...de dar umas voltas e apanhar a espiga. Bom, tem dias que a gente apanha com cada espiga que até anda de lado. Mas hoje foi um dia que vem se repetindo desde uns 20 e tal anos.
A primeira espiga que apanhei (a intencional) foi com a minha avó alentejana... a vó Maria. Ia eu com ela pelo meio do campo, sem saber a diferença entre um alecrim de um rosmaninho (recém chegada de São Paulo) mas com o interesse de quem descobre coisas novas, uma tradição, que segundo a minha avó, pegou da minha bisavó.
E foi então me descodificando enquanto colhíamos as diferentes plantas, o significado de cada uma: o alimento, a luz, a saúde, a alegria, a paz, o amor, o dinheiro... atava depois tudo com uma fita de cetim e pendurava atrás da porta de entrada de casa. Para que dentro dela, nunca faltasse nada, assim como que nos dias de trovoada (e como ela tinha medo delas...) queimava um tantinho do ramo e rezava para Santa Bárbara, a protectora dos dias de trovoada...
Por isso, todos os anos saio de casa, com bom ou mau tempo, sozinha ou acompanhada e vou a cata das coisas para o meu ramo. Verdade seja dita, o meu ramo do ano passado ficou sem muitas coisas, por culpa do mau tempo. Por acaso... o ano passado se desgringolou em muitas coisas, justamente naquelas que faltavam no ramo da espiga. Coincidências?? Quem sabe né?
Este ano então, apesar de andar um bocado constipada... tive a companhia da Stela na cata do ramo, saímos as duas em caminhada pelos campos circundantes, conversamos e rimos. Estive vai-não-vai... pra pular um muro para poder alcançar algumas Marcelinhas, felizmente, mais adiante no caminho, além das Rosas as Marcelas apareceram e assim não fiz disparate nenhum e nem levei chumbada na bunda por invasão de propriedade... :)
Descobri onde mais tarde posso apanhar amoras e marmelos, onde tem excelentes pés de oregãos e alecrim...e assim fazer uns cozinhados cá da minha maneira. Descobri muito rosmaninho e alfazema... duas coisas boas pra saquinhos de cheiro para colocar nas gavetas. Mais que tudo... fizemos uma bela caminhada, nos divertimos e o tempo estava mesmo bom pra estas andanças...vimos imensa gente a fazer o mesmo, na mesma tradição/diversão e isso... foi muito giro.
Melhor que apanhar esta intoxicação de transmissão papal, como se o mundo tivesse parado, porque um homem, apenas um homem, mortal como todos nós, que por acaso é um representante de deus aqui neste planeta de delícias... seja tratado como um deus.
Sair, respirar o ar do campo, rir, olhar para o céus azul polvilhado de nuvens brancas... se deus existe mesmo... acho que estive mais perto dele assim, do que naquele acotovelamento duma massa de gente, que lhe pede indulgencia e que adula o seu representante.
Mas apesar de não ser católica, respeito a fé dos restantes, e deixo aqui como singela prenda este clip de uma música que, nãos sei porque, nunca passou na rádio...
Apareçam....
Rakel. ;)
Nem sei por onde começar:
ResponderEliminarse pela tradição da apanha da espiga que não conhecia o significado, se por ainda não teres falado do papa. Coisa, que de facto eu andava a estranhar.
Mas sinceramente o que não estava à espera era que, no dia em que foi, mostrasses uma maior dose de respeito do que muitos que andaram nestes dias atrás do papa.
Não me esqueço que foste tu a primeira que me falaste desta musica, que fui eu que a encontrei em cd, e que a partir desse dia não mais deixou o meu leitor de mp3.
Gosto da música, concordo com a dúvida de nunca passar na rádio, e continuo a achar que é uma homenagem muito bonita.
Catekista...o significado da espiga se perde nos longínquos tempos do paganismo, que por facilitismo da igreja foi incorporado no calendário litúrgico. Faço a apanha da espiga por duas razões: a minha singela homenagem à minha vó Maria, grande conhecedora de plantas e remédios caseiros e pela minha ligação quase que hereditária com a Velha Religião. O meu respeito se prende à tudo, mesmo que não concorde, mesmo que veja imensas falhas...mas acho que como ser humano, devo respeitar as diferentes formas de pensar, porque é isso que espero dos demais.Não preciso de dar meu comentário mais alargado ao papa, uma vez que ele se encarrega de dar tiros no próprio pé...
ResponderEliminarQto aos Xutos... é verdade, num dos nossos almoços de grupo falei desta música que gostava de ter...e sabe-se lá de onde desencantaste o CD e me deste uma cópia...isso dos Beatles em estilo Barroco...só mesmo ouvindo...
O mal da malta é não tolerar que, há modos diferentes de se explicar, de se exteriorizar pensamentos e sentimentos. Tudo que sai da regra é mau, pernicioso e errado. É pena, mas é a realidade.O fundamentalismos sai das raias do normal e toma tudo.
vai aparecendo...
Bjos
No que respeita a conhecimentos, sempre disse que sabes muito mais do que muito religioso erudito seja de que religião for.
ResponderEliminarConcordo com tudo, especialmente com a última parte.
O mal da malta é mesmo a intolerância por tudo o que é diferente, e por todos os que pensam de forma diferente.
Já sabes k vou sempre aparecendo.
Jinho