Sair...



Não tenho tido mesmo tempo e disponibilidade pra escrever, daí esta pausa neste nosso blog. A vida de uma gaja como eu, que tem que tratar de um monte de coisas pra fazer pelo simples facto que mais ninguém trata, dá trabalho.

E eu, que sou uma alérgica a filas e esperas...não me dou bem com a coisa. Irrita-me uma ida ao banco, apesar de os funcionários serem prestáveis e bem conhecidos. É um das vantagens de morar numa cidade pequena, verde e pacata. Todo mundo se conhece, as pessoas se cumprimentam, há sempre tempo pra 2 dedos de conversa fiada e quando o dia está ensolarado até dá gosto.

Então mesmo que já saia de casa meio atravessada, porque tenho que me meter em filas de espera, aguentar cheiros corporais estranhos, ver ombros pejados de caspa...procuro sempre aproveitar os momentos bons de estar fora de casa.

Ando a pé, isso já toda gente se deu conta, embora por vezes beneficie das boleias da Stela, a maior parte das vezes ando mesmo a pé. E vou apreciando as pequenas pérolas que a cidade me oferece assim de graça.


Sair de casa e dar de cara com um pato, caminhando pela rua, como quem vai tomar um cafezinho e com aquele passo de quem vai com o MP3 arrolhado nos ouvidos...é o máximo! Essas coisas inesperadas, invulgares me chamam a atenção e me recorda que, se eu vivesse na minha cidade natal , São Paulo, esse pato já estaria depenado e devidamente cozinhado.

E gosto de prestar atenção ao que me rodeia, coisa que aprendi com uma amiga apaixonada pela fotografia, na época em que vivi em Santarém. Com a Sabine aprendi a olhar para cima, para as janelas e alvenaria,  para as estátuas colocadas junto aos telhados, para os candeeiros antigos e as escadas de pedra. E acabei por descobrir coisas que passava por elas sem as ver. Muitas vezes saíamos em grupo, onde a Stela entrava também e muitas vezes paramos o transito... porque a Sabine se deitava no chão para uma foto especial...

Foi aí que eu me dei conta que a gente vê sem olhar, sem prestar a atenção devida às coisas. Mais ou menos como a gente faz com a vida, passando por ela sem se dar conta dos pequenos detalhes que lhe dá sabor e uma boa lembrança. Viver correndo, olhando só em frente e nunca para os lados...muito menos para cima. Os olhos se fixam sempre no em frente, a nossa mente se fixa numa meta em linha recta e vamos seguindo, em passo acelerado. Eu decidi há muito tempo desacelerar, e começar a apreciar o caminho.

E foi assim que me dei conta de uma galeria de arte na cidade, de uma loja no vão de escada onde vende música alternativa e recantos com janelas floridas e pintadas de fresco... ou então ficar maravilhada ao ver bocas de lobo cor malva nascendo e florindo numa rachadura da parede de uma casa. Há beleza em lugares inesperados, mas escondidas do olhar apressado de quem anda sem ver. E no meu passo do dia a dia, vou apreciando estas pequenas coisas que acabam por me colocar um sorriso na cara, mesmo depois de ter enfrentado uma fila, mesmo depois de ter esgotado a minha paciencia com a incompetência de uma funcionária pública lerda e lesada mental...que elas há... há!!

Isso não quer dizer que deixei de ter objectivos na vida, muito pelo contrário...tenho-os bem acertados  na minha cabeça, mas decidi não correr para eles. Há tempo para tudo, hora e momento.

E eu sei lá se de hoje para amanhã, não me cai um meteorito no meio da pinha e vou desta pra outra, e tudo que levo desta vida, são as minhas lembranças, os sabores, as cores e sensações. Os amigos de sempre, os novos, os sons e o riso. Porque caixão não tem gavetas, não levo mais nada do que eu mesma. Não pensem que isto está a descambar pra um assunto trágico/dramático... é a penas a constatação de que a vida é curta demais. e não vou deixar que o meu riso se perca, que a minha fascinação se acabe por causa de pequenos obstáculos que a vida coloca na nossa frente...pra nos alertar, que ela é curta.

Apareçam

Rakel

PS: Já agora aviso que se quiserem me dar flores :) que seja agora que estou viva e posso aprecia-las...porque depois de bater a bota..é desperdício...




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