And the winner is...


Uma das coisas mais giras de ter os filhos numa idade que já estão a aprender mais do que o habitual, são as conversas e trocas de opiniões. No caso do mais novo, desde que descobriu que a Filosofia era mais do que mais uma disciplina chata e que tinha que estudar, temos tido conversas interessantes.
Para quem no começo achou fascinantes as teorias de Jonh Rawls, na clara diferença de classes, (tem que ter rico e tem que ter pobres para o mundo funcionar), foi um eureka na vida dele... até ao dia que um filme lhe deu volta à cabeça. Um filme/animação para ser mais exacta. 

Imaginem que ele teve a sorte de ter um professor de Filosofia decente, que resolveu mostrar aos alunos o filme "Animal Farm" que conheci como "O Triunfo dos Porcos" de George Orwell... Dá gosto ter a sensação das mesmas descobertas fantásticas que fiz há uns anos atrás. Bom, isto tudo para explicar que as teorias parecem tentadoramente correctas no papel, nos livros e ensaios, mas na vida real temos de bater de caras com o alarvismo de quem quer alcançar a fama, fortuna e poder. Estes três ingredientes fazem a verdadeira destruição da nossa melhor parte: o lado humano. E o ser humano deixa-se iludir pelo brilho do prémio...e para consegui-lo, é lutar pelo poder à todo custo.

Numa estranha coincidência, e meu mundinho é feita de muitas delas, passeando por uma livraria, dei-me conta que ainda falta na minha modesta biblioteca particular alguns títulos de bons escritores. Daqueles que são intemporais, com obras contundentes e muito pertinentes. Dei-me conta que não tinha um dos livros mais fascinantes do século XX, Metamorfose de Franz Kafka. Como também não tenho outros não premiados pelo Nobel da literatura, mas não menos importantes. Jorge Amado (esse tenho), por alguma razão que me escapa, nunca recebeu nenhum. Talvez me tenha dado um certo gostinho de vitória o facto de Jean-Paul Sartre (também tenho esse louco) ter recusado o prémio que lhe foi dado para um Nobel, por considerar-lo chinfrim, burguês e boçal...  :)



Vamos pensar um bocadinho, há imensos escritores antes do advento Nobel que fazem parte daquilo que chamamos livros de culto. Não perdem a sua característica de valor apenas por não ser um "nobilado". Acho que Victor Hugo, Baudelaire (é verdade.. falta-me o Les Fleurs du Mal dele...), Tolstoy... estão-se nas tintas se ganharam ou não um prémio janota.

E a luta pelo poder chega bem perto da tal fábula de George Orwell, na subversão dos valores e até mesmo das regras. Se é pra falar curto e grosso, cá vai: hoje não somos avaliados pelas nossas capacidades, mas num conjunto estético duvidoso e  muito particular. Imagine, por exemplo, que quem me lê agora, almeja um determinado posto de trabalho. Imagine que lhe dizem que, nesse posto de trabalho, uma das cláusulas é abraçar o projecto em questão e dar o melhor de si... Depois, mais tarde, conhece uma pessoa que, tal como quem me lê, também concorre ao mesmo lugar, mas a única ambição é só tirar umas fotocópias, atender telefones e pouco mais...
A gente sorri e pensa que o lugar está garantido para nós, que afinal temos até uma enorme afinidade com o projecto e vontade de contribuir. Depois, mais tarde, descobre-se (porque tudo se descobre) que, o lugar almejado, não só foi atribuído à menina que apenas quer fazer o menos possível, como para mais uma que de certezinha ficava melhor num bar de alterne. Portanto, a história de "abraçar o projecto" é apenas um lugar comum de quem pretende fazer do lugar algo de dinâmico e inovador...numa montra de algo estranho. Não inova-se nada, mas tem cá uma imagem do catano! Portanto, o valor de um prémio ou lugar é relativo ao tamanho da boçalidade de quem o atribui, assim como pelo povo que se deixa iludir pelo brilho aparente. Os não premiados, não deixam de ter o seu valor, mas esperam tempo demais pela única coisa que esperam: reconhecimento. Alguns nunca viram em vida tal reconhecimento de valor, a morte nos torna todos bons e iguais...que o diga Mozart...que morreu pobre e cheio de fome.

Portanto, nas conversas muito interessantes com o filhote, ficou prometido um livro do Kafka, que os prémios são uma bela ilusão e que sabedoria é pouco recompensada, que no lugar do QI, mede-se a copa do sutiã. Da mesma forma que as teorias e as grandes frases de efeito ficam pelo mundo das palavras soltas, dando lugar ao que chamamos de conforto da continuidade da estupidez humana. Entre as coincidências e descobertas destes enredos, fica aqui a informação de uma lançamento do Público de livros não "Nobilados," mas não menos fantásticos. E baratinhos.. que a malta anda sem cheta pra gastar.

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