Famosidades, Normalidades... e que raio é isto tudo?

Outro dia, na fila do supermercado, dei uma olhada de relance nas revistas em exposição, daquelas de pura fofocagem popularucha e sem qualque tipo de artigo de fundo, e leio as letras gordas que diziam assim:

" Aumente a sua auto-estima ao ver as fotos das estrelas com celulite."

Sim, os aumentos, desemprego, precariedade social, tudo isso fica lá em último lugar, porque a minha vida há de ser melhor por saber que uma das actrizes do "Donas de Casa Desesperadas" tem celulite...fala sério...

O culto da perfeição ainda está aí pra lavar e durar, e embora a celulite possa ser um probleminha para nós gajas, na verdade, não há nada mais feminino do que isso. Agora fazer disso a bandeira do que se considera politicamente apresentável, é muito fútil. Mas o que é verdade, é que existem dois mundos bem distintos entre o mundo dos famosos e o nosso, dos ditos normais e anónimos.

Falando sério, imagine-se você, uma garota de 14 anos, com uma mãe de 52 anos (mais ou menos), que te proíbe de fazer uma data de coisas, que controla o seu FaceBook, que não permite uma vida normal de adolescente...mas ela, essa mãe bem controladora, solta a franga como bem quer e lhe apetece, pega tudo quanto lhe cai nas mãos, não nega fogo à nada... e se veste de uma forma bastante...como direi? arrojada??

Certamente, mesmo que a dita mãe seja enxuta, com tudo no lugar, acho que, qualquer filha não iria se sentir lá muito bem. Mas estrela é estrela, mesmo que as vendas dos seus CDs tenham caído de ano pra ano, que a sua criatividade tenha se esgotado no 3º CD, nada disso tem peso porque é DIVA. Mas parece que no campo de exposição pública, tenha sido a plataforma para não cair no anonimato, ela pode fazer tudo que uma mãe normal e nas mesmas condições de aparência não pode.

Antes que a hoste pró Maddona comece aqui a me chamar de santa pra baixo, aviso que não estou contra o facto dela usar este modelito. Estou contra o facto de que, por apenas pelo estatuto da fama, uns podem tudo e outros nada. Essa cena do povo escolhido, dos que podem tudo e são tocados pela mão divina é uma ideia bacoca e sem base.

Da mesma forma, se por acaso você tem uma irmã, uma prima, filha, amiga do peito, que por culpa de uma relação detonada e muito ruim descamba completamente, se transformando numa ruína física e psicológica...fica só rindo e fazendo pouco dela? Vai ficar tirando fotos e colocando em blogs a dizer que mais uma vez ela estava bêbada e deu show de estupidez?

Duvido muito que um pai ou uma mãe não tenha meios persuasivos para conseguir ajudar essa filha, nem que não haja outra maneira  que não seja na mão dura, fazê-la chegar à razão. Mas por um motivo que me escapa completamente, muita gente do "meio da fama" entra nessa vida e parece que fazem questão em não ajudar em nada. Porque assim vende nome, revista e dá uma certa imortalidade podre. A tal da história da nova Janis Joplin...

...e depois ainda dizem que não há relações destrutivas... Sim é verdade, ninguém apontou uma arma na cabeça dela, Black não a ameaçou de morte para que ela se tornasse uma dependente química. Mas o facto é que ajudou imenso... E nessa foto aí de cima de Antes de Black e Depois de Black é bem patente a questão. Ainda tenho esperança da Amy voltar ao que era, que volte a fazer trabalhos fantásticos e que se refaça por completo.

Um dos maiores flagelos actuais, é a violência surda e velada. Na violência doméstica, nem precisam viver juntos, na mesma casa, basta terem uma relação. Hoje, a gente pode intervir, ajudar, mesmo que muitas vezes a própria vítima nem pense que precise. Há entidades como a APAVE, que ajudam as vítimas de maus tratos dando apoio psicológico e jurídico. Mais, fornece lugares para que as vítimas se afastem dos agressores e recomecem uma nova vida.

Mas na gente famosa, além de ser um lavar de roupa suja em praça pública descarado.. acaba tudo em águas de bacalhau, ou muito brasileiramente... tudo em pizza.

Mas vende revistas, enchem blogs de assunto... e muita gente se sente vingada por não ser só ela, uma simples mortal que passa pelo mesmo. Mas que raio de mentalidade é está do: "ainda bem que ela tem a mesma vida de merda que eu?" Rihana foi exemplo disso...

Ainda no culto daquilo que se chama socialmente aceitável, ou vendável, vem a história antiga da bulimia e anorexia. Famílias inteiras sofrem imensamente com este flagelo complicado de rebater. Não é só a menina de 14, 15 anos que entra essa auto-destruição. Muitas mulheres e homens com problemas relacionados com imagem, auto-estima e muita, mas muita pressão profissional cai nesse buraco. Modelos, actores e actrizes que vivem de vender uma imagem que se chama a aceitável e quem vende são levados a tomar medidas drásticas que colocam em risco a saúde e a vida. Há um par de anos foi uma razia de modelos a morrer de anorexia e bulimia, houve até acções de alguns países da moda que começaram a colocar peso mínimo para que as modelos pudessem desfilar. Mas nada disso ajuda quando as revistas, lá está mais uma vez, para vender a imagem correcta, manipulam as fotos e colocam na capa a moçoila toda magrinha.

Até o mundo de Hollywood coloca essa cláusula surda de magreza para seleccionar as actrizes que aparecem na tela. Prova disso a Keira... pele e osso, mas vendável.

Fosse sua irmã, prima, amiga ou filha e já teria recorrido aos serviços hospitalares e feito de um tudo pra resolver a situação. E mal de si que não fizesse nada... a comunidade a nossa dos mortais anónimos cairia de pau em cima de quem negligencia tal forma de vida. Mas ela pode desfilar a roupa em jeito de cabide ambulante, apenas pra agradar produtores e indústria cinematográfica. Esta imagem de gente famosa e de glamour é o que entra pelos olhos adentro das meninas, que fatalmente acabam por copiar.

Mais... há uma data de blogs que colocam diariamente fotos de gente famosa sem aquela camada de pinturas e pós de pirlipimpim, cara lavada e normal. E fazem pouco, debocham, como se uma pessoa tivesse que ser todas as 24 horas do dia um personagem de ficção.

Apontam os defeitos, as olheiras, a barriga emergente, a bunda descaída,  e me pergunto, se essas pessoas que publicam são o supra sumo da beleza. 

Entre famosidades e nomalidades, entre a capacidade de aceitação do que é ficção, realidade, poder ou não poder, há gente. Pessoas de carne e osso. 

Os parâmetros de beleza que a sociedade quer empurrar pela nossa goela abaixo é uma coisa, a nossa capacidade de enxergar aquilo que nos faz bem é outra. A decadência não está ligada de forma alguma aos números da balança, ao ar de Diva. Há uma data de coisas tão maiores, tão mais importantes que transcendem a isto tudo.

Se pergunte, você que se enamorou de alguém, se não é o sorriso, o olhar, a forma como coloca uma madeixa de cabelo atrás da orelha, a forma como morde o lábio, o jeito de colocar a mão na sua... que faz toda a diferença?

Se nem nisso reparou, nem no som da gargalhada, nem saber distinguir na voz ao telefone os estados de espírito, então é só mesmo uma pessoa que consome imagem. E isso é indubitavelmente pouco. Falta essência, e só por isso, lamento muito.

Apareçam

Rakel.