In The Lap of The Gods


Cada telefonema que recebo é sempre uma diversão, uma inspiração posterior para um post. O último do dia de ontem não fugiu a regra, daqueles que dá pra rir por dentro (que os deuses me livrem de rir naquela hora) e depois escrever um bocado.

Como já devem ter notado, ando um bocado desleixada aqui no blog, mais por falta de tempo do que de assunto. Eu sou só uma e não dá pra me dividir em tudo que gosto, por isso vou tentando gerir o tempo que me sobra entre trabalho, aulas e família com o resto. Daí que quando olhei para o nome da pessoa em questão que me telefonava, pensei eu que ia ter uns minutos de risota e pura diversão depois de um dia de trabalho, sem aulas e de uma caminha longa. O corpo cansado e bem molinho depois de banhoca e jantarada pedia relaxamento e diversão.

E foi com um meu muito alegre "Então miúda!" que começaram as hostilidades...

"Então digo eu, que nunca mais dizes nada!" 

"Mandei-te sms esta semana que passou, não respondeste, pensei que não tinhas tempo"

"Então quer dizer, se eu estivesse muito mal, tipo assim pra morrer, tu nem te dignarias a saber de mim... realmente!"

Boooom, com o tom de voz atirando assim pro raivoso e com esse dramatismo todo, comecei a fazer contas de cabeça. Verão aproximando-se a passos largos com um tempo convidativo para a elegância, final do mês? É aquele limbo existencial que uma pessoa está nas lonas sem um tostão ansiando pelo dia de São receber. Puxando pela minha memória fabulástica, lembrei que seria a semana antes do período. Como costumo dizer, a conjunção do capeta.

Meus senhores, aqui vai mais um dos mistérios femininos: o mau humor. Ele não nasce de geração espontânea, nem sequer é tipo verruga ou borbulha que nasce, é um caso esotérico e transcendental. Por todas as imposições sociais e preceitos estéticos, há uma forte pressão para que as mulheres se enquadrem dentro de alguns parâmetros de beleza. Quando a balança ou a roupa desdiz aquilo que será o aceitável, aí uma mulher entra em modo absolutista: corta em tudo que seja doce, faz exercício e faz da balança o seu amigo/inimigo constante. Dá-lhe pra matemática e pela senda do medir, calcular, pesar e recitar calorias, volume de coxas e barriga, olha com rancor para a roupa que não lhe serve e fica possessa de cada vez que quer vestir algo que não lhe assenta como uma luva.

Portanto, meio a medo, deduzindo que seria só e apenas o fenómeno T.P.M, aquele que transforma mulheres sensíveis, fixes e engraçadas em perfeitas Górgonas, fiz a pergunta jackpot :

"Diz-me uma coisa M., por acaso andas outra vez a fazer aquela dieta maluca de só comer vegetais cozidos?"

"E se estiver? qual é o problema? só me faz é bem e tu também deverias fazer, já que não seja pelo peso, pelo menos porque faz bem ao corpo!"

"Elefante, rinoceronte, hipopótamo e gorilas são vegetarianos e olha bem pra eles miúda...não são símbolos de elegância."

Depois expliquei, tal qual os médicos estão fartos de ensinar, que para emagrecer, não será apenas e unicamente na base do regime nazista de fome, nem tão pouco de cortar com todos os alimentos. Comer pelo menos faseando as refeições entre 5 à 8 vezes, beber muita água e fazer exercício físico. O que lhe fui dizer...
Mandou-me para um sitio que realmente de momento não estou praí virada, disse-me que não era sensível aos seus problemas e que estava a fazer pouco dela. Nem sequer perguntei-lhe do namorado, que certamente deve ter fugido a sete pés em retirada estratégica, como sempre faz nesta altura do ano, sendo ele um covarde assumido desta faceta pouco bonita dela. É aí que se distingue um gajo 100% de um covardolas. O que sabe estar presente mantendo uma certa distancia de segurança, o que sabe medir as palavras antes de abrir a boca e que sabe dar mimo na hora certa. Mimar é das coisas mais necessárias para a evolução de qualquer relacionamento. 

Muita gente pensa que mimar seja aquela coisa enjoativa de diminuitivos parvalhocos, vozinhas em falsete, gestos aparvalhados e monguices afins. É dar colo emocional quando preciso e cimentar o que de melhor há numa pessoa, de forma realista longe da actual luz negra onde está inserido. Com a devida distancia, aquela que de perto se adivinha a tempestade e que se assiste sem dramas ou alimentando-a. Cada vez que dizem: "Fica calma" e ela responde "Eu não estou nervosa" é colocar mais lenha na fogueira. Quem tem que ter calma é quem assiste a tempestade ou ao fogo posto. As vezes não dizer nada, mas estar ali do lado, é mais vantajoso do que descrever uma série de possibilidades que a pessoa em questão não vai ouvir até acabar a explosão.

Dar colo e mimo é das coisas que mais cai bem, sejam nas horas piores e melhores, é dar valor ao que mais preza na vida. Fácil será nas horas boas e de calmaria, mas o que distingue uma pessoa capaz e que realmente gosta de nós, é a tenção contínua e bem doseada. E porque sim, é de graça, faz bem, lava o ego e nos faz sentir melhor. Pra quem dá e recebe, é das trocas mais simples e fáceis de fazer. Acalma qualquer Górgona em dieta estóica com hormónios aos saltos. E serve também para os senhores, que trazem pra casa as suas amarguras, que se sentam diante da T.V com o comando na mão com cara de quem todos lhe devem e ninguém lhes paga. Mimo e ouvidos alertas, no meio daquele chorrilho todo de desgraças, há de sair o verdadeiro motivo pelo qual aquelas mulheres simpáticas, giras, meigas e interessantes se transformaram em Ogres. E vice e versa. Limite? Há com certeza, é aquele que raspa sem pejo nenhum na ofensa direta e sem papas na língua. Aí, a coisa tem outro tom, o tom do cansaço da relação. 

Quem gosta cuida e não estraga. 

PS: desde que li que o chocolate ajuda a adelgaçar a silhueta... tenho me mantido uma fervorosa e disciplinada apreciadora desta doce maneira de me sentir bem e sem culpas...

Apareçam

Rakel



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