Serviço de Futilidade Pública III


Engraço perceber como o cidadão civilizado dá importância aos trapinhos que veste, o conceito de moda e de estilo. Depois comparar isso tudo com povos chamados de primitivos nos vários cantos do mundo. Para algumas tribos de África o conceito de beleza se revê em contas, colares, aquelas mistelas coloridas com que besuntam o corpo. Noutros lugares fora do continente africano, são as tatuagens, as penas e aquele tubo engraçado que os homens de certas tribos da Papua usam para tapar o pirilau. É uma questão de destaque e estatuto social.

Isto leva a crer que, seja primitivo ou civilizado, a humanidade tenta se distinguir e procurar status através de adereços e roupas de destaque. Seja uma Armani ou uma mistura de barro com bagas vermelhas... uma pessoa quer parecer bem. Na angústia de cada estação onde tentamos perceber quais as cores e tendências (o que pra mim este ano é muito fácil, há os cinzas, pretos e bordeaux), eis que uma dupla de cientistas resolveram detonar o mundo da moda com a sua última invenção: a roupa que pode ser feita directamente em cima da pele apenas usando uma lata de spray ou um um daqueles compressores com a peça certa pra pintar sob pressão. As texturas podem variar conforme a fibra: lã, algodão ou acrílico. A variedade de cores e formas são incontáveis. Mas o grande lance é que este tecido pode ser retirado, lavado e tornado a usar. 

A malta que é criativa e tem montes de ideias deve estar a esfregar as mãos e pensando : "Aleluia!! Chegou a minha vez".
Mas eu aqui comecei a pensar no lado prático da coisa, porque eu me imaginei logo a desenvolver mentalmente uma roupa em spray... até chegar na parte das costas...
Embora não seja completamente emperrada, nem esteja entrevadinha, conheço as minhas limitações contorcionistas. E mesmo assim... não há Yoga que chegue pra cobrir costas...e o fim das costas como deve de ser. 
Depois pensei em outro detalhe: a roupa interior. No clip em questão as pessoas estão nuas da cintura pra cima, tudo bem, mas depois... e da cintura pra baixo?? O que se faz com o resto do "relevo" do corpo?? Hão de ficar os pinduricalhos expostos ou levemente cobertos? Ok, aquilo seca e depois pode se vestir como qualquer peça de roupa por cima da roupa interior, mas mesmo assim... acho estranho.


Talvez seja caso de, no desenvolvimento desta nova tecnologia, cada pessoa tenha em casa um manequim com as suas medidas pra fazer esta roupa nova. Se já há gente, com guarda-fatos com arcas frigoríficas acopladas (para os casacos de peles e as malhas de angorá e caxemira) , se calhar, o futuro dos Jetsons já tá aí na nossa frente. E o nosso futuro será entrar numa loja pra comprar umas latinhas coloridas pra borrifar como um Picasso os trapinhos novos...

Felizmente os sapatos ainda estão salvaguardados nos seus direitos. Não há NADA que melhore mais o Ego e Humor do que uma pessoa andar de loja em loja a procura do par de botas ou sapatos que não precisa, mas que irremediavelmente há de se apaixonar. Não há corrente psicológica que apresente um argumento convincente pra esta manifestação comportamental, mas que existe, existe.

De resto, as aplicações desta nova invenção vão para todas aquelas que o uso de tecidos podem oferecer, deste as gazes para curativos, tapetes, lençóis, cortinas, estofos... o que a imaginação mandar. Só falta saber se do ponto de vista ecológico é viável e se pode ser reciclado como os demais tecidos. É que com os trapos velhos... ainda se pode fazer papel...

Apareçam

Rakel.

Comentários