Um segredo pra valer mesmo como isso, ninguém pode saber. Não se divide com ninguém, é daquelas coisas que não se confessa em conversas de travesseiro nem no auge dos vapores etílicos. No momento que um segredo passa de mão em mão, boca em boca...aí passa a ser uma fofoca velada.
Quem na adolescência já teve um "Querido Diário", onde se escrevia tudo aquilo que aporrinhava na vida, desde a mãe lapa, o pai sorna e o grande amor da vida que "anda com a vaca da miúda mais gira da escola", sabe que o grande X da questão é conseguir guardar o diário em local seguro. Lá se coloca tudo aquilo que não queremos que o resto do mundo saiba, mas que para nós é uma grande verdade. E quem já teve um "Querido Diário" sabe que o maior problema era o fatal : "e se alguém encontra e lê isto?"
Quem lê este post deve estar com aquele sorrisinho indulgente e paternalista da bobagem do diário adolescente, como se fosse uma coisa boba e sem jeito nenhum. Se pensa assim, acredito que os ossos de Anne Frank devem estar se revirando de indignação. Até os dias de hoje, o diário dessa menina é um marco na literatura, a narrativa de um cativeiro auto-imposto pelo simples facto de ter nascido judia.
E quem não se divertiu com as histórias malucas do Diário de Adrian Mole? Aquele adolescente britânico, que tinha um pai verdadeiramente incapaz, apaixonado por uma miúda que não lhe ligava puto, e que vivia numa permanente luta contra as mudanças do corpo. São os pequenos segredos inofensivos, dirá quem me lê.
Mas...da mesma forma que crescemos e continuamos a guardar gostos, lembranças e vícios, a vida se encarrega de repetir as mesmas coisas de antes.
Imaginem que o espião é como um Adrian Mole, que de binóculos e munido de uma data de engenhocas espia toda a vizinhança. E escreve religiosamente um diário, onde apelida o vizinho do lado, o respeitado e conhecido comerciante da cidade de "porco bêbado" ou a senhora Francisca de "beata tarada do chicote".
E vamos supor que, um irmão mais novo, vingativo e metidiço encontrasse o diário de vigilância e num assomo de sacanice publicasse tudo na net... Foi mais ou menos isso que aconteceu com a diplomacia americana esta semana, com a publicação de documentos secretos da espionagem americana.
Ali, preto no branco são revelados as opiniões nada abonatórias e bastante embaraçosas de todos os políticos do mundo. Ninguém escapa à esta razia de maledicência, acho que nem o Papa. No Wikileaks, é possível encontrar todas as coisas que vazam da apertada malha do segredo de segurança mundial. O que se percebe é que de apertada não tem nada, ou porque, segredo..tem prazo de validade.
E é nisso que acredito, pode demorar muito tempo, menos tempo, mas quando algo acontece, por mais que se esconda, se cale, se apenas dois dos intervenientes sabem do que se passou, há 80% de risco de mais dia, menos dia, esse segredo andar na boca do mundo. Daí a nossa responsabilidade em cada acto, em cada escolha, saber se somos capazes de lidar com o retorno de cada uma dessas escolhas e atitudes.
Não é uma possibilidade, é uma certeza. O que uma pessoa pode ver como uma grande falha ou vergonha, outra poderá ver como um simples acaso sem consequências. Daí que o segredo repartido, acabe deixando de ser e virar a fofoca do momento.
O mais engraçado nisto tudo é que, a diplomacia americana não se sente envergonha pela opinião formada pelos colectores de informação, mas pelo facto de ter vazado. Esse é o grande embaraço... a malta saber o que eles pensam de nós.
Quando digo que, ser adulto é ser uma criança grande, apenas com brinquedos maiores e mais caros, não estou muito longe da verdade...
Apareçam
Rakel.
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