Tô nem aí pro Obama, pra NATO, pros cortes de ruas em Lisboa... há mais lugares e situações no país pra me aporrinhar a cabeça. Não será o Excelentíssimo Presidente Obama que me vai pagar as contas, lavar os vidros ou fazer com que as filas andem mais depressa. Não tenho nada contra o senhor, mas estou me borrifando para o assunto actual. Da mesma forma o casamento do William, de quanto vai custar o vestido, o anel e toda essa alegoria pegada.
Não será por acaso que ando levemente despreocupada com tudo isso. Há coisas que me atingem directamente e que por isso mesmo merecem maior atenção. Começou há um par de semanas a senda do Natal. Nesta época, mais do que nunca, inclino-me respeitosamente diante de todos os colaboradores/as (antes eram caixeiros/as, depois balconistas...eufemismos...) que escutam o dia inteiroooo as músicas natalícias,aturam os berreiros dos putos, a repetição da mesma frase vezes sem conta saindo do sistema de som da loja "Neste Natal, nas lojas XPTO os seus presentes são mais originais e muito mais em conta" (é só um exemplo).
Olhando bem a cara das pessoas actualmente, o olhar ansioso, aquele ar perdido em contas de cabeça, dos hipers e supers sem aquela antiga enchente de gente procurando maneira de embrulhar as prendas... a gente avalia o estado da moral da população. Longe de mim ser pessimista, não é isso, é este meu feitio observador e comparativo. Recuando uma ou duas décadas, o cenário por esta altura era completamente diferente.
Da mesma maneira constato que, o tal champô que proclama que não deixa o cabelo frisar perante chuva e humidade...é uma treta. Aqui neste blog ninguém pode dizer que eu reclamei uma única vez do calor, dos 40º, da secura ou do sol impiedoso. Mas vão me aturar com o Inverno, frio, humidade e chuva...
Tenho o cabelo um bocado pro lado do comprido...tal como a dona não gosta de ser domado, leva imenso tempo em dar uma ar apresentável...e justo no dia que fica mesmo fantástico... eis que dou de caras logo de manhã com uma boa dose de chuva molha parvos. Daquela certinha. E aí vem a segunda parte...detesto andar de chapéu de chuva aberto nas ruas. As calçadas são estreitas, cruzar com outro chapéu de chuva requer aquele bailado tipo Fred Astair de inclinar para o lado o chapéu e levar uma molhazita na moleira.
Portanto, o tal ar apresentável vai pras urtigas dando lugar ao ar "cotonete de elefante", a franja que anda um tanto comprida descai um bom bocado para o queixo. Ao entrar em qualquer lugar com fila e ar -condicionado, dá tempo de secar ao estilo bagunça total. Mas bola pra frente que ainda é jogo!
Em meia hora me vejo perante a seguinte situação: dois sacos numa mão, chapéu de chuva na outra...e toca o telelé...poderia não atender, é verdade, eles são feitos de maneira que nos permitem decidir se quereremos ou não falar. Mas atendi...e só tenho dois braços. Ao abrigo de uma varanda, tive oportunidade de colocar os auriculares a funcionar e voltei à condição inicial.
E lá fui pela rua, falando e rindo com a narração de um sonho absurdo...peguei o autocarro, desço na lojinha do Belmiro, vou à tabacaria e explico à minha amiga telefónica pra não tomar chá de limão só com limão... castiga um bocado o coração. Olho pra Vanessa, a balconista da tabacaria, e vejo o olhar embasbacado, olho pro lado e vejo uma senhora olhando pra mim meio a medo. A cara dela era do tipo : "Coitada... é o que fazem as drogas..."
Paro a conversa no telelé e levanto o cabelo pra mostrar que de maluca... não tenho assim tanto. A Vanessa respirou aliviada dizendo que achou estranho eu estar a falar para o escaparate dos livros... e a senhora então rasgou um sorriso e deixou sair um "Essas modernices..." Mas aí me bateu um pensamento ocioso...quantas pessoas na rua não terão ficado como a Vanessa e aquela senhora? Olhando para uma gaja com um cabelo de meter medo ao susto, falando sozinha e rindo pela rua. E a culpa disto tudo é de quem???
Da chuva, do frio e do vento... e ainda mal começou...fonix!!!
Apareçam
Rakel.
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