Equilíbrio Precário


Encontrar o equilíbrio necessário para levar uma vida digna é das coisas mais difíceis que conheço. Por muitos planos que a gente faça, por muito claros que tentamos delinear os objectivos, na verdade o factor "inesperado" acontece. E isso tira o chão debaixo dos pés.

Sempre me ordenei pela lógica, não matando por completo o lado emocional, mas é muito mais fácil pensar de uma forma pragmática, porque não causa tantos amargos de boca. Levei sempre a minha vida em cima da corda bamba da vida dessa forma, me mantendo equilibrada  na linha e mantendo o meu olhar fixo na objectividade das coisas concretas.

Para reforçar o meu equilíbrio mental e físico, tinha por hábito sair de circulação por uns tempos...um par de meses em que ficava longe das pessoas, que me limitava ao meu trabalho e nas minhas diversões habituais: os livros e a música. Na maior parte das vezes isso contribuía para os meus textos mais intimistas, para um tempo de olhar de longe as coisas e tomar novas perspectivas do mundo. Foi um habito de anos seguidos...

Gente muito bem intencionada me dizia que esta atitude minha era estranha e anti-social, que as pessoas são gregárias e que precisam de estar umas com as outras. Não duvido dessa afirmação, mas pra mim há que ter um tempo comigo mesma. Há quem se satisfaça com apenas um fim de semana, uma semana talvez...
Mas esse tempo que eu ficava longe, dava pra recarregar energias e depois me lançar de novo na vida com todas as suas cores e sabores.

Já teve gente, que um dia em conversa, falando de mim para outros, despertou a curiosidade de terceiros, que depois disseram que gostariam de me conhecer pessoalmente. A resposta dada (que até achei piada) foi que : "Ahhh... a Rakel está na fase eremita dela, meditando no alto da montanha...tão cedo não sai de lá"

Só que teve um dia que decidi quebrar as minhas regras, aquelas que levei anos a formar, e deixei de ter esse tempo de qualidade no alto da montanha. Andei por aí dando o meu máximo em tudo, correndo de um lado para outro tentando apagar todos os incêndios que apareciam. Deixei que a vida me agarrasse com as duas mãos e me levasse por lugares mesmo desconhecidos..O inesperado me tomou  totalmente...e não dei tempo pra mim mesma, nem para encaixar e entender, nem para colocar a cabeça no lugar.

E assim, as decepções foram correndo umas atrás das outras, as minhas velhas máximas foram derrubadas sem mais explicações, as minhas verdades não foram abaladas... foram simplesmente deitadas fora. Não por mim... mas pelos actores desta peça louca que é a vida. E vi frases feitas e lugares comuns com a sua verdadeira cara: a da conveniência. Dificilmente encontro alguém que seja frontal e honesto nas coisas que diz. São actores não é verdade? Fazem o seu papel...

E juntando às decepções o cansaço físico e emocional... heis que cheguei à um ponto de que ou parava por uns tempos...ou nem meu corpo nem a alma aguentariam mais. E então fechei pra balanço.
Decididamente, depois de tantos anos a me conhecer como me conheço, já deveria saber que as coisas são como são. Que não há tanta gente assim iluminada por uma visão clara e limpa, que aquilo que falam  não é exactamente aquilo que pensam e que o meu tempo de qualidade é necessário.

Um par de semanas atrás, falando com amigos sobre essa situação, que me conhecem as facetas todas, minhas manias e maneiras de ser, ouvi a coisa mais inesperada que poderia ter ouvido:
"Sabes quando sumias do mapa, que ficavas no teu "retiro privado"? Tens que voltar a fazer isso de novo, de voltar as tuas meditações, de te encontrares outra vez e principalmente.. voltares às tuas origens."

Começar do zero.

Isso significa que tenho que voltar a sentir o equilíbrio dentro de mim, de fazer por me harmonizar com o mundo. Voltar a procurar a minha carapaça de protecção, vesti-la outra vez e torna-la mais forte. Colocar de novo meu lado pragmático a funcionar, deixar o emocional descansando por uns tempos, ou talvez anestesia-lo...ou deixa-lo num coma induzido. Não me serviu de nada deixar que meu lado emocional se sobrepusesse ao racional. Levei nas orelhas feito gente grande...

Aprendi bem a lição... a vida é feita disso mesmo: de julgamentos antecipados, de não se valorizar a beleza interior, de descartar...dinheiro e poder. A vida é uma Fogueira das Vaidades...infelizmente não levo jeito como actriz...
E assim, vou tirar um tempo com os meus livros, as músicas e em pensamentos pertinentes e voltar a me equilibrar na corda da vida...escrever, aqui ou nas folhas soltas que apanho a jeito. Olhar o mundo de fora, com a mesma visão pragmática que sempre tive. Equipa que ganha... a gente não mexe não é?
E vou voltar pro alto da montanha, tomando ar, clareando a cabeça e tomando novo fôlego pra voltar com mais força e certezas na vida.

E nunca mais faço experiências malucas destas....

Ficam aqui duas coisas que gosto muito de ouvir...






Apareçam

Rakel.

Comentários

  1. realmente deve ser muito bom poder fazer esse retiro.
    mas como é que se faz isso? tira-se logo o mês inteiro de férias? sai-se de casa pra outro lugar, longe de tudo e de todos? nesta altura do campeonato, dá pra tirar 1 mês de férias!!!
    ou o isolamento faz-se de outra forma, tipo espiritualmente?
    é que, eu gostava de fazer uma coisa assim, mas nada de cabaninhas no alto da serra, o conforto faz-me falta pra me sentir bem.

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  2. Dulce...olá!!! Eu não tiro um mês de férias, como kem faz as malas e some do lugar onde vive. É uma kestão de não estar socialmente tão disponível, de ficar mais tempo em casa, de pensar mais e reflectir mais. Sabes ke a gente arruma maneiras de não pensar nas coisas, de ter uma vida agitada para escapar dos pensamentos e auto análise.é justamente isso ke faço, paro com as saídas, paro com os encontros para um café e bate-papo e me deixo ficar com mais tempo para mim e para o ke preciso organizar.

    Bjos

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  3. Oi amiga!!!
    Sei o quanto te fazem falta esses momentos de retiro interior, e sei como vens renovada depois.
    Quero desejar-te um bom isolamento, que nós cá estaremos à tua espera.
    Só te peço que os tais escritos mais intimistas que eu sei que vais sempre escrevendo sejam colocados aqui no post para que possamos ter noticias tuas.
    Jinhos
    Catekista

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