Meu filho André me disse que o facto de agora ter escolhido ciências....tirou-lhe um bocado o encanto da vida. Saber os porquês tirou toda magia e sabor de desconhecido que contribuíam para que a imaginação divagasse por onde lhe apetecesse. Agora, munido de calculadora científica com gráficos e mais um cartão de memória pejado de apontamentos(eufemismo pra cábulas)... o puto se vê entre formulas e equações que explicam quase tudo. Isso e a tabela periódica de química.
Pois é nisso mesmo que outro dia estive a conversar com eles:o facto de aqueles que, por exemplo, estudam os astros, ficarem mais preocupados em saber a massa, de que elementos se compõe, o diâmetro e trajectórias. Não se encantam com as cores, nem com a sua beleza reluzente no espaço. Tudo pra explicar porque estamos aqui hoje, de onde viemos e para onde vamos. Mas a ciência não se contentou apenas em meter as manápulas nos astros e demais planos físicos... teve que meter o narigão na culinária. Aí afino mesmo e não acho piada.
Gosto de sabores, gosto de comer e até me considero um bom garfo. Sem essa frescura do "adoro sushi" desde que comer isso... significava mais um patamar no status social de gente de bem. Bahhhh... comida japonesa sempre fez arte da minha vida desde que me conheço por gente... ou não fosse o meu pai, padrinho de um menino nisei*. Portanto em casa do compadre comíamos a comidinha caseira própria da terra do sol nascente e ponto.
Aí a frescura passou para a Nouvelle Cuisine onde meia dúzia de caganitas são colocadas num prato com aspeto artístico e... faz lembrar as amostras grátis de supermercado. Poucochinho e só pra provar. E é isto que a gente vê:
:( tristeza danada que dá pagar dois ou mais dígitos pra lamber estes decalques no prato...
Mas a coisa não ficou por aí.... magina só. Entrou a Gastronomia Molecular.... que tenta achar através da química e física o sabor certo e a forma melhor de cozinhar...mais umas quantas caganitas e pespega-las no prato.
Sinceramente... não sei se pego num preguitos e coloco estes pratos na parede, pois mais são obras estéticas e manifestações artísticas do que algo que a gente apeteça comer...
Minha gente... posso ser jurássica, do tempo que o Mar Morto ainda era só doente, mas não acho piada nenhuma nessa "nova maneira de ver a gastronomia", até porque, apetece só mesmo ver...
Que será feito... de umas favas guisadas, pejadas de coentros e uma boa salada de alface? Serão elas, as favas, um escalão abaixo do apurado paladar e desnivelado no sentido artístico??
E o saboroso e popular prato de pastéis de bacalhau com arroz de tomate, prato modesto sem dúvida, sem uma confecção digna de arquitecto paisagista, mas muito honesto e abrangente do país??
Alegria para os olhos??? Uma bela travessa de carne de porco a alentejana....regado com bom vinho tinto e tão saboroso quanto parece ser???
...ou até uma caldeirada?
...e se a vida anda em crise, peixe frito com uma açorda picante e uma boa salada...
Já dizia Cervantes... que por pouco comer e muito pensar D. Quixote ficou com a caixa dos pirolitos avariada e via gigantes onde só haviam moinhos de vento....
Se gostam de decoração aconselho vivamente à se dedicarem de corpo e alma às novas tradições gastronómicas... eu cá, como sou meio rústica, fico com a comida que regala a vista e as papilas gustativas... e dão a satisfação de ter comido bem! A tal afamada dieta mediterrânea...a saudável.
Apareçam
Rakel.
PS: *nisei - descendente nipónico nascido fora do solo japonês.
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