Escolhas, a vida está cheia delas, mas sabe-se lá o motivo, ficamos pelas mais simples e directas, pelos caminhos mais estreitos e aconchegantes, os ditos seguros. Mas são cansativos e monótonos. Seguros, porque já são bem conhecidos e o retorno não será uma surpresa por aí além, mais fácil de lidar.
Neste momento, poderia escolher ficar a remoer o facto do salário reles, da subida do IVA nos alimentos, da luta constante. Isso é um facto, tudo isso acontece assim como a precariedade total em que vivemos. E eu poderia escolher ficar o dia todo remoendo com o que não tenho, com o que perdi. Mas já está e já lá foi, o que existe é o que está na minha frente, agora o que importa é saber o que fazer daqui pra frente.
Num país como o nosso, em que o Passos começou a fazer um tipo de venda de garagem, onde os vetustos aviões da Força Aérea estão de partida para o Paquistão, é essa a filosofia de vida que se deve levar: desfazer-nos daquilo que só serve de peso. Em tudo, coisas materiais como interiores, de cada um de nós. A coisa mais regressiva é o remoer as coisas menos boas que aconteceram. Fazer delas o pendão de uma vida toda, até do futuro. Tudo gira em volta disso, um resultado sem volta. Isso cansa e gasta energias necessárias para mudar as coisas.
Jogar fora as tais bugigangas armazenas, dar espaço, tirar o pó e começar a pensar seriamente no que fazer, mas um dia de cada vez. Futuro é daqui 5 segundos ou 10 anos, tanto faz, mas fazer uma coisa de cada vez e com cabeça no lugar. E dar-se tempo de, com pouco, fazer muito.
Esta lenga-lenga pode parecer meio disparatada, mas tem seu quê de importância. Mudar, mesmo que não seja o sonho dourado, mas sair do mesmo lugar gasto é uma vitória. Há quem ache pequena, mas o tamanho de uma vitória não se questiona. A Belona, amiga minha de longa data, agora tem casa nova, mesmo que a casa não seja nova. Ainda a ajeitar pormenores, ontem abriu-nos a casa para uma patuscada informal, com os meninos dela, uma bolinha de pêlo com 3 meses a teimar em marcar território nos tapetes, viu-se de longe que, mesmo a casa não sendo nova, dos móveis recuperados...o ar era outro. Cada qual levou um contributo ao petisco (levei as minhas laureadas farófias) e foi não só divertido como relaxante. Rir, santo remédio da alma, pingos de molho dos caracóis e do berbigão, uma camarãozito pra compor e a risada solta por conta de umas cervejas fresquinhas, e passou-se uma noite agradável a conversar e rir.
É verdade, o IVA continua igual, a salário continua reles, as contas chegam sempre pontuais, mas merecemos um tempo de pausa. Essa realidade de contas e fazer pela vida não se esquece, mas o remoer de merdinhas sem jeito, de culpar o mundo tudo pelo nosso infortúnio cansa imenso. E só atrasa a vida.
Se a vida então é uma estrada larga, e nos empurram para as beiradas, é fazer por andar divertidamente por onde passamos. Se incomoda aos restantes, que mesmo nesse caminho estreito há quem consiga rir e encontrar o lado melhor da vida, lamento, mas a vida é muito curta. Curta e gira de se viver quando se dá algum crédito à nós mesmos...
...e os Marados estão para durar!! :)
Apareçam
Rakel.
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