Em Jeito da Mala de Cartão


Sendo este povo o que mais desbravou o mundo em tempos tão recuados, vejo com alguma curiosidade esta polémica toda sobre uma sugestão feita por um determinado ministro.
Segundo consta, o mesmo disse que a segunda solução para quem precisa de trabalhar é sair do país e procurar emprego lá fora.

Causa-me uma certa estranheza tanta gente praí espumando de raiva, dizendo que é uma vergonha tal declaração, sendo uma acto de covardia pura e simples. Depois, em repetição de quem lhe apetece ser indignado, vão dizendo que sim senhor, é uma vergonha praticamente convidarem o povo a deixar a pátria. Há também que repita por pura e simplesmente não lhe apetecer ver o assunto por outro prisma.

Tirando a Linda de Suza com a sua mala de cartão... que nesse grande sucesso discográfico conta a senda do português que deixa a santa terrinha pra ir pra França trabalhar, quantos já não andam a fazer o mesmo há que tempos? Portugal foi sempre um produtor compulsivo de emigrantes. Embora o começo tenha sido nada auspicioso, já que começou com os degredados, o resto da povoação das colónias fez-se na tentativa de uma melhor condição de vida e de uma segunda oportunidade. Com o passar do tempo, as coisas continuaram a ser as mesmas, as necessidades iguais e o movimento de população a sair na mesma.

Os anos 60 marcaram de forma mais acentuada essa debandada de pessoas a caminho, principalmente, da França, Alemanha e Luxemburgo. O grande boom foi mesmo os países da Europa, dando-nos no Varão aqueles peculiares personagens que vem cá passar as férias, os tais Manel Zé que já não sabem as palavras em português e arranham maldosamente a língua francesa. Uma amnésia patriótica total mas justificada grandemente pelos longos anos fora da terra mãe.

No começo do século XXI, foi para quem quis ver, a saída de muitos portugueses para Espanha por vários motivos : primeiro, muita miudagem que queria fazer o curso de medicina e que as notas de acesso aqui (ainda) não permitiam, iam para Espanha fazer o mesmo curso e após a equivalência, exercer como todo mundo a sua profissão.. mas cá. Na mesma época, foi a maior debandada de motoristas de longo curso, instrutores de condução, que encontraram lá na terra de nuestros hermanos a oportunidade de exercer a sua profissão com um salário digno e reconhecimento devido.

Daí que me causa uma certa estranheza este bafafá todo por causa de uma coisa que se disse de maneira aberta e franca... e que todo mundo já fazia e via com naturalidade. É mais ou menos como aquela alegoria do elefante no meio da sala. Todo mundo sabe que o elefante está lá, mas puxa-se uma cortina cor de rosa que mal tapa 1/3 do bicho, mas faz-se de conta que não se vê, não está lá.

O mal foi o tal ministro ter dito que é essa uma possibilidade viável? Ahhhhh... ok, então a melhor coisa é não falar no elefante, embora ele ande por lá há séculos, largando as suas pôias, fazendo-se ouvir... mas enquanto está atrás da cortina é com se nem existisse...
Há bem pouco tempo começaram a sair para voltar a investir nas ex-colónias: Angola e Moçambique, sem esquecer dos muitos portugueses que resolveram tentar a sua sorte no Brasil como muitos fizeram nas décadas de 50 e 60... Timor também faz parte da lista de um dos países emergentes que tem levado os nacionais a largarem a casa e a terra...

...pois é, acho que a malta prefere mesmo o elefante atrás da cortina... o tal que a gente faz de conta que não vê a abanar a orelhonas e a soltar as suas pôias...

Apareçam

Rakel

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