Da Vida Nada Se Leva


Esta é uma máxima usada por muita gente para justificar excessos e pulsões socialmente incorrectas (seja lá isso o que for), mas a verdade, é que a vida passa a correr... são dois dias e pouco mais.
Daí o facto de que eu perca pouco tempo em rabugices e coisas tristes. Algumas serão sempre inevitáveis e há que passar por elas com a classe e elegância que nos convém como seres inteligentes né?

Por outro lado, por causa de uma conversa que começou com essa frase aí de cima que serve de título, que aos poucos se tornou um nadica mórbida, dei-me aqui a pensar no seguinte:

A gente planeia tudo: o que vai ser quando for grande, a profissão, a casa de sonho possível, o número de filhos, a reforma...mas e depois? Como fica a história "do pó vieste ao pó voltarás"??


Vivemos num mundo de contradições: eu posso escolher morrer aos poucos levando uma vida de bebedeiras ou nas drogas. Posso entupir as minhas artérias com gordura, enfim, fazer tudo aquilo que se chama de vida desregrada que ninguém dá pitaco. Vivo como quero né? Mas se por acaso, for daquelas pessoas saudáveis e que por um destes azares da roleta da vida, apanho uma doença terminal... não mando nada e não posso pedir o alívio rápido e um final curto e digno da minha vida. Posso fazer um aborto, mas não posso pedir uma Eutanásia. Se não tenho essa escolha, por uma data de tabus ideológicos e sociais, pelo menos, permitem-me fazer planos no dia que me for de vez? Ou pelo menos escolher algumas coisas??

É que me faz horror ficar ligada às máquinas de suporte de vida.. quando o corpo pede pra ser desligado. Não vou julgar famílias que esperam que um milagre aconteça e que tudo fique bem e certo depois de algo trágico. Mas aflige-me demais pensar ficar numa semi-vida, do meu ponto de vista, é brutal e cruel. Se realmente a minha vontade de viver for grande o suficiente, que deixem que o meu corpo faça isso por si mesmo, sem o respirador artificial, sem um custo brutal a nível emocional e financeiro.

A morte é inevitável, faz parte do nosso ciclo, todos os dias morremos um bocadinho. Como a minha crença leva a que em cada fim haja um novo começo, tudo é muito natural. Mas se me dão licença, pelo menos deixem-me escolher algumas coisas...

Não quero funeral, entre os ritos que mais me sufocam, este e o casamento estão emparelhados no primeiro lugar. Velar um corpo, o sofrimento repetitivo, o casulo que nos acolheu durante um tempo a servir de mediador da nossa consciência, é algo que me transtorna. Mesmo nas piores alturas, sempre escolhi o lado caricato, o risível. Portanto, nada de velório. Até porque nem vai ter corpo para velar, já que quero doar o corpo à ciência. Tirem o que for preciso, córnea, pele, ossos, órgãos... o resto que fique para os estudantes de medicina. O que sobrar queimem e deitem fora. Eu já não estou lá há que tempos!!!

No dia que me for, façam o favor de que, aqueles que me conheceram, se juntem num bar qualquer com música ao vivo (por favor, nada de latinices ok?) bebam uns copos e falem das minhas argoladas (uma data delas diga-se de passagem). Riam ao lembrar-se de mim...porque passei grande parte da minha vida a rir e a ver graça em muitas coisas.

Flores?? Dêem-me agora que posso aprecia-las, colocar nas minhas jarras e agradecer o gesto em viva voz. Querem elogiar-me?? Façam-no agora que posso sorrir, agradecer e me emocionar. Os meus defeitos?? Conheço a maior parte , mas podem também falar deles agora, para que não me esqueça de melhorar...

No dia que me for, quero que se lembrem de mim a rir, com música e uma bejecas...acho que não estou a pedir muito pois não? E já que estou viva... façam o favor de demonstrar tudo aquilo que disse aí em cima, o afecto, o carinho e dividam comigo as coisas boas e más...

...por que a vida passa a correr e são apenas dois dias...

Apareçam

Rakel.

PS: só há um pequeno problema....faço questão de viver até aos cem anos  :)

Comentários

  1. Ó mulher mas k mórbida k estás!!!!

    Isto é algum testamento público, para k na hora h ninguém se atreva a fazer diferente?

    A música não pode ser latinices, e se for musica bem portuguesa como a musica "pimba"?

    Jinho e bfds

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  2. Mórbida??? Então vou deixar as decisões do que hão de fazer comigo à outros, quando essa talvez venha a ser a minha última decisão?? Sinceramente não pensei que fosse um testamento público...mas já agora... BOA IDEIA!!!! Não, só queria lembrar que há outras opções melhores do que deixar os familiares na penúria, andando de Pilatos à Herodes a cata de terreno onde deixar repousar os ossos. E ai do desgraçado/a que se lembre de pimbalhada em minha honra... vou puxar os pés e os cabelos quando estiverem a dormir.. aliás, não os deixo dormir nunca mais! Tá avisado...

    Bjos e Bom Fim de Semana

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  3. Amiga, era só para ver se não te esquecias de nenhum detalhe!

    Já viste se por falta de aviso se esquecesse de um pormenor destes?

    Mas acho k já estragaste o negócio a alguns senhores.

    Jinho

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