Prendas


Esta  é aquela  época que, por imposição social, peso na consciência ou como a paga à aquela chantagem descarada para conseguir algo dos mais pequenos, há que abrir os cordões à bolsa e gastar um bom tanto em prendas.

É verbo gastar e dar usado e abusado como símbolo da nossa...afectividade?? Como se afecto tivesse preço, mas, lá está, como a tradição manda, a gente amocha. Bom, depende muito da visão que cada um tem do que quer transmitir como mensagem. Dizer que é uma forma de mostrar afecto e que se lembra da pessoa é pouco, porque não deveria haver data para isso. Muitas vezes é uma forma de compensar a falta de tempo, atenção e carinho à quem nos rodeia. E a medida é, quanto mais cara é a prenda, maior o sentimento de culpa. E nem assim compensa as birras, as brigas, amuos e afastamentos. 

Pouca, ou nenhuma gente perde tempo em ensinar as delícias de um jogo de dominó, do 21, da memória ou da Glória aos filhotes. Ou passar uma tarde toda no chão da sala com lápis de cor e papéis a desenhar e pintar. Damos coisas que os entretenham uns tempos, que fiquem hipnotizados em frente de uma tela esquecendo até que tem fome. Jogo de damas? Xadrez?? Vai lá vai...
Da mesma maneira, muitos que estão casados esquecem o facto que ainda são duas pessoas juntas, e perdem o hábito da saída a dois, sem putos, sem amigos. Um cinema, um copo num bar, isso tudo parece um passado distante e jogado lá no baú das lembranças. Dar tempo, à quem está perto de nós. Aí surgem as tais prendas caras e compensatórias, as que julgam aliviar a consciência.

Dar é um verbo interessante. É algo que sai de nós, aquilo que oferecemos, de consciência aberta e francamente. Esperar um retorno do acto de dar chama-se comércio, troca, venda. Não é a mesma coisa. É não ver a prenda pelo preço, pela raridade...porque é tudo relativo.
A gente vive na era tecnológica e comodista de, em vez da visita, do convívio, há o telefonema mensal, o mail ocasional e o cartão festivo da praxe. Depois há a prenda no dia técnico, calendarizado e institucional. Mas nada, mesmo nada substitui o abraço apertado, a visita presente, o beijo no rosto e a presença pessoal. É verdade, há o tal do relógio que foge com as horas do dia, não permite grandes saídas e essa inconstância da vontade.

Mas agora, que começa o inferno do dar e gastar, gostaria de dar algumas sugestões. Nada de muito moralista, nada de muito ambicioso, mas fácil de fazer.
Quem tem filhos em idade escolar, sabe que todos os anos sobra material de trabalhos manuais. Lápis de cor, papel de lustro, cadernos de cartolina, cola. Nestes dias frios e nada convidativos a sair, peguem nos miúdos e façam os vossos próprios cartões de Natal. É uma coisa simples e que só pede a imaginação a funcionar. Uma foto da família no PC, sorridentes na praia serve pra fazer um simples cartão de Natal. Basta imprimir umas quantas cópias, colar numa cartolina colorida dobrada em forma de cartão e com colagem ou desenhos dos miúdos. Serve perfeitamente para a família mais chegada. Podem colar pedaços de renda, fitas de seda que andam a rebolar lá por casa sem préstimo e algo que, mais original, garanto que não há.

Há receitas simples de bombons, que embrulhados em papel celofane colorido, fazem um vistão, velas feitas com gel para velas, fazer presépio de argila (a venda nas grandes superfícies) há tantas coisas que, se é uma questão de lembrança... de originalidade, é fácil conseguir. Mas se não tiver mesmo tempo e paciência para esse divertimento/distracção, há duas sugestões que vou dar.

Vi nas lojas do Belmiro Azevedo, bonecos de peluche da National Geographic. Cada boneco que comprar, ajudará na conservação de um animal em vias de extinção. Não é nada por aí além, e para uma criança pequena é um brinquedo aconchegante e seguro.  Apesar da loja virtual da National Geographic ter uma infinidade de produtos que podem ser encomendados, estes estão mais à mão.

