Faz parte do ritual de qualquer mulher, faça calor ou frio, uma coisa é certa: uma vez por mês começa o ensaio e a mentalização para chamada depilação a cera. Embora o assunto possa carecer de importância ao digníssimo leitor ou leitora, a verdade que é apenas um prelúdio ao assunto em questão.
É que querendo ou não, essa cena sado-maso de depilação a cera é algo que leva o seu tempo a mentalizar, porque apesar de tudo, aquela porcaria dói pra caramba. Não me venham cá com conversas de habituações e de que não custa nada... porque já segurei muita mão de amiga nessas horas (e fiquei com os dedos ou tortos e dormentes) por cada puxada da esteticista. Dói. A tal dor que se tolera...
Já fui o sincera aqui ao ponto de assumir a minha providencial falta de jeito nessas coisinhas estéticas... o simples pintar de unhas torna-se numa façanha quase idêntica à criar a formula da viagem no tempo. Fatalmente sempre acaba em tragédia e montes de acetona pra diluir o estrago. Portanto, juntando esta falta de jeito de nascença e a falta de dinheiro... é fazê-la em casa... o que já de si dobra o valor da façanha.
Não é por nada...mas da última vez consegui colar a perna à coxa na hora que me agachei pra re-aquecer o potinho da cera...levantar??? Caótico.
Continuando... ao fazer essa tortura estética entra sempre uma parcela de dor, porque a gente arranca da pele num puxão seco os pêlos. Mas a gente tolera, aguenta por um bem melhor: cerca de 4 semanas de pele lisa e acetinada...
Daí que cada vez que ouço a palavra TOLERÂNCIA me faz lembrar depilação com cera quente, a gente aguenta, não gosta, até grita por conta, mas é por algo melhor.
A palavra surge com frequência em tudo que se relacione com diferenças culturais e raciais, temos que ser tolerantes. Tolerância é uma falsa aceitação e pela lógica, tudo o que é falso não é válido. Portanto, a tal da tolerância é um cinismo socialmente aceite e fomentado.
No que a aceitação precisa da luz do conhecimento, de entender por A+B que as coisas são melhores se formos capazes de aceitar o facto que todos somos diferentes (até mesmo dentro da família) e que o planeta é só um pra todos.. a tolerância é algo que se faz na birra e na má vontade.
Depois querem que o mundo corra bem, que todo mundo se ame e se respeite, porque a tolerância assim o dita, a tal colherada de xarope amargo que se toma e aguenta pra fazer bem. No meio da tolerância há uma sombra estranha, um som ao longe... de revolta.
Porque aceitar as coisas requer reflexão... a tolerância é uma coisa imediata. Vamos tolerar para um bom funcionamento social. Isso engloba algumas situações dúbias, em que favorece muitas vezes quem não se esforça e não merece.
Louis Zamenhof, um judeu-polaco, pensou que as diferenças culturais e raciais se deviam as diferenças linguísticas. Nascido e criado num ghetto judeu, levando sempre na cabeça de que lado fosse, cresceu pensando que, se as pessoas conseguissem falar uma mesma língua, saberiam entender-se e dar-se bem.
Criou assim o Esperanto e mesmo assim, mesmo que falássemos todos a mesma língua, cada cabeça se faz com uso e costumes próprios que raramente coincidem. É crescendo e vivendo que as coisas se encaixam na nossa cabeça. Nenhuma criança nasce com ódio por outra que lhe seja diferente.
Embora a palavra tolerância pretenda dar um arzinho de coisa boa e afins, mais parece aquela amiga sonsa que te sorri pela frente mas te faz de bombo da festa pelas costas.
Não se pode mudar nada de uma hora pra outra, e aguentar aquilo que não se entende e não ceita fica fácil de abrir caminho para situações de rebuliço social.
Lá mais em baixo, falei do "síndroma do umbigo", em que cada pessoa se foca mais em si mesmo do que no panorama geral. Portanto não é de estranhar que a tolerância medre num solo que deveria ser apenas facultado à sabedoria. Aceite sem entender e há de ficar mais cedo ou mais tarde um preconceituoso no armário...
... e tudo isso porque ando aqui a ensaiar uma depilação...
.. estranhos caminhos tomam o meu T-Zero nas suas conjecturas e pensamentos mais ou menos ociosos...
Apareçam
Rakel
Que é como quem diz ... andas a ver se ganhas coragem (e se te esqueces, ao mesmo tempo) para a tortura mensal.
ResponderEliminarJinho e boa tortura.