Tem dia para tudo: do pai , da mãe, do ambiente, dos animais, da água. Comemorações, discursos falatórios e muitas intenções que acabam nisso mesmo, só em intenções.
E como nasci do contra mesmo, e já recuperada , mais ou menos, da enxaqueca, cá estou eu pra falar desta condição várias vezes comemorada no calendário. A condição feminina. Sem essa conversa de feminismo militante raivoso e mal amanhado. É da condição mesmo de ser mulher.
Não vou falar dessas aí de cima , sobejamente conhecidas e sem necessiade de qualquer explicação para as suas vidas. Todas cheias de qualidades, mas também com defeitos.
Quero falar a mulher anonima, aquela que não é capa de revista, que não manda no parlamento, nem é figura de destaque no telejornal. Falo da mulher comum, que nada de comum tem.
Uma das capas de revista que mais me deu raiva, for ver aquela que falava de uma actriz, chamada de "mãe coragem", por estar grávida e com cancro. Quantas mães coragem como ela existem por aí? Quantas que sem muitos meios finaceiros, se veem presas ao sistema nacional de saúde português, lento, lotado e muitas vezes pouco dotado de meios? Quantas que não tiveram que fazer das tripas coração e seguir em frente na tentativa de sobreviver para que vivesse o filho que tinha na barriga? Muitas, digo eu.
Ou então, o drama de uma outra senhora famosa que perdeu mais um filho num aborto expontaneo, que escolheu até mesmo o sexo dessa criança...que já não vem? E nisso posso falar na primeira pessoa. Perdi o meu primeiro filho, muito desejado. E depois, como dependente do serviço nacional de saúde, dou de caras com um médico que me diz na lata que jamais poderia ter filhos. Mas tive,(teimosa como sou?) dois lindos rapazes que me põe a cabeça em água como me enchem de orgulho e risos. E não fui capa de revista. Nem eu nem as demais que faziam parte das gestações de risco do hospital, um grupinho maior do que muita gente pode imaginar, mas muito corajoso e esperançoso.
Nós, as mulheres que não são famosas, que não somos referencia da moda e de habitos para ninguém, aqui estamos, todos os dias na luta. E é mesmo uma luta. O trabalho fora de casa, dentro de casa, os filhos, a família em geral, a luta contra um sistema caduco e repetidamente falho faz parte da nossa vida.
Somos um plural, mães, mulheres, enfermeiras, professoras. Limpamos, curamos, cozinhamos e provemos as necessidades da família, com ou sem ajudas. E muito poucas vezes vemos o nosso trabalho visto com mérito. Não há mérito em trabalho não remunerado. É visto como uma obrigação. Mas eu ainda estou pra saber, que raio de papel assinei eu que dizia que só eu, mais ninguém era responsável por tudo isto!!! Sinceramente, acho que apenas um papel que nos deixam no colo e que a gente aceita sem se dar conta disso...
Tem dias que acordo e me sinto bem na minha pele de mulher, mas tem outros...que á vontade de perguntar, que raios fiz na última encarnação pra ter que vir nesta numa vida de mulher.
Mas depois me passa. As minhas feses de mau humor passam rápido. Mas não deixo de pensar, que nós as mulheres só somos lembradas nas datas específicadas pelo calendário. E eu detesto imposições. Mas adoro que me surpreendam. Todo dia é dia, seja pra lembrar da mulher, mãe ou avó, assim como da água, da natureza e de todas as coisas que teimam em comemorar em dias certos.
E pelo amor de todos os deuses e orixás...panelas e aspirador não é presente para uma mulher...
Haja imaginação
Apareçam
Rakel
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