A Vida Não é B.D



Gostava de saber quem foi a inteligência rara que inventou a expressão de Super- Mulher... melhor, quem é o carunchoso que pensa que uma personagem dos quadrinhos, salta pra vida real e ganha vida ?

Pensem bem: por muito boa vontade que se tenha, por muito empenho que se coloque, somos gente, portanto falíveis de erros. Sim, nos cansamos, fazemos todos os possíveis em continuar com um belo sorriso na cara (quando dá) e fazer a vida da forma mais correcta e simples possível. Mas há sempre pequenos senãos que acabam estragando a pintura toda. 

Quem tem uma vida profissional que gosta, que se empenha por ela, sabe que chega uma hora em que... tem que pôr limites. Senão a vida se resume apenas ao trabalho e ir à casa pra dormir. Vida pessoal vai pelo ralo todas as manhãs no duche, em que se pensa que foi mais uma semana corrida, monótona, sempre correndo contra a maré, adiando, abrindo mão dos possíveis momentos de felicidade.

Mas se alguém, principalmente uma gaja, se lembra de colocar travão, de impor limites que não ultrapasse a sua vida pessoal... aí já vem o rótulo de pouco ambiciosa, pouco comprometida com os projectos... porque não sei que camelo inventou que uma gaja deve sacrificar tudo, para se igualar aos gajos. 

"A minha mãe trabalhava em 3 empregos ao mesmo tempo para nos sustentar"

Sem tirar o mérito à esta senhora, que teve que trabalhar em 3 empregos, porque simplesmente se paga tão mal num, que se viu obrigada a juntar 3 pagamentos miseráveis pra a ter um mínimo de qualidade de vida. O mal reside aí. Na necessidade de ter que trabalhar em triplo pra ganhar o sustento, enquanto muito gente apadrinhada, com as costas quentes de partidos, leva pra casa chorudos salários e prémios (agora, tarde é verdade, estão a cortar nos prémios faraónicos) sem fazer ponta de corno.

Felicidade: já falei aqui antes, parece que temos obrigação de sermos feliz, mesmo que por dentro se esteja sabe-se lá como. Esse foi o tema de conversa hoje com a minha amiga Gui. Segundo as palavras dela, está cansada dessa coisa de ou ter que ser princesa ou super-mulher, de ser ou parecer ser algo que não se consegue. Está numa fase ruinzinha, daquelas que dá vontade da gente se afogar no bidé...

O trabalho já não a satisfaz, pelo simples facto de já não darem trabalhos que sejam desafios, cansada de querer entender a cabeça dos gajos, cansada de ter que encaixar no socialmente correcto um bocado deturpado do mundo... cansada de ver o tempo passar e não receber mais coisas boas em troca.

Gui.. bem vinda ao clube.

Primeiro: cabeça de gajos não se entende mesmo, são absolutamente surpreendentes, porque quando a gente pensa que começamos a entender alguma coisa deles... lá sai alguma desconhecida (parva)  faceta que detona tudo. São como putos.. os brinquedos apenas ficam maiores e mais caros... 

Segundo: nos dias de hoje, ninguém é indispensável, todo mundo é usado e deitado fora. Por muito empenho que se coloque no trabalho, muita ambição que tenha, há sempre de aparecer quem faça mais por menos dinheiro, pelo desespero de ter que sobreviver. E quem emprega, se consegue que o trabalho de 5 seja feito (mal e porcamente) por 2.. melhor!! Não se dá já importância à qualidade, mas sim à quantidade. Há quem já tenha apanhado a manha de saber passear pastas e papéis, fingindo que trabalha e parecendo sempre ocupada sem fazer nada... é um talento que se adquire. 

Terceiro: encaixar no mundo padronizado de conceitos, ideias e aparências...é das coisas mais complicadas que existem. Não existe perfeição, pode haver tentativas de aproximação dela, mas o facto efectivo de ser perfeito é apenas uma ilusão. A única saída viável, a que mais resulta é a auto-estima, a segurança em si e na vontade de se manter em cima do salto alto. É uma questão de atitude. Acreditem, eu sei que andar de cabeça baixa, tentando se passar despercebidamente pelo mundo  é um erro grave. Demonstra fragilidade.. e há quem viva pra se aproveitar das fragilidades alheias.


Sorte : não existe. Recuso-me a aceitar que num plano de forças superiores, haja quem se dedique a escolher os sortudos e os fodidos pela vida. Isso é absurdo. Nascemos com as mesmas possibilidades, uma folha em branco e aprendendo desde cedo que há o lado certo e errado, que as escolhas são nossas e delas vem os prémios ou penalizações da vida. Há quem tenha nascido sob uma vida cheia de dificuldades e venceu, há quem tenha tido o mesmo começo e escolheu os atalhos do lado errado. Escolhas de oportunidades, de bom senso, de pensar antes de agir. Isso não é sorte, isso é ponderação e cabecita.

Essa coisa de jogar no colo do azar os nossos erros, sem admitir sequer que errou...nunca vai mudar nada. Pior, jogar no colo dos deuses as nossas tragédias e infortúnios é a pior das covardias. Os covardes são a mais reles raça na face da terra, os nascidos pelo signo da alforreca...

Gui... eu não tenho resposta mágica pra viver, apenas vivo dentro da minha (pouca) coerência. Mas uma coisa te digo: não és a única que te sentes pressionada pela vida, que tentas manter a cabeça fora d'água. Não és só tu a sentires que por mais que falem que o que interessa é a integridade de uma pessoa, as suas capacidades isso muitas vezes fica por último. E o factor C está em pleno funcionamento e para durar. Mas também acredito que ficar a se lamentar não ajuda nada, que ficar triste só dá durante um tempo e que depois é voltar pra cima do salto. Atitude. Mas mete uma coisa na cabeça... super-mulheres e princesas.. só em B.D.

Apareçam

Rakel.

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