Não se escolhem afectos, eles te caem no colo, tem encontram, te arrebatam... e fazem de ti um ser molinho e lamechas. Aconteceu comigo...eu, que sempre fui meio estabanada e liberta de vozinhas em falsete, nominhos fofos e afins... bem, agora estou irreconhecível. Adoro os meus filhos, é claro, nem preciso vir aqui justificar isso, basta olhar para eles e me revejo em gestos e maneiras de ser. São meus e ponto final. Filhos é um assunto visceral, algo que está tão acima da capacidade de explicação...que nem preciso me alongar mais nisto.
Sempre tive mão para plantas, cheguei a ter vários tipos de flores e plantas, roseiras de cada cor, das mais invulgares cores. Era simples, bastava ter um rosa, daquelas de florista, para poder pegar de estaca num vasinho. Roubava (e admito sem pejo nenhum) um pé de qualquer planta e ela pegava sem problemas.
Com animais nunca tive problemas, aliás sempre queria ter uma casa cheia deles, para desespero da minha santa mãe, que não achava piada nenhuma com as criaturinhas que eu levava para o quintal. Mal chego perto, seja cão ou gato, por muito desconfiado que seja ou barulhento, acaba por acalmar-se e ficar a minha beira tranquilo.
Pode-se dizer que tenho um talento natural para as coisas simples da vida: animais, plantas e crianças. Tenho mais problemas com os evoluídos adultos. Mas nunca pensei que seria tão avassaladora e tão parva a mudança que um pedacinho de gato faria na minha vida...
Para que nunca houvesse preferências , o que muitas vezes atrapalharia a vida de toda gente, fiz questão que todos cá em casa fossem responsáveis pela alimentação, a retirada dos "croquetes" da caixa de areia e de tempo de brincadeira com o bichano. Mas na verdade... temos problemas...eu e ele, o Shinobi, temos uma paixão assolapada, que não se poderia justificar apenas pelo facto de que é a "mão que alimenta". Vai além disso.
Nas noites ou madrugadas que chegava em casa depois de mais um turno terrífico, em que nem dormir conseguia, era ele que subia silenciosamente no meu colo e ali ficava... a ronronar e a deixar que eu alisasse o pêlo dele até me acalmar. As vezes mal tinha tempo de pousar a pasta e a mala e já ele dava um salto e se aninhava no meu pescoço a dar-me as boas-vindas a casa. Dizem que os gatos tem mau feitio, que são muito donos do seu nariz, que não dão cunfia à ninguém... mas discordo. Todo animal tem personalidade, e felizmente, calhou-me um sensível e amoroso, inteligente e com sentido de humor. Tomara muitos...
Dou comigo a brincar com ele, que pelo que dizem é irracional, e que me faz rir mesmo nos dias mais puxados e complicados... e agora entendo das vezes que ia ao supermercado e via porque aquele senhor com uma reforma pequenina, gastava dinheiro em latinhas de comida para gato, daquelas mais caras."É um miminho" dizia ele...
Agora... que me dá um gozo danado brincar com ele as escondidas... isso dá. O coitado pensa sempre que está muito bem escondido, e nós fazemos de conta que não o encontramos. Todo contente, abana a cauda a pensar: "hihihi...eles são uns nabos e não me encontram..."
Há afectos tão simples e tão giros...
Apareçam
Rakel
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