Vivemos com a noção de que, para ter o mínimo que a sobrevivência pede, temos que ter uma profissão e trabalhar. Por mais humilde que seja o nosso ofício, não deixa de ter a importância devida no conjunto social. Somos inter-dependentes de várias profissões e serviços. Até aqui, a coisa vai bem explicada. Uma coisa é o que se faz para viver, outra é aquela que fazemos para melhorar tanto a nossa vida social como a espiritual.
Enquanto que, uma nos garante o pão na mesa e a renda paga, a outra é de um outro valor, ou melhor, sem preço. É aquele bocado de tempo, ou bocadinhos intervalados que damos de nós para a sociedade e para o nosso semelhante. Isso não quer dizer necessariamente que seja um engajamento total por uma causa, mas pequenas coisas que, mesmo que anonimamente possam dar mais conforto à outros.
O simples facto de separar o lixo, de colocar nos devidos contentores, de usar um garrafão de água vazio pra encher de pilhas usadas, só isso, já contribui para menos poluição, melhor aproveitamento de recursos e resultando numa melhor qualidade de vida. Fazer este ritual na companhia dos filhos, incute um hábito que se espera que continue e que se propague.
A dádiva de sangue e medula no nosso país é uma das realidades mais bonitas e mais importantes que alguém pode fazer. Anonimamente contribui para salvar uma ou mais vidas. E aquilo que acho melhor nisso tudo é o facto que em Portugal é mesmo dádiva de sangue, ao contrário de outros países, como os E.U.A, que o "doador" recebe uma quantia em dinheiro. Isso é venda de sangue. Comercio. Toma lá, dá cá.
O voluntariado, embora ainda gatinhando por estas bandas, existe e apenas dando um par de horas por semana, seja num lar da terceira idade, numa ala infantil hospitalar, ajuda a que a solidão de alguns seja menos pesada. Umas horitas a ler pra crianças, ou dar atenção aos casos do tempo que ainda era mocinha, lá pelos idos de 1940, ou ajudar a escrever uma carta para alguém que já não enxerga muito bem... podem significar muito pra essas pessoas e pra vocês mesmos.
Ajudar, não significa tão somente passar um cheque de um valor mais ou menos interessante, muitas vezes significa arregaçar as manguinhas e colocar a mão na massa. Jogamos tudo nas costas do Estado, que está a se borrifar para estes pequenos detalhes de vida. O Estado que pague à alguém pra fazer essas coisas ... não é??
Não sou católica, nem cristã, mas daquilo que sei, acho que são actos pouco... cristãos. Se o nosso contributo social se baseia nos impostos que pagamos e esquecemos a vertente social e de comunidade, como podemos exigir mais tarde que essa mesma comunidade nos dê apoio e conforto?
Não cultivo a imagem de santa, porque como disse acima, não creio nos santos (pronto, só o santo kitkat e a santa grelância), nem estou a espera de condecoração do Sr. Presidente da República no dia 5 de Outubro. Mas se alguém me pede ajuda (que em 99,9% das vezes não envolve dinheiro) e posso ajudar, ajudo. Muitas vezes ajudo sem saberem que o faço, prefiro assim, ficar nos bastidores e nem saberem de nada, e da maneira que faço, até parece que tudo se resolveu por si só. Não é uma questão de reconhecimento, de retribuição. É a sensação que fizemos algo certo, de bom e que não custou nada de nada para ninguém.
Sei uma receita de xarope caseiro pra tosse?? Dou a receita... não tem os ingredientes? Eu faço e dou. Mas as pessoas pensam que dar significa algo grandioso, vistoso e pomposo. É nas coisas simples, pequenas atenções, que se conquista o sorriso e aquele momento bom do dia. É o lugar no autocarro àquela senhora ou senhor mais velho, ler os preços no supermercado... já ajudei a fazer o subscrito de uma carta para os netos em França...e tava eu nos Correios. Ajudar uma mamã a descer o carrinho com o bebé lá dentro de umas escadarias... há tantas pequenas coisas que não nos custam nada e dão imenso jeito aos outros.
E me acho uma gaja cheia de sorte, mesmo que a vida não seja de momento a ideal. Tenho amigas e amigos que me dão coisas simples mas que fazem ganhar o meu sorriso. Por causa de um pedido muito simples meu, por um comentário que fiz, que gosto de ver as várias faces e cores do céu, que das nossas janela há fantásticas vistas...começaram a me dar fotos do céu nas diferentes fases do dia. Dessas fotos fantásticas, de fotos tiradas das janelas de casa, estou a pensar num clip cá dos meus, juntando todas as imagens e colocar aqui, de maneira a mostrar... que dar, receber, nem sempre são coisas. São palavras, estados de espírito, músicas, cores e estéticas. São estes bocadinhos que arrancam sorrisos.
Rakel.
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