Falar do Amor - Rakel




Falar do tema que cantam os poetas, que os pintores imortalizaram nos seus quadros, os músicos tocaram e até os cientistas tentam explicar seu funcionamento é assustador? Psicologos, antropologos, todos querem dar o ar da sua graça com uma opinião estudada e esmiuçada. Por isso me pergunto: "Porque cargas d'água não poderei dar também a minha opinião"??

Posso e vou dar.

Mas a bem da verdade, tenho que confessar: acredito no amor.Não sendo essa uma base credível por si só, para mim é quanto baste. Digo que não é credível, pelo simples facto que tenho o mau hábito de acreditar em coisas que mais ninguém acredita, ou diz que não acredita. Por isso, a falta de credibilidade.

Também devo de dizer que tenho a minha visão particular do amor. O que torna as coisas ainda mais complicadas. Por isso, por mais disparatadas que sejam as minhas opiniões, sinceramente, não estou nem aí, são minhas. É a minha visão da vida, o resultado da minha vivência, dos meus dissabores e vitórias. E vou falar uma coisa bem a sério. Amor é muito abrangente e ao mesmo tempo algo de muito particular.

Aqui vamos então:

Querendo ou não, amor é como gelado: tem vários sabores , mas no fundo acaba por ser só e tão somente gelado. E vendo bem esta alegoria, a gente come gelado por prazer, calor, consolo, gula, vontade e todas as desculpas que quisermos dar. Porque a gente arruma desculpa para tudo. Para o que sente, o que quer, o que se deseja. Não se assume de forma frontal e segura aquilo que queremos. Porque a sociedade, a moral e a religião nos ditam aquilo que gostam e esperam de nós. Esse paternalismo besta é que me corrói. Mas adiante.

Dividiram e subdividiram outra vez o amor em categorias, numa forma de encontrar nas suas sub-classes uma explicação aceitável e respeitável, que agradasse os moldes da sociedade. O amor fraternal, pelos filhos, pela família é plural. Aceitável e bem visto. Chega-se então no relacionamento homem - mulher e aí a coisa pia fino: só um e uma. A sociedade não aceita, embora, durante milénios tenha-se baseado na poligamia. Apenas os problemas económicos forçaram o desaparecimento da poligamia. Depois a moral podre cristã, no apogeu da Idade Média resolveu encaixar nos moldes do Pecado o amor plural. Como a base da família era: um trabalha para sustentar muitos e muitas...na Idade Média isso acabou. Um sustentava uma...e mal, pra dizer mesmo, pior que mal.
Daí que acredito seguramente que o amor não TEM que ser uno, apenas direccionado para um único homem ou mulher. Porque as pessoas são como gelados. Diferentes.

Pronto, não vejam as coisas pelo lado consumível, vejam pelo lado de variedade.

O amor é algo que dá trabalho, exige alguma atenção, e daí o facto comprovado que ele morre, acaba. Porque mais de uma vez, ditaram normas e regras para amar. Tem que viver na mesma casa, tem que casar, tem que falar sem vontade, tem que fazer amor sem vontade. O TEM é que estraga tudo. Amar , respeitar e obedecer até que a morte nos separe. Isso não é uma promessa, mas sim uma maldição. O casamento é o fim do amor e do romance. As expectativas criadas numa vida a dois acaba invariavelmente em cedências, desmotivação, desrespeito e rancor. E mais uma vez criamos uma data de motivos e circunstancias para justificar a permanência neste inferninho que nós mesmo criamos e vivemos: filhos, família, falta de coragem e acomodação. Até que a morte ou o divórcio nos separe.

Mas a gente insiste em arrastar o cadáver do casamento sem amor durante um longo trajecto apenas como forma de tentar reanimar aquilo que já deu o que tinha a dar. Mas isso é bem visto socialmente, significa que se está a tentar salvar o sacrossanto casamento, procurar aquilo que os uniu do começo. Besteirada.

Na minha visão, amor e paixão são coisas inexplicáveis e  imparáveis. Sentem-se e por muito que se reprima, se afogue e se negue, está ali, todos os dias acenando para nós e não deixando esquecer que existe.
E como vivemos nesta sociedade hipócrita, judiciosa e sentenciosa, nos moldamos à ela, mesmo que isso vá contra a nossa própria natureza, reprimimos e sufocamos os sentimentos. Até o da derrota.

