Tecla 3



Da maneira como as coisas estão, se eu fosse uma pessoa muito racional, já nada me espantaria. Mas há um par de coisas que ainda mexem cá por dentro comigo: oportunismo e falta de educação.

Uma pessoa minimamente capaz e inteligente sabe e percebe que, a nossa tentativa maior é não sermos alvo de discriminações. Queremos ser respeitados pelo conjunto daquilo que somos, que a nossa personalidade se sobreponha e seja valorizada acima dos aspectos exteriores. Mas há um certo conjunto de coisas e motivações que fazem perverter essa igualdade que deveria ser inata na nossa espécie.

De manhã (não lembra a ninguém levantar de manhã para ir ao supermercado, mas pronto) fui às compras no local habitual. Pensei eu erroneamente que o povo estaria roncando e apreciando a horita a mais de sono e o Domingo curto. Mas não... meia cidade estava lá metida. Temendo as possibilidades, fui à caixa com menos fila: a prioritária. Quem vai para uma destas caixas, sabe que terá que dar a vez para uma grávida, alguém com alguma incapacidade física evidente. Tá lá assinalado na placa, uma coisa que deveria ser em todas as caixas, sem placar, mas sim por uma conduta moral acertada. Mas pronto, rezei pra que não houvesse outra enchente de grávidas ( de um dia foram 8 delas a tomar a vez), e lá estava na cavaqueira com algumas pessoas que conheço, quando um senhor mete o carrinho de maneira a ser o próximo a ser atendido e com a bombástica frase: 

"Deixem-me passar que sou deficiente.. e tenho que me aproveitar da minha deficiência.!"

Conseguiu inclusive que um cliente já com as compras na passadeira retirasse tudo e fosse para trás dele. Medi o tipo de alto a baixo e a única coisa que vi foi um leve arrastar de perna. Ao meu lado, um colega e a mulher começaram a tentar encontrar que raio de deficiência o senhor tinha, mas sem grande sucesso.

A coisa me ferveu por duas razões: 

1º o dito senhor nem sequer pediu licença nem nada, entrou com o carrinho a matar e a se encaixar directamente no lugar que queria.
2º uma pessoa que diz que tem que se aproveitar da sua deficiência... realmente o é, mas não físico, mas sim mental.

Minha gente... cada vez mais penso numa coisa. Há reparações que se podem  fazer para melhorar o nosso corpo, a nossa auto estima. Operações, implantes e próteses estão aí mesmo para isso, que o digam centenas de mulheres que fazem reconstrução mamária após vencer o bicho-cancro. Mas não há prótese, implante ou cirurgia para um caráter deformado, falta de educação e mente tacanha. Quem nasceu assim.. vai ser sempre um tecla 3

Meu colega seguiu o senhor depois de despachado e veio nos dizer que milagrosamente... já nem sequer coxeava mais. De certeza é de morarmos tão perto de Fátima... afff porra!!

Apareçam

Rakel

Comentários

  1. Acontece-te com cada coisa...

    Eu uma vez ia num daqueles autocarros que os tem lugares reservados de frente e de costas para o sentido de marcha.
    Entra uma senhora (já muito grávida), e eu k estava sentada num dos bancos reservados de frente, apesar de haver ainda os lugares de costas por ocupar, levantei-me para dar o lugar à senhora, porque pensei k se eu enjoo de costas, imagina uma grávida.
    Ora, senta-se lá um senhor, e ela senta-se de costas.
    Eu dirijo-me ao senhor e digo-lhe k me levantei apenas para dar o lugar àquela senhora, ao k ELA responde: É o meu marido.
    Ora, eu como não me calo, e tenho um pouco de mau feitio nestas coisas (ok, está bem e noutras também), disse à senhora k me tinha levantado para lhe dar o lugar a ela, e se ela não o queria, eu queria-o porque o marido não estava grávido. E só depois desta resposta é k o senhor se dignou a levantar e a dar o lugar ... à esposa.

    Foi só mais um contributo para a colecção de teclas 3

    Jinho

    ResponderEliminar
  2. ...há tantos tecla 3 neste mundo... e cada um pior do que outro. O caso que me contaste é um dos mais evidentes deste mundo.

    Como bem sabes, sou há longa data adepta dos transportes públicos. Nas duas vezes que estive grávida, o apanhar m lugar sentado equivalia à apanhar uma raspadinha com 10.000 euros de prémio. E curiosamente, dei-me conta nessa época que, o dito cavalheirismo, foi pras urtigas. Quando alguém se dignava a dar lugar.. era sempre uma mulher e mais velhota... mundo este né?

    bjos

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Estamos ouvindo