Imagens irreais


Ando a tratar da papelada para conseguir outra vez o Abono de Família para o puto mais velho, beirando os 19 anos, precisa de uma data de coisas pra justificar essa benesse estatal. E é verdade, no meio de tantas fotocópias e impressos, acabei por não ter tudo o que precisava para dar entrada no pedido.

"A Srª vai pensar que eu não quero ajuda-la e que estou de má vontade..." me disse a funcionária de maneira genuína.

Mas eu sabia que não, a falta foi minha e deixei isso bem claro. Portanto, a funcionária da Segurança Social foi solícita ao ponto de me dizer:"Traga amanhã as fotocópias, meta-as numa mica e me entregue...nem precisa tirar senha"
Isto já de si me deu um calorzinho bom por dentro. A generosidade dela pode ser vista de pouca monta, mas acho que ela poderia fazer como muita gente: se borrifar nisso.

No dia seguinte, esta que vos escreve agarrou nas fotocópias, colocou numa mica, rumou à Segurança Social, entregou nas mãos da funcionária os papéis e foi-se embora. Agradeci como sempre agradeço, foi a base da minha educação: obrigada, bom dia, por gentileza e faça o favor...
O que eu não esperava é que passadas umas horitas tocasse o meu telelé e de lá uma voz: "D. Rakel, aqui é da Segurança Social, a senhora por acaso não esqueceu de entregar o impresso nº XPTO? Veja lá se não está com você..."
E estava mesmo comigo, esqueci de colocar na mica o impresso...desculpei-me da minha azelhice e ficou combinado que hoje iria entregar o que faltava. Ela entretanto me explicou que para falar comigo telefonou até pro Centro de Saúde, tentando me achar e dizer o que faltava entregar.

Olha, isso me deu um baque por dentro. Porque ao fim de contas...tem muita gente que nem sei o nome e que me dá gentilizas pequenas, mas pra mim, são gestos importantes.

Seja o motorista do autocarro que me vê longe da paragem (mas sabe que vou pra lá) e pára pra que eu entre, seja a balconista do supermercado que me vai buscar o queijo e o fiambre lá dentro, acabadinho de cortar e não o da vitrine. Ou a moça dos frangos, que diz pra eu não levar os que estão já embalados e prontos a levar, mas me coloca dois acabadinhos de fazer na embalagem...
A funcionária do Registo Civil que me arranja uma fotocópia não certificada que precisa ser entregue nas Finanças com urgência...ou a administrativa que me telefona quando a médica não pode dar consulta e me apresenta outra data...

Conheço muita gente boa, mesmo muita gente boa em vários locais. E não será por ventura pelos meus lindos olhos azuis, porque não os tenho. Mas acho que é pela forma que trato toda gente: com respeito. Digo sempre Bom Dia, olho para cara das pessoas, e que olhem pra mim quando falo. Detesto quando tratam as pessoas que nos prestam um serviço, como serviçais baixos e sem categoria. Há os que merecem, já falei deles aqui antes, aliás por causa disso ouvi o clássico : GO HOME. O que me faz pensar que... eu tou certa afinal de contas.

Este povo todo que conheço, que fala comigo todos os dias, que não sei o nome, mas que cumprimento, dou  a minha atenção e o meu não muito belo sorriso... esses valem a pena. Seja nos correios, no banco (aí falamos de caça ou de pesca), na papelaria, onde as meninas me guardam as coisas que na altura não posso comprar... farmácia, escolas, polícia...poderia desfiar uma lista enorme.


Aí penso um bocadinho nisso tudo: muita gente que aqui me lê, ou com quem tenho conversas ocasionais em mail pensa que: sou amarga, anti-machista (talvez quisesse dizer que sou anti-homens, o que não é verdade), feminista e comunista. E não é nada disso. Feminista, aquelas de queimar sutiã e dizer que os homens são um cocó não sou. Aliás já aqui disse que muitas coisas que correm mal com as gajas é culpa delas mesmas, que 50% de culpas são nossas.
Contra os homens não sou, mas contra uma certa categoria de homens sim, aqueles que se acham donos da verdade, que gostam de controlar, que desconfiam até da sombra e fazem filmes onde não existe enredo. Comunista... lamento, mas não sou, utópica como disse à um outro bloguista sim sou, porque a minha tendência é Anarquista. E amarga... caraças, se fosse esse poço de amargura que pensam, acham que seria por isso alvo destas pequenas atenções de gente anónima?? Um dos meus poucos mas bons dons é a capacidade de rir mesmo diante de coisas mesmo más...embora use um bocadinho de ironia e sarcasmo. :)

E sou como a laranjeira... tenho umas laranjinhas mesmo doces e outras um bocadito mais pro azedo.. depende...mas quem não é?? Temos os dias bons e menos bons, dias certinhos e outros de disparate total...
O último foi cá a menina mais a mana Stela que saíram da esplanada onde tomaram uma água tónica e foram ver se saíram os horários do novo ano escolar...sem pagar.
A sorte.. é que conheço a empregada :) e voltamos lá pra pagar perdidas de riso... andamos mesmo              despistadas!!!

Portanto, minha gente, há uma má imagem do funcionalismo público e de quem lá trabalha. Mas  se a gente chega lá já entrando a matar, é lógico que não vamos ser recebidos com flores e musica de fundo. E o caso pontual lá no SEF... minha gente, depois de saber que a a minha amiga portuguesa foi lá e a conversa foi outra... só mostra isto: há quem seja bom profissional e há quem escolha não ser. E graças aos céus e todos os orixás, conheço gente boa demais. Quem quiser pensar um monte de bláblás desta pessoa que aqui digita... que imaginem o que quiserem, que façam a imagem que quiserem.

Tô tão bem assim...

Apareçam

Rakel

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