Pisando Nos Miosótis...ou Ensaio Desatinado Sobre Afectos.


Conhecem a sensação de ter que caminhar por entre um campo de miosótis sem pisar nenhum botão ou flor? É complicado né? Eu que o diga, que na minha inocência digna de Peter Pan, pisei inadvertidamente num calo indelével mas doloroso. Foi no post anterior. Enquanto muita gente pensa que cada post que faço é dirigida única e exclusivamente para si, na verdade é uma generalização de situações.

Desenganem-se de pensar que as coisas acontecem só com vocês, que o vosso eco-sistema é o único na face da Terra, porque não é. Daí que, como sempre tive um bom par de orelhas funcionais, que se prestam bastante para ouvir o que cada qual tem pra contar, não é nada do outro mundo que depois de fazer um resumo geral, dedilhe aqui as minhas opiniões totalmente pessoais. Digamos que de certa forma acontece o mesmo nos demais blogs de toda a blogosfera. Eu digo o que penso ou sinto e deixo aqui um apanhado geral da semana, do mês, conforme o tempo e a análise. Por isso que passado um tempo, vale a pena fazer revisão sobre o assunto.

Não é por nada, mas tem sido uma constante nas conversas os mesmo factores em questão: a crise financeira e as crises emocionais. Se uma e outra estão ligadas entre si por razões muito próprias não sei, até porque há quem viva em estado de graça por estar apaixonado mesmo com os cortes nos salário e nos gastos. Da mesma forma que há quem esteja estabilizado financeiramente e ao mesmo tempo em total deserto emocional. Mesmo assim, os dois factores em estado agudo andam sempre colados um ao outro.

Uma das coisas mais interessantes de quem se apaixona, é nem saber ao certo como foi que aconteceu: ele ou ela nem tem nada assim em comum, um é tímido e caladão, o outro pode ser uma festarola constante, um gosta de filmes de porrada e o outro de comédias parvas.... não há equação que nos valha pra fazer a matemática, nem sistema que nos indique a formula certa: acontece. E segundo as nossas pesquisas desatinadas, é o factor que carinhosamente chamamos Quimigal que entra em acção. Digamos que cada um é uma indústria que produz compostos químicos tais como as feromonas. E digamos que as feromonas procuram exalar perto do candidato com melhor olfacto (ou com uma penca bem ventilada) que nos atraí.

Aí a nossa Quimigal interna desata a criar o tal químico especial que chama a tenção de outro que ao mesmo tempo largou a sua química em nós. E aí, com tanta química junto, dá-se a combustão e a física torna-se uma realidade. Bem diz uma das pessoas que mais respeito, que "sem química não há física", embora muita gente se pergunte, porque raios não atraí ninguém de jeito. Embora o estudo realizado cá pela  dupla bloguista não tenha um fundo científico, o certo é que muitas vezes, a Quimigal dentro de nós até pode trabalhar... mas não sabe a receita certa ou até está de férias. Mas é mesmo isso?

Bom, aí vou me socorrer de algo que há muito tempo: idealiza-se demais e a realidade é outra. Depois, ainda se junta o factor social, que já de si atrapalha mais do que ajuda.  Digamos que a Quimigal que há dentro de si funciona...mas a Quimigal do outro não lhe diz absolutamente nada. São fórmulas que não combinam, e que nem a maior sumidade em química pode arranjar.
Agora vamos supor que a tal da química funciona... e a pessoa olha pra ela e diz: é errado. Aí a gente pergunta, errado como? Então as fórmulas não estão alinhadas, as borboletas bateram asas na barriga, o sorriso aparece fácil na boca e as mãos suam feitas parvas?? Então o que está mal e errado?

Aí aparecem as tais questões sociais: ele ou ela é de uma condição social diferente, esteticamente foge de tudo aquilo que se diz o melhor, não tem instrução suficiente e tem o PDI*. Aí o assunto pega fogo mesmo. A questão da idade. Por razões que desconheço, há quem se ache demasiado entrado nos anos para se apaixonar. Alguém, sabe-se lá quem, deve ter feito uma lei qualquer, que há prazo de validade para apaixonar-se. Pior, há aquela velha hipocrisia de que, um homem pode ter como namorada ou companheira uma mulher com idade para ser filha dele, mas o contrário é ainda muito reprovado socialmente. Ele é visto com inveja, um homem que tem paleio e envergadura para ter uma jovem pelo beiço.

Mas quando toca esse assunto numa mulher, aí o jogo vira completamente: ela é tarada e o rapaz só está com ela por dinheiro ou outro interesse social. Se para um homem mais velho apregoam que a experiência e charme contam pontos, parece que pro lado da mulher essas mesmas duas virtudes não contam nada. Não raras são as vezes que tenho ouvido alguma mulher dizer que, embora a química tenha surgido, embora tenha uma atracção irresistível , elas se sentem mal perante os comentários maldosos e hipócritas e recuam perante uma promissora relação. Mas quem somos nós para obrigar ou forçar alguém à uma relação que não consegue encarar? 

Mas hoje deu-me imensa satisfação sair para tomar um café com uma amiga minha. Ela que sempre viveu do trabalho, não é famosa nem  é deste Jet-Set duvidoso que o país tem, que depois de muitos anos sozinha por opção própria, está de novo apaixonada. Sabendo que sempre foi uma mulher batalhadora e sem papas na língua, ganhou-me mais admiração do que aquela que eu já lhe tinha. Ela nem sabe porque, mas apaixonou-se, uma pessoa completamente diferente dela, mas que a faz sentir-se bem, que lhe mima, e que mesmo com os seus defeitos consegue fazê-la sentir uma miúda de novo. Ela com 72 anos e ele um puto de 58...

... é a Qumigal minha gente, esse não sei quê que transforma a vida de uma pessoa.... que tenha coragem de a viver.

Apareçam

Rakel

PS: se pisei mais uns quantos miosótis com estes pés mimosos nº 40, que me desculpem, mas há coisas que são tão giras de ver acontecer que vale a pena escrever sobre isso...

* PDI  =  Puta Da Idade

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