O Medo


Segundo dizem os estudiosos da psique, o medo é um instinto natural de auto-preservação, que na medida certa faz despoletar uma data de químicos pelo nosso corpo, acelerando o coração e dando corda às pernas para escapar de algum perigo. E uma sensação tão forte escrita em uma palavrinha de quatro letras pode tomar proporções espantosas...
O habitual medo de barata e rato, quando dá lugar ao medo de andar de elevador, da incapacidade de permanecer em espaços fechados, com reacções físicas mesmo... fortes, leva ao que e chama de fobia. Fobia vem do grego, e é uma tradução possível de um medo exagerado. Lá vem o velho problema, a tal da fita métrica pra medir o quanto o medo é grande ou pequeno. Dizem que os Dodós, deixavam-se abater por não ter criado medo aos seres humanos. O que quer dizer que a ausência total de medo não é nada saudável.

Há quem use dos escapes sociais pra trocar o medo pelo nojo : "eu não tenho medo de barata, é nojo", dito isso depois de eu assistir um bailado intrincado de pulinhos, mãos a abanar acompanhado de gritinhos...meu santo kitkat, a pessoa em questão era zilhões de vezes maior do que aquela minúscula carochinha. E a barata não deu metade do espectáculo que eu vi vendo aquela tipa aos pulos e gritos...


Mas na história, durante séculos, o medo e a ignorância andaram de braços dados, fazendo dessa união verdadeiras injustiças sociais e massacres desnecessários. Li recentemente um pequeno documento que falava da Grã Bretanha na época mais buliçosa: Elizabeth I, rainha da Inglaterra, protestante, solteira empedernida, uma verdadeira dama de ferro e Mary Stuart, rainha aclamada da Escócia, católica, viúva e prima da Elizabeth. O país não só estava dividido pelo poder político, como ainda por cima pelo poder religioso. E pra mal dos pecados os protestantes, a Mary Stuart e seu meio irmão James acreditavam nos maus espíritos, feitiços e bruxas. Vai daí que se a Mary, depois do almoço, saía pra dar uma voltinha pra esmoer a digestão e alguém sorrisse e depois ela ficava com azia... era mau olhado na certa e churrasco de gente logo a seguir.

Mais, haviam aldeias na Escócia que usavam a justiça popular para punir os filhos do demo, fazendo desde aqueles delicados mergulhos com *cadeira (que ainda não percebi bem a lógica daquilo), à fogueira. Passavam por cima do poder central, os tribunais superiores, nesse caso em Edimburgo, e cá vai disto. O medo e a ignorância são uma dupla perigosa...aliás, a dona ignorancia, quando faz par com outros é um perigo autentico à sobrevivencia da humanidade. Passam por cima do maior mandamento NÃO MATARÁS. Que eu saiba, os Dez Mandamentos não são como as apólices de seguros , que tem aquelas letrinhas minúsculas (que são tão pequenas que passam desapercebidas e como se fossem um linha contínua) dizendo por baixo do NÃO MATARÁS *em caso de dúvida e para poupar tempo queimem, afoguem, enforquem.

No fim da semana passada, numa aldeia qualquer perdida lá pelos Andes, resolveu-se fazer justiça popular, fazendo gala inclusive, colocando perto do estádio de futebol uma placa anunciando não só o dia e hora do linchamento, como também convidando assim a população para participar. Regaram os 3 acusados com gasolina e tacaram fogo...
A humanidade tem tanto de brilhante e compassiva, como de animalesca e brutal...

O medo nas nossas vidas, quando tomam conta da nossa capacidade de pensar,de pesar os valores com os quais somos formados, sem uma luz lógica e pensante proporciona situações tristes e roturas totais. É a forma   mais rasca de reacção. Porque quem tem medo reage, nem que seja a fugir, na pior das situações a atacar a torto e a direito, sem medir as consequências. Inventam-se enredos, justificações, fazem verdadeiros filmes de ficção. Por medo. De encarar as coisas como são, de enxergar a realidade, apenas ficando a soltar gritinhos e saracoteando por causa de uma baratinha, que muitas vezes é isso mesmo. Um problema do tamanho de uma baratinha toma a dimensão de um Godzilla, animal que nem existe.

Muitas vezes, quando nada mais podemos fazer, depois de mostrarmos todos os ângulos de uma questão, de todas as possibilidades... é deixar de tentar explicar. Não vale a pena tentar mostrar que o Godzilla não existe, que uma baratinha é pequena demais para ter medo.

É deixar que se canse de gritar e fazer espectáculo. Quem sabe depois, tenha capacidade de para e ouvir que, medo, quando pequeno e controlável, é saudável. Mas quando toma proporções de um Godzilla...é que algo não anda bem...

Apareçam

Rakel.

Comentários

  1. Não resisti!!!
    10 Mandamentos com letrinhas pequeninas???
    Manda-me um exemplar, please!!!

    Agora a sério, tenho consciência que faço parte de uma das confissões religiosas que mais as utilizou (se existissem claro), e não me orgulho desse passado. Só tento k para futuro, e apenas no que me diz respeito não sejam precisas letrinhas pequeninas para nenhum dos mandamentos.

    Jinho

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  2. Catekista...fosse eu uma gaja endinheirada, e escrevia uma das minhas versões (daquelas) do velho testamento...
    Mas como não sou, vou largando uma ideia ou outra ideia.

    Bjos

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