, mesmo nunca alguém pode-se dizer ex- pai ou ex-mãe. É visceral e perpétua a condição de pai ou mãe. Poderão me dizer, que aqueles que os abandonam ou entregam para adopção se desvinculam da sua situação. Sinceramente? Acho que não, acho que bem lá no fundo tem na sua consciência retorcida e mal amanhada a questão de que gerou ou ajudou a gerar uma nova vida, que fatalmente mais tarde terá os mesmos gestos, a cor do cabelo ou a maneira de sorrir, fica marcado.
E que jogue a primeira pedra o pai ou mãe que não sonhou para os filhos os sonhos que eram seus e não foram realizados, que não quiseram fazer dos passos deles os seus, ou que pediam por outro lado que fizessem os mesmos percursos que percorreram. E muitas vezes, de forma velada e contínua, sugeriam não só caminhos como modos de vida.
Dei outro dia de caras com uma foto do actual Papa com uniforme da juventude nazista, dizendo então os descobridores desta foto, que assim se explica a sua vivência. Olhando bem para a idade do Papa na foto, custa-me acreditar que aquele menino, ainda na primária, tenha escolhido por vontade própria e de são espírito fazer parte dessa associação. Lá que um miúdo nessa idade, queira ser bombeiro, polícia ou jogador de futebol, eu ainda engulo, mas fazer parte de uma associação politizada, isso custa-me a digerir. Conceitos políticos começam sim pela cabeça dos pais. Assim como o racismo, os papéis de homens e mulheres na sociedade e a religião. Daí a minha indignação à todas as ignomínias que me fizeram quando criança: as fotos de bebé nua na colcha, o baptizado, a insistência do "menino pode, menina não pode" e por aí adiante. Ninguém me perguntou absolutamente nada do que queria, era assim e pronto.
E essa história do "é assim e pronto" foi o rastilho daquilo que sou agora ou do que me fez ser como sou. Aliás, costumo dizer que, vendo bem as coisas, dentre muitas que escuso contar aqui no blog, com a vivência que meus pais me deram, eu teria tudo pra ser uma serial killer, daquelas de coleccionar dedinhos dos pés das vítimas e tudo. Com um pai pré-histórico e uma mãe medieval, restrições de maneiras de ser era o prato forte da casa.
Não culpo o Papa pelo passado, de certeza feito e pensado pelos pais; nem por todos os desgraçados que um dia os paizinhos acharam por bem colocarem nos escuteiros ou então, daqueles que vêem nas gracinhas dos filhos, um potencial actor ou cantor. Tenho pena isso sim é dessas pessoas, que foram crianças como qualquer um de nós, que tiveram que seguir regras que nem eram as suas, e que ficaram fatalmente presas ou afetas às escolhas que não foram nem de longe suas. E quando se chega a adulto e nos são atiradas à cara essas desgraceiras parentais, fico apenas com vontade de prestar a minha solidariedade com essas alminhas torturadas.
É que a infância passa rápido e ser criança deveria ser uma época sem imposições sociais, políticas ou religiosas. Quando adultos, muitas vezes é complicado tirar o rótulo de quem somos filhos ou aquele que se colou em nós.
Apareçam
Rakel
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