Acredito no amor sim, sei que ele faz sofrer bastante, que nos deixa de cabeça perdida, nos exaspera, nos excita, nos impele e nos completa. É isso, mas, antes sentir isso tudo do nada sentir. O embotamento de sentimentos, a ausência completa deles é triste. Vazio. Nada.

Infelizmente, quando amamos, tentamos de qualquer forma fazer que isso dure o maior tempo possível. O pior de tudo, é quando usam os nossos sentimentos como arma para nos magoar...e deixamos que isso aconteça. E criamos uma carapaça, com uma imagem de certezas e hábitos próprios de quem finge. Para salvaguardar um modelo estereotipado de vida à dois que já se finou e espera o velório e enterro digno.

Dizer que não se acredita no amor, apenas como protecção contra dores e males...é covardia. Pura e simples. Ou só porque não deu certo. E não dá certo porque? As tais das expectativas que a gente cria, as promessas que se fazem, as besteiradas que se dizem em nome dum momento de paixão e calor. A gente precisa assumir que nunca se devem fazer promessas de coisas que sabe que não será capaz de cumprir. E mais, ser capaz de ter dois dedos de testa para não acreditar em promessas. Quem quer fazer faz, sem promessas, coações, trocas ou objecções. Faz.

E pelo amor de todos os deuses, há uma grande diferença entre atracção física e amor. E tem gente que confunde os dois e se diz apaixonado. E estraga tudo, porque o sangue não irriga o lado certo do corpo: a cabeça.

O amor, é simples. Nós, com este cérebro cheio de neurónios, hábitos e costumes é que complicamos tudo. Fazemos questão de estragar tudo com promessas, crenças, juízos de valores e mais umas quantas coisas que de razoáveis nada tem.

E pra ser franca, acho que não há coisa melhor do que amar...a não ser, ser amada/do. Amar e estar apaixonado/a é um escândalo, um fogo de artifício interno. Medo e excitação, uma montanha russa enorme, que a gente tem medo no começo, mas que depois...meus amigos...a gente não quer sair de lá. Tem tudo, é uma caixa de lápis de cor, embora todos insistam em só usar uma cor. A caixa cheia delas, mas a gente segue a regra de não pintar os coelhos de azul, ou o céu de verde.
Amor não obedece espartilho, sufoca na gola alta, se abafa no xaile e se exaspera na cinta. Amor é andar nu, de preconceitos, promessas e conceitos. É despirmos a alma, mas mesmo assim, respeitarmos os segredos. É egoísta, orgulhoso, pecaminosamente delicioso. Não tem hora, é inconveniente e avassalador.

Existe e acredito nele, sem modismos, sem limites ou até retorno. Mas é o Caldo Knorr desta vida.

Apareçam

Rakel



Comentários

  1. Por falar em Amor, a menina se fosse um animal, seria um pássaro?

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  2. Um animal??Hummm... cheira-me a teste psicológico...mas se tivesse que escolher um animal, seria um gato. Gato sabe bem tomar conta de si mesmo, pode ser pacato e carinhoso, mas qdo preciso sabe mostrar as garras...

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  3. (só podia, não deve haver animal mais curioso ;)

    e se um dia tivesse que abdicar das suas caracteristicas felinas (isto com um pássaro dava mais jeito...) para poder consumar o amor da sua vida? Ou seja, deixar de ser gata para poder amar o homem da sua vida. Que faria?

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  4. Já fui passarinho, me deixei engaiolar e me perdi um pouco. Por isso a metamorfose de gata. Aprender a levantar defesas só acontece qdo precisamos de nos proteger.E por enqto, jogo à defesa.

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  5. Não é teste psicológico, é apenas para ver se realmente sabe o que é o amor. A maioria das pessoas diz que sim, que abdicaria das asas(se fosse pássaro) para poder ficar com a pessoa que ama. Mas se a outra pessoa tem verdadeiro amor, nunca aceitaria da outra tamanho sacrificio. Isso sim, seria uma verdadeira prova de amor. Nunca deveremos deixar de ser quem somos por amor. É a regra número um para um bom relacionamento.

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  6. Seja um pássaro, um gato, uma pessoa, é sempre mais bonita, genuína, e alegre quando livre...

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  7. Aí estamos a falar na mesma coisa e concordo plenamente. E como já fiz a asneira de me deixar levar uma vez, não tenho vontade de fazer a mesma coisa assim de graça.

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