O Amor é Fodido... E Não É da Maneira Mais Divertida

Miguel Esteves Cardoso escreveu esta frase certeira (a primeira parte sim, a segunda é edição minha, se faz favor) sobre esse sentimento tão enaltecido e profundamente confundido com outras coisas.

Porque o amor, é tão inexplicável como tentar explicar o que realmente somos, essa meada enredada de pensamentos, ideias e sentimentos mais ou menos equilibrados. As nossas verdades, as nossas manias mais ou menos parvas para os outros, mas que fazem tanto sentido para cada um de nós.

E o amor é mesmo complicado quando deveria ser simples, porque gostar de alguém é fácil né? Fazer um upgrade também não deveria ser complicado. Mas é. 

É quando nos toma demasiado espaço por dentro, quando nos tira a noção do que somos, quando perdemos a capacidade de ser racionais. Quando ultrapassamos a linha do correcto, do que é bom. 

Quando amar começa a ser uma obsessão, controle, posse e dói...não é amor. Poderia ter sido no começo, mas quando se perde a própria identidade, quando se procura algo que não existe... bem aí inventa-se o hábito de viver com uma pessoa, comer, sair e irem pra cama juntos...mas sem amor. 

É a convivência que ficou, como eco de um sentimento lá muito longe no tempo, aquele comecinho especial que nos fazia brilhar os olhos, acelerava o coração e as palmas das mãos suarem. Instalada a rotina, bem se pode dizer que até poderiam ser bons amigos. Mas amizade não chega, nunca sustentou paixão, nem uma relação olhos-nos-olhos. Um anula-se em favor de outro. Um come a côdea para que outro coma o miolo do pão.

Portanto, quando não há mais amor, quando deveria ser fácil dizer The End, fatalmente acontece o contrário, deveria ser fácil e não é. Sabe-se lá porque raios uma pessoa se apega aos ecos e as sombras, uma lembrança longínqua do que já foi e não é mais. E da puta da falta de coragem de assumir que acabou, que não se é feliz assim. Mas mal de nós que resolvemos verbalizar e ver as coisas com a clareza necessária. Aí somos frios, calculistas e maquinadores. Dar um fim ao que sobrou do amor é fodido, mas é a coisa mais digna a fazer quando ele se foi de vez e ainda se tenta guardar pelo menos o respeito pela pessoa que esteve ao nosso lado um bom tempo.

O amor é fodido quando não podemos de cabeça erguida assumi-lo, quando ele nos prega um medo de morte do que poderá ser. De quanto tempo irá durar, se a intensidade não se acaba, se é só sexo ou se é mais do que isso. 

O amor é fodido porque nos despe por dentro, e quem tem olhos para enxergar, nos vê tal e qual somos, e será que poderão nos amar mesmo assim? 

Se o amor é sentimento bom, bonito, não deveria ser escondido, não deveria andar entalado em escapadelas e desculpas esfarrapadas. Se ele aparece, que seja assumido, que se aceite o facto que mais cedo ou mais tarde ele há de ser descoberto por outras bocas e olhos. Porque por mais que se disfarce o olhar e o se esconda o gesto, quem se apaixona acaba por transpirar o que sente. E há sempre um bom par de olhos que irá detectar em cada gesto escondido, em cada meio sorriso, o que realmente há por detrás de tudo isso. Há a redescoberta de uma nova fase, de uma nova pessoa e de uma novo amor. Bem longe da queca ocasional e terapêutica, e portanto a mais fácil de se esconder, o amor não se aguenta emparedado.

O amor é fodido...? Talvez seja sim, mas por culpa nossa, pelos nossos medos, nossos desejos e covardias. 

Sinceramente, gostava que o amor deixasse de ser fodido e fosse mais valente, mais senhor de si, menos doloroso, menos escondido. Que não fosse feito de dúvidas, de receio, de pensar que ainda há tempo, quando o tempo passou e já se foi. Gostava que se tornasse mais simples, mais limpo e calmo. Seguro.

Não há carrasco e vítima nestes casos...acontece isso mesmo. O amor é fodido, mas um dia acaba, e depois de um tempo, volta nas mãos de outra pessoa, completamente diferente da que deixou atrás...na idade e na condição de vida. Mas acontece. E a coisa mais digna a fazer... é aceitar o facto que não se vive numa ilha e que mais tarde ou mais cedo todos vão saber... se é que todos já não sabem. Assumam.

Apareçam

Rakel.

Dedico este post à todos os que conheço que neste momento estão nessa nova fase de vida, com um novo amor, um bocado a medo das escaldadelas. Que tenham a coragem de assumir o que lhes vai na alma... e digam o que sentem.  :)