Também na loja do Belmiro e nos Correios há produtos da UNICEF, sabendo que na compra de cada objecto está a ajudar pessoas que tem muito menos do que nós, vale a pena deixar de lado o telemóvel de 300€ ao filhote, que invariavelmente há de levar tombos e as chatices de avarias. Há produtos para adultos, crianças e empresas, além dos famosos cartões. Não são caros, nem tem marcas sonantes, mas são giros e servem perfeitamente para dizer: "Gosto de Ti" .

E isso é que é a grande prenda : verbalizar o que sentimos de verdade, o tal abraço apertado, o beijo e presença física. Dê aquilo que tem de melhor: o seu afecto, a sua atenção.  E ensinem aos mais pequenos, que amor, afecto e atenção não tem uma etiqueta de preço caro nem marca famosa. É algo que temos dentro de nós e sem preço... 

Talvez assim cresçam a saber que, mais do que luxo, marca há uma coisa chamada essência, aquilo que faz de nós aquilo que somos.

Apareçam

Rakel

Comentários

  1. Sentido de Vida

    O luto significa dor.
    Dor causada pela morte de alguém.
    O luto é literalmente a vivência da dor.
    O ser humano têm de criar ligações pois sem elas não vive, sem afectividade a vida não é possível.
    Quando se perde o laço afectivo de uma relação abre-se uma ferida que pode levar o resto da vida a sarar.
    A morte é um acontecimento normal na vida, não é uma doença mas pode provocar danos irreparáveis a quem assiste.
    Quem morre não tem dor.
    Quem assiste tem e não suporta.
    A morte alicia-nos 24 horas por dia sem nos apercebermos.
    Mas, sentirmo-nos a desfalecer é doloroso.
    Há dor de viver quando estamos feridos na alma.
    Entramos em solidão e faz-nos querer morrer.
    Desilusão de impotência.
    A mágoa é pesada, sufoca e provoca um estado de espírito negativo que nos leva a pensar no impensável.
    Suicídio?
    Não é para os cobardes, mas para quem tem coragem para o fazer.
    Quem nunca pensou nisso?
    Talvez por nos questionarmos se é ou não um acto de cobardia virar as costas à vida ou de não saber o que está para além da morte com o receio do que nos pode esperar para além do nosso conhecimento.
    Todos temos as nossas cicatrizes e temos de aprender a viver com elas.
    A morte fascina em muitos aspectos, mas só quem morre é que poderá saber o que se passa depois.
    Mais ninguém consegue saber.
    Todos guardamos, ainda que seja muito escondido, a secreta esperança de não morrermos para toda a eternidade.
    O tentar afastar da nossa mente todo o caudal de perguntas sobre o incómodo que nos dá volta à cabeça porque a morte nos dá medo, assusta-nos e repugna-nos ao mesmo tempo que nos fascina.
    A morte obriga-nos sempre a repensar na vida.
    Não somos capazes de impedir que a morte nos leve quando quer.
    A vida é como um dado: tem pontos marcados
    A única saída é voltarmo-nos para a vida e vivê-la a sério todos os dias, todas as horas e senti-la a cada segundo.
    Tudo o que não fizemos e que muito gostaríamos de ter feito, o que de bom desperdiçámos na vida é um balanço que tentamos sempre evitar por medo do arrependimento nos romper o orgulho.
    A medicina não cura a dor da separação.
    Devemos viver intensamente para dar sentido à morte.

    SérgioV.

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  2. Sérgio.. caramba, escreveste um post!!
    Embora tenha percebido que o que te levou a fazer o comentário tenha sido o facto de falar de afectividade...deste a tua visão sobre o assunto. Uma visão abrangente. Mas é verdade, temos de dar de caras com aquilo que menos queremos, o fim de laços afectivos, o terminar de uma fase, ou ser abruptamente arrancados daquilo que nos fazia bem.
    É duro e complicado, mas, se encaras a morte como fim, algo que acaba definitivamente, será muito mais doloroso. Porque além de não te dar respostas, criar revolta, dá-te a solidão.
    A gente não tem que viver intensamente pra dar sentido à morte, mas para dar sentido à vida.
    Há gente que vive intensamente a vida, mas nunca a viveu de verdade. Apreciem a vida como quem aprecia um bom vinho, com companhia, com calma e saboreando.

    Bjo

    Rakel

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