Hoje me deu pra isto....


Nem sei se é aborrecimento, nem sei se é do cansaço de ouvir sempre os mesmo chavões : isto está tudo mal, a crise, austeridade, ministros, greve, falência e troika. Estou naquela fase que acho que as pessoas se acostumaram um bocado mal e que as contrariedades se tornam intransponíveis.

Ok, eu tenho os meus dias um bocado negros, mas felizmente, passam logo. Geralmente, a música consegue ser um tipo de curativo para a minha alma, embora eu ande de saquinho cheio com tanto ai se te pego. Já me satura esse massacre musical, tanto quanto uma certa rádio, que desde o ano passado passa sempre as mesmas músicas, sempre a mesma hora.... e que eu , por força do local onde trabalhei, tinha que ouvir até me passar da marmita e quase provocar um motim.

Neste momento, o local onde trabalho só tem estes sons: o das lâmpadas fosforescentes, o barulho do PC, o meu dedilhar nas teclas e o rio que passa ao pé. Nada mais. Ainda por abrir ao público, ando por lá a fazer inventários, requisições, ficheiros para actualizar e... tou eu comigo mesma (há pra aqui um dedinho malicioso lá dos "de cima" que se divertem a brava me dando estas oscilações de vida).

Num repente de saturação de silencio demais (tá aí, mulher tem dessas coisas, ou deseja silencio ou implora por sons) dei-me a ouvir León Ferré e Jacques Brel. E eu nem gosto de Brel.... ele pra mim é um tipo de Ivan Lins belga. Chatinho na forma de cantar é certo, mas com letras muito interessantes. Deu-me pra francesismos, mas serviu-me na mesma pra lembrar de uma amiga que me apresentou Brel, a Sabine, uma miúda que estudou comigo e que anda um bocado sumida. Brel fala da vida e do amor, da sua desconcertante simplicidade e complicação.

Por outro lado Ferré é corrosivo na forma de falar do romantismo, da vida e do ser humano.... não fosse ele um anarquista  :)

Enfim, há dias estranhos, em que nos sentimos insatisfeitos sem saber bem a razão. Talvez será porque a maior parte das pessoas se repetem em desculpas ou porque será que eu mesma me sinta com uma enorme vontade de me reinventar. E descansar os ouvidos de greves e da voz cavernosa e fatídica que fala que "está tudo muito mal e ainda vai ficar pior". Não fossem os amigos de sempre, dentro da sua própria constância de idas e vindas, que aparecem na hora oportuna, talvez adivinhada sabe-se lá como, embrutecia-me a alma.

E enquanto a maior parte das pessoas repetem o refrão do fatídico piorar da situação do país....há pessoas que dão seu tempo e a sua amizade nas horas melhores e piores. Há aquela minha vizinha, uma senhora já bem entrada nos anos, que encontra espaço na pequenez da sua reforma, para um prato de comida quentinha dada todos os dias à um homem sem recursos, daquela pobreza limpa mas sentida. E são nessas pessoas, poucas é verdade, que ainda fazem enxergar que não está tudo no fim da linha. 

Porque nada é por acaso e tudo tem solução. Até as insatisfações pessoais.

Apareçam

Rakel.

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