Adeus...ou Até Logo...

Num post do ano passado, falei da incapacidade que temos de dizer aquilo que sentimos de verdade aos que mais gostamos e amamos. Pensamos na bobagem que isso é, pois mesmo que não diga agora, mais tarde há de ter tempo. Mas a vida tem as suas voltas e reviravoltas e quando menos esperamos o momento não apareceu, e a pessoa de quem tanto gostamos... vai embora. Fica aquela sensação amarga de culpa, de revolta, mas na verdade protelamos demais. Por isso que escrevi o post em questão.

Mas acho que, mais difícil que dizer o "Gosto de Ti" é saber dizer "Adeus" ou "Até Logo". Ambos de certa forma implicam um corte radical ou definitivo na existência e convívio entre duas pessoas. Mesmo pra mim, que acredito que  a morte não é um fim, mas apenas uma etapa entre vidas, custa-me imensamente a perda de alguém que gosto. Mas pior pra mim do que perder essa pessoa no plano físico, é não ter a chance de me despedir dela, de dizer o quanto gostava dela. Mas tenho sempre aquela ponta de corda onde me seguro, a certeza que, mesmo na ausência física, aquele que se foi sabe bem o que sinto cá dentro.

Há quem seja pragmático e que pensa no fim definitivo: morreu, acabou. Dão como base à essa tese e crença que, ao que se saiba ninguém voltou pra contar nada de lá. Não há provas (nesse caso científicas) que provem a existência de vida no plano espiritual. Embora hajam pelo mundo todo estudos sérios de Universidades conceituadas, ainda assim, o plano espiritual continua a ser um tema Tabu na sociedade actual. 

Acreditar no céu, inferno, purgatório, limbo, umbral, dimensões, planos espirituais...é muita coisa pra absorver, escolher e acreditar.

Mas lá está, céptico ou não, ateu ou crente fervoroso, a morte não escolhe quem, nem hora, nem maneira, leva e pronto. Não discuto nem por sombras esse facto consumado. É a lei da Natureza, é preciso que algo morra pra dar lugar à algo novo no seu lugar, e da mesma forma que, depois de uma queimada novas flores e plantas surgem, num reviver natural e perpétuo, assim acredito que seja a nossa vida e morte. Um ciclo natural.

O que me custa bastante a aceitar é a forma que, nos dias de hoje, de grandes avanços humanos e tecnológicos, ainda se sofra tanto para morrer. Indiscutivelmente morre-se com dor nos dias de hoje, os doentes que caminham para o fim no limiar da morfina sabem que isso não chega. O fim está ali, dia marcado, mas pra chegar até lá terá que ser com sofrimento. Se alguém tiver a desfaçatez de me dizer que o nosso sofrimento é a expiação dos nossos pecados, me pergunto então porque cargas d'água Jesus morreu na cruz... e Catekista, hoje é a sério... não aceito argumento que deus não interfere nestas coisas. Aliás, pai omisso que deixou o filho a sofrer na cruz...mesmo que o filho gritasse "pai, afasta de mim esse cálice". E ficou na indiferença superior... não aceito dor como prova de fé. Prova de fé é praticando o bem.

Dizer "Adeus" é um engulho na alma da gente, é preciso coragem de dizer, saber dar voltas e organizar cá dentro. Custa muito, mas custa mais ainda não dizer ou deixar andar... 

Hoje nem sei bem o que hei de dizer... não encontro palavras que possam aliviar a mágoa e sofrimento da minha grande amiga e mana que perdeu o pai nesta madrugada. Assisti-lhe a revolta, o inconformismo ao ver o definhar daquele homem na dor, no sofrimento físico e psicológico. Só consegui dar-lhe a minha atenção, dividir com ela as palavras de revolta, porque tal como ela, não aceito esse tipo de fim como digno para ninguém.

Amanhã, vou estar presente no último "Adeus", embora cá dentro saiba que apenas nos vamos despedir do corpo físico que carregou aquela alma. Os rituais são importantes para que a gente possa caminhar em frente. O tempo do luto, da aceitação e da paz interior. Esquecer? Nunca, pois quem nos marca, quem nos deixa a sua essência, nunca desaparece. Por isso eu prefiro dizer um "Até Logo", pois acredito que um dia havemos de nos encontrar...

Apareçam

Rakel.