A Cabeça...Esse T-Zero Nosso (des)Conhecido


Alguém já ouviu falar de uma situação chamada "acto falho"? É quando a gente pensa uma coisa e faz ou diz outra completamente diferente. A explicação mais simplista diz que isso acontece, porque a cabeça pensa uma coisa e a boca outra. Mas a boca só se movimenta porque a massa cinzenta quer. A área da linguagem é comandada pelo nosso cérebro, portanto, a boca não é tão independente assim como parece. 

O nosso cérebro, este T-Zero habitado por neurónios, tem uma particularidade interessante: aquilo que chamamos de consciente - actos e pensamentos feitos de acordo com a nossa vontade, uma participação activa do que queremos e somos. Mas depois temos o danado do inconsciente...aquela parte que serve de grilo falante, que sozinho se vira muito bem e que sem pedir licença comanda quase todo o nosso corpo. Quem julga e diz que comanda a sua cabeça... tá se enganando.

Daí que o acto falho acabe por muitas vezes ser a válvula de segurança da nossa cabeça. Quando reprimimos demais aquilo que não queremos enfrentar...acaba saindo da boca uma Madalena para quem se chama Josefa. Essa coisa de enganar-se nos nomes é um bom indicio de que há alguma Madalena, que por acaso anda sempre no pensamento, e que não se consegue arrumar direito na gaveta certa. 

Vamos ser honestos, a gente faz batota connosco muitas vezes. Queremos encaixar à força toda um modelo que achamos o melhor, quando na verdade não é isso que queremos e nos dá conforto. Nós somos seres que não gostamos de viver no desconforto. E o subconsciente faz o favor de nos lembrar de tudo aquilo que está mal organizado, mal baseado e nos vais alertando. Vezes sem conta. Puxar uma cortina de brocados e dourados por cima do subconsciente é o trabalho do consciente. A nossa parte activa constrói situações e simulações que calem a boca do subconsciente. Mascara de uma certeza a maior as inseguranças, faz parecer que tá tudo bem a maior das fragilidades.


Estamos ali, de frente para o problema, que nem é assim tão grande e complicado, sabemos a resposta e a atitude correcta, mas perde-se o Norte tentando dobrar essa realidade numa outra alternativa. Aquela que a gente fabrica e considera a que gostamos. Aí, não há "xinxim minha nêga", o subconsciente salta cá pra fora e faz das suas. Porque, diante da questão, da pessoa, do que seja, o subconsciente salta e diz: "Pára tudo que isto não está nos conformes". E há deslizes, actos falhos, nosso corpo prega partidas e não sabemos (ahhh tá...não sabe) porque isso acontece.

Sabemos, ô se sabemos, mas temos esta maldita mania de não enfrentarmos as coisas como elas são: que nem todas as coisas que são aparentemente o modelo da nossa felicidade são realmente A NOSSA FELICIDADE. É isto mesmo que eu quero? É esta a vida que quero ter? Sou a pessoa que quero ser? Sinto esta culpa...porque? A culpa é das coisas que adora andar de braço dado com o subconsciente. Não dá  bom dormir e não alegra o dia. Toda gente pega na culpa e joga lá pra trás do T-Zero, portanto, é inevitável que a culpa e o subconsciente façam companhia uma à outra. A culpa fica sempre lá atrás, pois ela nunca é nossa...

...a culpa é da vida, da sociedade, da família, da moral, pior, ainda há quem jogue as culpas à olho gordo, inveja, mandingas e bruxarias. Porque a culpa não é nossa. Nos alheamos dessa paternidade/maternidade e fazemos da culpa a nossa filha bastarda. Não é nossa de jeito nenhum. E quanto mais a gente nega esse parentesco, mas o subconsciente trás essa "criança" à tona pro papá e mamã verem. E aí acontecem essas coisas giras que a gente chama de azares...deslizes.

Quando a sabedoria popular diz que, a felicidade está na nossa cabeça, não é sem razão. Se sabemos o que queremos, se temos a certeza absoluta que a nossa vida corre melhor diante desta e daquela maneira, sem culpas, sem medos, sem sofrimentos...então estamos no caminho certo. Mas mesmo que a gente insista em afirmar que quer a Lua, mas ela tem que ser roxa ou verde, porque é assim que eu gosto...aí correm mal as coisas. Ou se aceita a Lua toda... esburacada, nas suas fases, sempre e só ela...ou não vale a pena puxar a tal cortina pra tapar o subconsciente. 

E não se consegue nada, absolutamente nada, sem fazer alguns estragos pelo meio, sem ter que abrir mão de alguns confortos, e ter que dar um grande salto para o desconhecido. porque pior do que ter que enfrentar a opinião do povo... é ter que olhar de frente no espelho e não se sentir contente com a peça em que se vive e é personagem. Honestidade...começa justamente com a gente mesmo. Aceitar o facto que nem tudo é como a gente quer, que nada é absolutamente perfeito, que há uma constante na vida chamado IMPREVISTO. E pra quem é obcecado pelo controle...perde-lo, é ficar com o mundo virado ao contrário.

Honestidade, frontalidade e certeza.

Bem dizia Buddha, que a base dos nossos sofrimentos... somos nós mesmos. Porque escolhemos mais vezes sofrer, por ausência de auto-análise, do que pensar se vale a pena mesmo sermos escravos de pulsões e ilusões. Pergunto então: pra ser feliz...é preciso mesmo se enganar?

O Inferno e o Paraíso...são aqui mesmo, é o que a gente faz com a nossa vida.

Apareçam

Rakel.

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