Ele não anda, empaca nas piores horas e depois deslancha feito doido quando tudo estava tão bem.... mas leva o mesmo percurso em ambas situações. É esta nossa mania de esticar ou encurtar os percursos naturais que tudo tem.
Neste fim de semana, depois de ter finalmente descoberto uma receita jeitosa de Mead, uma bebida muito antiga, mais ainda que a cerveja, que posso fazer em casa e que de certeza vai ser um sucesso, expus o projecto aos meus filhos. Empacaram no momento do tempo, pois a fermentação e maturação leva no mínimo uns 4 meses. Tempo demais, dizem eles, miudagem habituada a abrir garrafas, misturar concentrado na água gelada e de tudo em bandejinhas de esferovite no supermercado. Aí, me socorrendo das ferramentas habituais (a minha lábia natural) expliquei que a maior parte das coisas feitas fora do contexto industrial leva mesmo tempo.
Sabiamente a natureza se encarrega de mostrar que, cada frutificação, cada colheita, acontece de forma exacta para que nós os utilizadores e de mais seres viventes, possamos utilizar os produtos e dar-lhes tempo que maturem. Mas na ganancia de ter mais e a toda hora, deu origem a massificação, produção em série e este abarrotamento, que agora, desde o advento da crise, fez-nos olhar com um bocadinho mais de calma.
Fomos mal habituados em relação ao tempo, viramos crianças exigentes e embirrentas, batemos o pé e exageramos quando as coisas não tomam o rumo que queremos, porque temos pressa, assim passamos para fase seguinte com a mesma exigência e pressa.
Da mesma forma que o Mead vai ter que ser filtrado umas tantas vezes até ficar claro, que vai passar uns tempos no escuro a ganhar grau, que vai ficar com um airlock caseiro pra ajudar na fermentação, a maior parte das coisas na vida exigem os mesmo tratos, os mesmos cuidados e paciência. Porque aí, o resultado final vai ser gratificante, justamente na hora certa, quando o tempo começar a esfriar de novo, vou abrir uma garrafa de mais um "feito em casa" pra espantar o frio com os seus 18º de corpo. :)
Mas não, o que toda gente habituou-se é saltar as fases, de jogar fora de imediato todos os processos de maturação. O tempo se resume só no JÁ ou IMEDIATAMENTE.
Seja na carreira profissional, onde a necessidade de conseguir mais faz com que todos os segundos contem nesta selvajaria de concorrência, seja metendo a mão na buzina mal o verde aparece no semáforo, seja nos afectos, muito pouca gente sabe esperar. Tem que ser agora.
Não adianta explicar umas quantas vezes, que é preciso dar tempo quando um relacionamento acaba, que é necessário um tempo de reflexão e até de luto, e só depois, começar a investir numa nova relação. Não, a exigência impõe que seja já, agora mesmo, saltar de uma pra outra de olhos meio inchados de raiva e choro, nem que seja por pura vingança. Ou pior, exigir que ele ou ela decida logo se vão ou não começar uma nova relação após a rotura, naquele bater do pé de mãe zangada, de braços cruzados no peito e olhar feroz. Aquele ar de : "estou aqui a espera que se decida... é pra quando?? Já acabou não é?? Portanto o que falta???"
Falta tempo, aquele tal necessário para matutar no assunto, aquele que serve para aos poucos arrumar a casa por dentro e deitar fora um bocado dos medos habituais. Não é por acaso que se diz que o tempo cura todas as feridas, porque cicatrização e a volta da mobilidade sem dor pede tempo. Mesmo que se façam suturas bem apertadas, que se feche bem a carne e se faça um curativo bem apertado... se exigir depois disto um esforço maior do que se consegue... arrebentam as suturas e há novo sangramento.
Da mesma forma que, para muita gente se traduza em muito tempo perdido, para mim é o tempo exacto aquele que levo para realizar cada coisa. Seja para escrever o meu tal livro de contos, seja para postar aqui alguns dos meus projectos em andamento (além do Mead achei uma receita de Sidra caseira), acho que levam o tempo certo, nem que seja para ir aprendendo como as coisas deixam de ser de uma maneira e se transformam noutra coisa. Tem o seu lado didáctico de duas formas: a pessoal e a geral.
E se o tempo é aquilo que a gente fizer dele, e que cada coisa acontece na hora certa e no momento oportuno, quem sou eu para pegar no relógio e acelerar os ponteiros, só para que a hora desejada chegue e perder todo o caminho que devia percorrer??
Colocar uma data, especificar o tempo que considera-se o melhor, nem sempre acaba por ser assim mesmo. O Já, Agora e IMEDIATAMENTE, nunca deram resultado, assim como marcar começos e fins de qualquer coisa. Eles não são datados... apenas acontecem. Na hora certa.
Rakel
Estou totalmente de acordo!
ResponderEliminar..então..é deixar passar o tempo, porque vai colocar tudo no lugar....é só ter paciência.
ResponderEliminar:)
Rakel