Made to Japan

Kangei!!!

Aqui sentada, de pernas esticadas olhando com imensa pena para os meus pés forrados com meias grossas e pantufas, ansiando ver os meus dedinhos do pé livres, escrevo este post em honra do País do Sol Nascente.

A minha ligação com os japoneses vem de longa data, praticamente desde que nasci. Meu pai tinha um amigo, que agora não me recordo... se já era realmente japonês ou a primeira geração nascida fora do solo nipónico. Compadres, já que meu pai era padrinho de um dos filhos do Yamazato, a nossa convivência era assídua. Adorava ir à casa deles, o hábito de descalçar os sapatos na entrada e andar de meias ou chinelos em casa agradava-me imensamente. Os filhos, só rapazes, faziam modelismo, tinham muitos mangás, tinham um sentido de humor interessante apesar de muito pacatos.

A simplicidade da casa dava um certo ar de liberdade, sem bonequinhos de louça e naperons espalhados pelo móveis e me fascinava imenso o altar para os antepassados. Uma pequena chama, as fotos dos que já se foram, uma tigelita de arroz e sake. 

O que hoje toda gente acha de bom tom, chic e snob dizer que comeu Sushi...puffff...coisa que pra mim desde os 7 ou 8 anos de idade não é novidade... Não há nada que me espante vindo do Japão, conhecendo bem os seus hábitos e costumes, a forma como pensam colectivamente como nação, não me seria nada de mais saber que passados um par de meses, a tragédia pela qual passaram, já teria sido ultrapassada.

Desde sempre a situação sismológica do país foi de grandes abanões, como resultado, a prevenção foi sempre uma constante na educação e na vida prática deles. Acredito que de todos os países, o Japão seja aquele que mais desenvolveu dispositivos e soluções para evitar grandes estragos nas construções. Eles já passaram por guerras, já foram devastados por duas bombas atómicas e se reergueram do nada.

Admiro-os na capacidade de uma convivência interessante entre o avanço tecnológico e os hábitos ancestrais, embora saiba que os sacrifícios exigidos em questões de família e trabalho chegue ao exagero. Ok, há aspectos na cultura que escapam ao meu entendimento. Os suicídios por honra (harakiri ou seppuku), a pouca demonstração de afecto pelos que amam, um rigidez quase germânica...

...mas por outro lado uma cara de pau de todo tamanho, um sentido de humor muito interessante e um desprendimento das vergonhas do corpo... acho um piadão aos banhos públicos...

Neste momento de grande devastação, um povo que já passou por demais, que já teve todas as possibilidades de desistir, aí estão, com o exército nas ruas, com a mobilização da população, unidos na intenção de reerguer o país. Um abalo e tanto, um tsunami e pêras e lá estão, trabalhando e se virando.

Fosse aqui? Primeiro, abririam  um gabinete de estudo, seriam indicados gestores desse gabinete, depois um grupo para avaliar se o gabinete tem condições para prosseguir em estudos. Pediria-se à CE uma subsídio para ajudar as vítimas. Os bombeiros, que são sempre o pau pra toda obra, ficariam a braços com todo o trabalho, enquanto se discutiria em Parlamento as falhas do Governo quanto às ajudas orçamentais. Os hospitais abarrotados e sem médicos e enfermeiros que cheguem, iriam logo justificar a falta de meios perante gigantesca catástrofe...e quem sabe quantas greves iriam entrar pelo meio só como forma de oportunismo barato? As vítimas?? 

Bom, saberiam desde já que os seguros que andam a pagar não são bem aquilo que esperavam, estariam a mercê das intemperes, sem ajuda possível da polícia, pois já nem combustível para os carros tem e andariam a nora... Forças Armadas??? Tá bem tá... Mais facilmente abririam um peditório de apoio às vítimas do abalo, gabinete este que só funcionaria das 9 às 17 horas, com colaboradores pagos a recibos verdes... Ouviria o Sr. Primeiro Ministro dizer que tudo está sendo feito e que é uma desfaçatez da oposição e de um oportunismo gritante dizer que o Governo nada faz...

Deixo aqui os meus respeitos à população japonesa, a minha admiração pela sua combatividade e os desejos que se recuperem o mais depressa possível. E vejam lá se não atrasam os capítulos do Naruto...  :)

Às almas que se elevaram depois esta catástrofe, que encontrem a paz e o lugar certo para evoluírem mais um bocadinho...

Apareçam... Sayonara

Rakel...