A Revolução do P


A maior parte das pessoas dão mais importância ao facto de que, na T.V, o nome do país aparecer Egito e não como todo mundo conhece: Egipto. Lembro da minha avó paterna comentar a fase em que o H sumiu da pharmácia houve um burburinho popular contra essa desfaçatez, essa agressão contra a língua pátria. Contou-me ela também, que o meu bisavô, um homem com ideias largas para o começo do século XX, assim que soube que a luz eléctrica chegaria à Castelo Branco, arranjou maneira de que a a casa tivesse a instalação necessária. Depois da instalação e das primeiras luzes acenderem, as visitas habituais deixaram de ir à casa deles. Tinham medo...dos "vapores que as lâmpadas emanavam." Toda mudança assusta, o desconhecido acorda o lado mais primitivo das pessoas.

Neste momento, na terra das pirâmides (não vou agredir a sensibilidade dos leitores que se abespinham com a queda do p), há uma mudança, ou pelo menos, a tentativa de mudança. Toda mudança que se faz na base da revolta e violência, acaba por ser complicada, emotiva e passional... irracional na maior parte. Há uma grande falta de memória, há um esquecer de vivências antigas que se pontuaram pelos mesmos caminhos que agora se percorrem.

Em 1979, no local que agora é o Irão, uma revolução popular igualzinha ao que se passa agora lá nas terras do Nilo aconteceu. O Xá Reza Pahlavi foi deposto após uma revolta popular, acabou por se exilar...vejam só a ironia do destino, no Egipto... ele e a mulher, Farah Diba, um tipo de Jackie Kennedy do Oriente. O que veio substituir a ditadura do Xá foi a ditadura do Aiatolá Komeini... e agora o Irão é a terra do fundamentalismo egoísta islâmico, e da ditadura dos Aiatolás. A revolta agora iniciada no Egipto alastra como fogo em palha, Iemén, Jordania...a coisa tá preta. É verdade que muito pouca gente lembra do que se passou no Irão, foi lá atrás.. no século XX, e me pergunto se o Khadafi, não olha com alguma desconfiança esta tragetória da história do Oriente Médio com algum medo. Ele, tal como Mubarak, o Xá, o Saddam e o João Jardim (ok, esta é a minha embirração particular) estão, ou estiveram no poder há mais de 30 anos e estão em vias de perder o lugar...


O que me amofina a cabeça é o povo, a turba que, julgando que a liberdade de protestar dá permissão para matar, destruir e roubar. Há uma grande confusão do significado da palavra LIBERDADE, ela pode ser exigida, mas tem as suas regras. Agora, nesta dança insana de protestos e reivindicações, irão aproveitar o ensejo e vão pular no pescoço das minorias: os cristãos, os ocidentais e todos aqueles que não tem um camelo ou cavalo e não se armem em paladinos da liberdade. A palavra respeito vai pras urtigas em nome de uma liberdade mal direccionada. E quem vai pagar por isto tudo? O mundo em geral. O Canal do Suez, ponto de encontro do Ocidente e Oriente vai ficar hipotecado nas mãos de quem vencer este braço de ferro. Dependentes como somos do petróleo vamos pagar um preço alto por isso, há demasiadas indústrias e serviços dependentes dele. Me pergunto se esta convulsão social e económica não servirá para que, finalmente, o mundo se vire para as energias alternativas de uma forma mais activa e maciça.

Daí que, se o P do Egipto caiu ou não, à mim tanto me faz como me fez, faço como o meu bisavó João Pinto, que se borrifou com os comentários ignorantes sobre os "vapores venenosos das lâmpadas" e iluminou a vida dele. Há coisas mais importantes do que a mudança ortográfica... há gente, há populações que, como diz o Freitas, colocam cravos nas armas, sobem pra cima dos tanques de guerra... mas se escusam de lembrar outros que passaram pelo mesmo e que agora estão na merda.

Apareçam

Rakel.

Comentários

  1. Quer-se-dzeri (antes que reclamem, está muito bem escrito assim, e sabe-se lá, talvez origine um novo acordo ortografico), não vem aqui uma pessoa há uma semana e quando cá vem parte logo o coco a rir.
    Primeiro é a paxareca do post anterior (sim conhecia-lhe muitos nomes mas paxareca não), a agora metes o João Jardim no mesmo saco que os muçulmanos?
    Não ofendas os muçulmanos amiga!
    Ainda por cima colocar todos no mesmo comentário (a paxareca, o João Jardim e os muçulmanos), vai dar molho.

    Jinho, diverte-te e vai-nos divertindo também.

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  2. Catekista...João Jardim é um fenómeno que dá assunto até mais não. Desde o tempo da foto em cuecas (que deixa qualquer gaja traumatizada pro resto da vida) coisas de Carnaval, até às bocas bombásticas. E se não sabes ficas a saber, a palavra com mais sinónimos é realmente a genitália...é uma lista infinita. Usei a mais mimosa e menos científica, é verdade, mas sempre mais compostinha do que "sovaco de perna".

    Bjo

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