Um Post em Dois Dias...isto tá bonito tá...


Aviso desde já que escrever este post será uma façanha digna de qualquer heroína viva ou não deste sistema solar. Ao mesmo tempo que decorre este dedilhar de teclas tenho os meus dois rebentos esparramados no sofá a jogar Sonic e a discutir por tudo e por nada, começando pela possibilidade de extraterrestres terem "acasalado" com humanóides terráqueos até a teoria das mulas e afins. Já que o João, o mais velho, saiu-se com essa das impossibilidades entre equídeos mais ou menos distantes na linhagem genética mas que possibilitou  que uma burra dê a luz às mulas e por aí adiante.

Como se isso não bastasse, ainda por cima tenho o gato que tresloucadamente deu pra ter um brutal ataque de birra, só porque tirei-lhe da boca um colar recém ofertado com penas...vai-se lá saber se não seria um treino aos pombos e corvos que pairam pelos ares aqui ao redor do apartamento e que o deixa colado aos vidros da janela. Mas é assim que são as coisas de vida familiar, onde tenebrosamente o João avisa ao irmão que não vale a pena estudar muito porque o mundo acaba neste ano. Haja paciência....

Nem tão pouco posso dizer que o fim da semana passada tenha sido em grande, porque juntou-se uma data de detalhes nada favoráveis a época carnavalesca e menos ainda às tardes ensolaradas. Juntaram-se coisas demais, sentimentos vários e principalmente uma certa dificuldade de encaixe.

Um falecimento súbito de um familiar de um amigo chegado, que ainda estava em fase de recuperação de outro familiar que se foi. Qualquer perda é complicada de gerir, sem querer acaba-se por fazer retornar os nossos (meus neste caso) próprios vazios emocionais daqueles que me eram próximos e se foram. Mais ainda quando a data se chega tão perto de quando perdi o meu 1 bebé, numa gravidez que não se adivinhava nada de errado. São as tais caxitas que a tampa não se segura bem durante muito tempo e teima em abrir vez por outra.

Sem qualquer tipo de planeamento consciente de nada, mesmo tentando gerir em como confortar por meio de palavras esse amigo que perdeu a sobrinha.... dei por mim a ver um filme que, se não foi por mais nada, deve ter sido apenas para me fazer lembrar das minhas convicções.


Nem por encomenda seria melhor do que uma longa conversa ontem de noite (sim, que este post começou ontem e já vai a meio da tarde de hoje) sobre a necessidade de gratificação. A tal história de, percebemos a mensagem, andamos correctos e direitinhos pela vida, damos o nosso melhor mas não vemos o retorno. É verdade, o retorno é mais ou menos como as Finanças...demoram para nos pagar o que nos é devido.
A gratificação, chegando perto do modelo do burro com a cenoura a frente, é uma maneira de sentirmos que, tudo que é certo e bom que fazemos merece um retorno satisfatório e imediato.

Tal qual o cãozito do Pavlov, que mal toca a campainha ganha a guloseima, estamos nós aqui metidos nesta embrulhada de viver da maneira mais correcta. Mas felizmente, as gratificações não chegam na hora que queremos, digo felizmente por vários motivos. Talvez um dos principais seja não fazer as coisas correctas apenas pra receber a gratificação imediata. Se assim fosse, fazer o correcto deixaria de ser uma escolha de consciência pra passar a ser o modo de recompensa única e exclusiva de viver: faço pra receber gratificação.

A vida encarrega-se de nos mandar inúmeros sinais, pequenos nada desapercebidos que vão caindo gota a gota dentro de nós até acumular e dar um clic no T-Zero. Pois fatalmente, mais cedo ou mais tarde, há de chegar um dia em que deixam de vir os pequenos avisos e cai tudo de uma vez. Seja na maneira quase corriqueira de deixar pra depois os assuntos pessoais, a luta constante de trabalho e subida profissional, a almejada independência financeira e pior que tudo: esquecer-se de si mesmo.

Talvez a coisa que mais me tocou no filme, foi ver a forma como o Dr. Mário André não largava a arrogância de "eu sou médico" "eu quero, posso, mando e exijo" que acabou no momento que viu que a única pessoa que pensou nele após a morte.... foi uma cliente que era pobre e ele mal lhe dava atenção. A incapacidade dele perceber que apesar de médico, não fez dele mais gente que os demais, que pra poder ter aquilo que queria, precisava de fazer como toda gente: trabalhar pra isso. Lá saiu o Dr. Mário André do alto do seu troninho egocêntrico e começou a perceber a verdadeira essência da humanidade: ajudar quem precisa e pedir ajuda quando necessita dela. O famoso dar e receber que um tipo lá na Galiléia disse há milénios atrás. Digo isto com um tantinho de sarcasmo, porque embora eu não seja cristã, a maioria do povo diz que é cristão , mas esquece por completo as bases do cristianismo.

Porque acaba tão mal não dar nada de si, como da mesma forma não saber pedir e receber ajuda, uma das lições que tenho aprendido nos últimos tempos de uma forma quase homeopática. O factor dar, nunca foi problema pra mim... mas confesso que tenho alguns travões mentais que me dificultam pedir ajuda. Talvez o facto de durante tanto tempo nos cobrarem uma perfeição absoluta em tudo nos façam pensar que temos que fazer TUDO sozinhos e como pudermos, faça com que evitemos dar parte de fracos e pedir ajuda. Não, pedir ajuda não é passar a si mesmo um atestado de incompetência total, mas sim a capacidade de ser gente, de saber até onde consegue chegar.

E me dana um bocado o cérebro o tempo que tanta gente perde a dizer e mandar indirectas sobre "as pessoas que me invejam" e dar tão pouco tempo de si pra ajudar realmente alguém. Da mesma forma que tiram dias para peregrinações aos templos máximos da fé, mas mal tem tempo pra despegar da tela do PC e jogar um Mikado ou umas Damas com os filhos. Ofereçam aos vivos, aos que estão perto de si o afecto devido e a atenção que merecem. Da mesma forma, vejam se aqueles que vocês acham que tem inveja de si, não precisam na verdade de alguma ajuda. Mais ainda, ajude a si mesmo a sair dessa ratoeira de não pedir a ajuda, de não saber olhar por si mesmo e ignorar os sinais da vida.

Talvez os vossos santos se sintam mais agradados de ver o tempo que vocês perdem com o que realmente interessa e fazendo as coisas para um bem comum, do que se arrastando pelos altares desejando uma misericórdia que não merecem de todo.

Apareçam

Rakel.

PS: começado na tarde do dia 20, acabado na tarde do dia 21...

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