Grandes Filmes

É verdade, cresci com o Star Wars, Indiana Jones, Gelado de Limão e Porky's. Isso era o que eu via em jeito de circuito comercial, que a minha idade também permitia e o ambiente em questão também permitia.

Já aconteceu de, lá pelos meus 15 anos, cabular as aulas junto com as meninas, largar tudo em casa (malas, mochilas e parte do uniforme), rumar pra o Centro e pegar uma sessão executiva. Os inspectores escolares jamais pensariam dar uma ronda pelos cinemas nessas horas, e assim ficaríamos a salvo de reprimendas. :)

Portanto, e como toda gente sabe, muitos grandes filmes surgem de grandes livros. E ler foi sempre um vício, embora aí a censura da idade caísse por terra. Ninguém pergunta a idade para quem quer comprar um livro. Foi assim com o Laranja Mecânica e também foi com o 1984 de George Orwell. Ambos resultaram em filmes, ambos falam da sociedade dita "moderna" dos seus preceitos, preconceitos e formas de socialização. É verdade, não seriam essas as escolhas da maior parte das miúdas de 15, 16 anos de idade, mas foram as minhas escolhas.

O Laranja Mecânica, pelo facto de que me tocaram pra fora da sala de visitas quando um dos amigos dos meus pais disse que foi ver o filme... e falou das tais bolinhas pretas pra tapar... (raios, tapar o quê???) e lá fui recambiada pro quarto. Significava portanto que não era assunto pra uma "mocinha" (como eu detestava cognome...) e que seria deveras interessante saber porque.  :)

Quando o livro apareceu na mesa de cabeceira (não escondi porque achei que, se meus pais sabiam já o enredo não se chocariam, ou bem lá no fundo foi um deitar de meio palmo de língua pra fora em jeito de "toma lá pra veres") a minha mãe fez o questionário habitual e depois me pediu que, quando acabasse de ler lhe emprestasse... giro né?

O 1984 foi algo mais complicado. Pra já ainda vivia em plena ditadura militar e falar de partidos políticos era como querer saber Física Quântica ou falar da Tradição Hermética. Só um punhado de gente o fazia e muito pela calada. Li o livro entendendo metade, porque já tinha ouvido algumas coisas sobre o Socialismo, chegou até tal palavra a entrar num trabalho em conjunto (o que nos valeu uma visita à directoria e uma nota baixa), mas sem conhecimento de causa. Mas entendi o sentido de totalitarismo, o sentido de direccionar as massas em uma via confortável para o poder, o que é certo ou errado... dependia do estatuto.

Talvez, se eu tivesse me deixado ficar pela leitura dos Asterix, Tin-Tin, Capricho e A Super Pop (a edição brasileira data de 1970, mais coisa, menos coisa), não seria certamente esta pessoa que sou hoje. Adoraria portanto ler Nicholas Sparks, O Segredo, e acharia que são livros geniais. E não estou a ofender...são geniais dentro da sua área...mas aconselho vivamente que troquem o Segredo, por qualquer livro do Dalai Lama.

Tenho sim o meu lado nerd e infantilóide para descomprimir o lado mais reflexivo e pensador da minha personalidade. É cansativo ser 100%  filósofo, contemplativo e crítico da razão pura (até porque acho que a razão é volúvel). Mas esses dois livros, com mais umas boas dezenas de outros me deram não caminhos, mas princípios para pensar, parar um bocadinho e organizar ideias.

Deixo aqui a primeira parte do filme 1984 que pode ser visto na totalidade no Tube. As minhas mais sinceras desculpas pelo facto que está sem legendas, mas não está numa linguagem muito apressada, portanto , com alguma atenção, não será muito complicado seguir. Do mesmo autor há o livro Triunfo dos Porcos, que nesta actual conjuntura político/social que vivemos se encaixa na perfeição.

Apareçam

Rakel