Entre Louca e Visionária... Ou Serviço de Futilidade Pública II


Lá pelos idos do final do século passado, nos anos 80, quando era jovem e semi- inconsciente, fui representar junto com a minha prima a cidade de Santarém numas Jornadas da Juventude da Cruz Vermelha Portuguesa. Até aí, tá tudo bonito e certinho, tirando o facto que fomos até Braga num velhíssimo autocarro militar (aliás eram 3) demoramos horas intermináveis (entre nacionais e auto-estradas) e ficamos hospedados numa... Casa Apostólica. Giro, muito giro, montes de malta nova, de todos os cantos do país, dividindo as camaratas, meninas de um lado, meninos no outro, um belo e espaçoso Hall pelo meio.... e hora de recolher.

Um frio do catano (Fevereiro) lá em cima no Sameiro, névoa e bater de dentes desde que acordava até deitar, e uma fome canina que não me largava... aquela cena do pecado da gula. Mas adolescente não sofre de gula, é fome mesmo.

De maneira que, com o passar das horas e a minha facilidade de criar empatia deu lugar à planos de ceias da meia noite. Entre conferencias, discursos e demais falatórios, sobrava um nesga de tempo pra ir até lá em baixo à Braga, tomar de assalto uns supermercados e trazer à socapa alguns bens de primeira necessidade:

Tabaco, cerveja, batatas fritas, pão, frios, azeitonas, queijos, bolachas e chocolates. Entramos sem problemas com o contrabando escondido debaixo da roupa, dos Kispos, casacões e ninguém deu por nada.... pensava eu.
Mas havia um Capitão que andava desconfiado de alguma marosca nossa, sabe aquela coisa de não saber mentir? Éramos uns inocentões palermas, a última geração da inocência deste mundo. Ou foi talvez o facto de... antes de servirem o jantar... eu e mais um par de colegas termos rapado todos os pãezinhos das mesas...sei lá...

O certo é que planeamos ao milímetro a nossa ceia da meia noite, sabendo que tínhamos que fingir que nos deitávamos e depois da revista pelo Capitão e demais noviças... começava a festa. Só esquecemos de um detalhe: iluminação. Pois, ali o recolher era mesmo sem luz, só uma luzinha por cima das casas de banho. Portanto, na hora marcada nos encontramos no Hall totalmente as escuras. Solução mais prática:  tirar emprestado umas velas lá na capela, que não só teríamos que ir às escuras como também passar mesmo ao lado dos quartos de todas as noviças e freiras...

O que me faz escrever este post é isto: eu sou uma pessoa que nasceu com um senso estético mesmo fora de época, mal compreendida e com a agravante de não ser famosa. porque toda gente fez piada do meu pijaminha com bonecos... Mickeis, Minies e Donalds. Hummmmpffff....
Ok era chamativo, e também estava calçada com umas botas coloridas (anos 80 minha gente) e de Kispo. Fiquei conhecida como a menina do pijama engraçado, ou dos pijamas engraçados, porque tinha também um com pavões roxo e lilás...e foi nesse preparo que fomos roubar as velas.. upsss, pegar emprestado, entre risinhos abafados piadinhas estúpidas. O caminho todo foi beirando as janelas iluminadas por uma brutal Lua Cheia...

Mas a Kate Perry pode comemorar o seu actual sucesso com um pijama do South Park... e aparecer assim nas fotos e a acham fofa!!!!


Ok, eu não canto (até me imploram para não fazer), não sou famosa... mas caraças!!!! Sou uma visionária mal compreendida!!! Portanto, aquilo que hoje chamam de excentricidades ou maluquices minhas... mais não são do que ante-visões de coisas que, mais tarde, vocês vão matar pra poder comprar e ter. E tenho dito!

Apareçam

Rakel

Comentários

  1. Eu sei k o post era sobre o bom gosto para pijamas, mas custava ter acabado a história da ceia noturna?
    Eu já estava pronta para umas boas risadas ... e pronto, ficou-se por o ir "pedir emprestado" velas à sacristia.
    Fazes o favor de cumprir o teu serviço de "utilidade pública" e acabares a história?

    Jinho

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  2. Catekista.. foram ceias, mais do que uma com histórias de terror e mitos urbanos. Na falta de fogueira haviam as velas que davam um toque de sessão espirita (o que dentro de uma Casa Apostólica era giro), depois passávamos às anedotas e depois as questões profundas de adolescente e mais crescidinhos (alguns já andavam na faculdade) sobre a vida. Nada de relevante ou picante...

    O giro mesmo era fintar a vigilância...

    Só houve um incidente, que apesar de tudo, era esperado e que nem vem ao caso..

    Bjos

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  3. Eu sei a hitória, mas fiquei tão empolgada a pensar ... hoje vai ser uma história gira, e afinal nem dizes se foram apanhados ou não quando iam ver das velas!!!
    Chatice...

    Bons tempos, né?

    Jinho

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