Devaneios...


Ontem de noite, depois de uns engasgos aqui do Adérito, que acabou nas Urgências e feita um a cirurgia de emergência, me peguei na sala de espera em devaneios...

Pensei nesta situação de dependência electrónica em que vivemos, ou do vício em si. Pensei nestes dias ensolarados, e na minha visão acabou por surgir uma imagem fantástica que me ficou gravada na mente: a visão de uma pradaria pejada de papoilas... o verde e o vermelho misturado numa dança ondulante do vento, numa tarde de Maio. No caminho  à Vale de Lobos, meu primo parou o carro e descemos para ver esta simples mas fantástica imagem. Eu, acabadinha de chegar à Portugal, vinda de uma cidade onde o cimento, os carros e o barulho era o cartão postal...a visão desse campo e papoilas dançarinas se decalcou completamente na minha mente.

Vivi uns tempos na aldeia onde meus avós maternos moravam, no Alentejo. Aí, apesar do isolamento, tive a sensação de uma liberdade fora do comum. Era o tempo das portas abertas, dos passeios pelos campos, os assaltos (depenei uma amendoeira toda, tinham me dito que as flores eram doces...) às hortas e pomares, as idas à barragem a pé, empanturrar-me de amoras, colher flores do campo...e muita conversa com os meus botões.
Minha avó sabendo da minha paixão por flores em geral (herdei dela esse gosto), disse-me uma vez, que numa casa senhorial ali perto da entrada da aldeia, haviam camélias...e que tinha pedido permissão aos donos, para que eu fosse lá tirar algumas  :)

Essa casa me ficou no goto desde esse dia...os muros e o portão de ferro, as árvores frondosas, a relva, o espaço, o silencio... tudo me fascinou. A casa em si, nada de especial...mas se fosse minha...
Este é um dos meus grandes sonhos. Pegar naquela casa lá numa aldeia do Alentejo e torna-la na minha casa, no meu lugar. Não me interessa se não tem lá Shopping, se não tem cinema...ou a loja da moda. Mas tem tudo aquilo que acho que preciso. E até me vejo lá, reformando os móveis, pintando as paredes, fazendo dela a minha cara, o meu lugar. Os meus livros, meus filmes e a minha música.

A casa que há de estar sempre aberta aos amigos, com muito sol, música, finalmente um canto onde possa ficar com as tintas, pincéis e telas. Deixar que os animais que mais ninguém quer fiquem com um lugar pra viver. Eu sei, sou sonhadora e idealista... mal de todo aquariano...


Mas aí me lembrei de outro lugar que me caiu no goto.. o mais paradoxal de todos...um farol na beirada de uma falésia...
Digamos que tenho assim... alguns problemas com alturas. Do tipo que, os saltos dos sapatos chegando em 10 cm já dá vertigens...
Digamos ainda que, para eu dormir feito gente e não andar no dia seguinte chagando a cabeça dos outros, tenho que dormir completamente às escuras... breu total. Noite sem Lua.
Bom, um farol fica alto pra caramba, e aquela luz rodando a noite toda..não será realmente um bom lugar para dormir...só se eu trocar o dia pela noite... coisa que há muito tempo me anda a tentar.

Mas acho que preciso de uma vida mais simples, mais básica, menos complicada. E cada vez mais, sinto o apelo de voltar à aldeia dos meus avós, de voltar a percorrer os caminhos que fiz há muitos anos atrás, de me sentar numa pedra, olhando pra Serra, pra vastidão que se me apresenta na frente e um infindável céu, que não é interrompido por prédios, construções e janelas que nos observam.
Ou aquele farol... som do mar, que tal como eu tenho os meus dias bons e menos bons, ver essas mudanças nele...a possibilidade de ver a água beijando o céu, até onde a vista alcança...

Acho que tem horas que há algo a nos avisar que temos que mudar...

Não sei se esta, não será a minha hora....

Apareçam.

Rakel

PS: O Adérito, que em 6 anos nunca tinha sido aberto, trocado peças...estava com a ventilação toda entupida. Carradas de cotão lá metido, não deixando o 'tadinho respirar...já se encontra bem e de perfeita saúde.

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